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Francisco Miguel de Moura em Dose Dupla
A FLOR E O LIVRO
Acordei cedinho. Uma flor me viu,
flor que me dera seu primeiro beijo.
O sol ia alto. Apressei pra livrar-me
dos raios, e a flor dos meus dedos caiu.
“Eu sou uma flor, esqueça meu cheiro”.
mas ao lugar do crime a gente volta.
Na seguinte manhã, a mesma flor!
pra meu espanto, solitária e triste.
então a apanhei da beira do caminho
e a beijei, e o fiz sem reconhecer.
Ah! Que maldade a natureza trouxe!
Enquanto os vegetais nos fazem o bem,
nós animais – “tidos por perfeitos” –
tudo esquecemos... Até a flor e o beijo!
Ela chorou, chorou, lembrei seu cheiro
e me voltei em lágrimas e enleios.
E agora a guardo, para o meu carinho,
quando voltar às páginas que leio.
Oh! Guardarei o livro para sempre
e o grande amor que a florzinha me deu!
Agora, todo dia, eu abro aquela página
e ela está me olhando. E lá estou eu.
BALADA DO ESQUECIMENTO
Esquece, por enquanto o mundo não te conhece,
Não há razões para abraçá-lo com tanta força.
Esquece que nasceste como milhões por dia,
Esquece quem te amou perdidamente um instante,
Pra depois esquecer-te e dizer: “para sempre”.
Esquece que te quero, mas não sei até quando,
Esquece tudo que cantaste e que o outro chorou:
Lágrimas não valem nada, nem o rosto que molha.
Senta-te no batente de tua casa e vê nascer o sol,
Quando levanta quente e forte, com força e luz.
Senta-te à tarde e vê que ele se põe no horizonte
E, ao contrário da vinda, nem te viu... Ofuscou.
Mas não te esqueças da lua quando vem cheia
Apaga tua sonolência e depois enche-te os olhos...
Com a madrugada fria, quando pela primeira vez
Bebeste um gole de tristeza, de saudade e dor,
Por aquela que te disse: “Amo-te eternamente”!...
E depois desapareceu... Morta ou viva, que importa?
Não importa: O tempo não corrói, o tempo corre
E é sempre o mesmo que te assanha a cabeleira
E sibila ao teu ouvido: - “Esquece, esquece tudo,
Que eu não volto mais”!...
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