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Fragmento do poema A insônia do mar
Everaldo Moreira Véras (1937 - 2011)
Oh, Deus, não reserve nada para mim!
Já estou completo:
dores,
amores,
temores.
Não me acrescente:
no túnel não sobra
lugar para nada.
O vão se abriu e a chaga fechou
(por favor, não mexa aí).
Oh, Deus, não reserve nada para mim!
Entregue tudo aos outros
(eles não sabem quem são)
e dependem
e sofrem
e não sentem que sofrem.
Entre todos divida o meu:
em cada prato mais pão,
em cada copo mais vinho.
Oh, Deus, não reserve nada para mim!
Reproduza amanhã
a ceia que vi ao meu redor, hoje.
Transforme o instante
em longa vida,
garantindo luz
e eternizando gestos.
Quero o riso, a alegria e a festa.
Também a mesa farta e grávida.
Faça-se daquele jeito e mais.
Repita-se a noite e sempre.
Cante-se o hino e a prece.
Mas,
Oh, Deus, não reserve nada para mim!
Nesse tempo,
eu mesmo não mereço:
porque o mínimo (embora pouco)
seria injusto.
Oh, Deus, não reserve nada para mim!
Fonte: Portal Antonio Miranda
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