Augusto e o boêmio Dourado |
Os saudosos Dourado e Dom Augusto da Munguba, vistos pelo talento de Gervásio Castro |
Furna da Onça
Elmar Carvalho
Por ocasião da Expedição ao Sertão Colonial, na velha Oeiras,
disse ao amigo José Augusto Nunes, ex-presidente da Agespisa, que, muitos anos
atrás, quando passava por Oeiras, em viagem de fiscalização da SUNAB, a caminho
de São João do Piauí ou São Raimundo Nonato, ao ver o bar Furna da Onça, me
dava uma vontade de tomar uma dose da “branquinha”, mas nunca o fiz. De sorte
que esse meu pequeno sonho de consumo ficou mesmo como apenas um sonho
frustrado e nada mais. Me respondeu ele que eu ainda iria realizar esse desejo,
embora hoje a Furna tivesse cerrado suas portas. Agora, recebo dele o seguinte
e-mail, pelo qual constato que jamais matarei essa minha vontade:
“Conheci Martinho muito cedo. Desde a época da sua labuta no
campo, no bar que montou e fechou, por não suportar ébrios cuspindo no seu
ambiente. Na eleição que tio João Nunes perdeu para Valdemar Freitas, elegeu-se
vereador do município de Oeiras. Presenciei acalorados debates, no espaço
reservado à Câmara, na antiga prefeitura situada na praça Costa Alvarenga.
Martinho era sempre muito sereno, lúcido e seguro em suas afirmações. Em 1993,
quando também me elegi vereador, pude conviver mais de perto com ele por
intensos 04 anos. Foi um tempo de muito aprendizado. Certa vez, ao encontrá-lo no gabinete da
presidência da Câmara, disse-me que os maiores problemas que enfrentamos na
vida são sempre os caseiros. Isso é
verdade, ele tinha razão! Desde quando iniciei o meu mandato de vereador, nunca
mais me distanciei de Martinho. Sempre
que ia a Oeiras, era certo encontra-lo na calçada de sua casa para uma prosa
agradável, mesmo se tratando de um homem de poucas palavras. Educou, formou
filhos e também sofreu a dor maior de um pai ao perder dois deles precocemente.
A partida do Martinho, para o encontro com o pai celestial, deixa um vazio para
toda cidade, especialmente para a família e amigos. Amigo como eu, que não o
encontrará mais na sua calçada, olhando para a bela paisagem do café Oeiras,
coreto e cine teatro. Doravante terei
de me acostumar sem as suas lições. Saudades, Martinho.”
Respondi ao prezado fidalgo José Augusto Nunes da seguinte
maneira:
“Caro amigo José Augusto (e aqui me lembro dos dois José
Augusto, o velho e o novo, cantores de minha admiração, tanto pelo repertório,
quanto pela voz, que ouvi tantas vezes em disco de vinil, nas velhas
"radiolas" de outrora.
O novo já ficou velho, assim como eu estou ficando ou já
fiquei, e o outro partiu para o infinito e para a eternidade, há muitos anos,
precocemente.
Ainda haveremos de desbravar a Furna da Onça, para tomarmos
uma boa talagada de uma excelente calibrina, oportunidade em que daremos uma
discreta (ou não tanto) cusparada no pé do balcão.
Eu já tive a minha "furna da onça", em Parnaíba.
Era o bar do comandante Augusto, que ficava no bairro Munguba, perto de onde
"as águas podres da vala da Quarenta tomam banho nas águas puras do
Igaraçu", como disse num de meus poemas.
Nesse boteco apenas eram tocados
os velhos bolachas de borracha, mas exclusivamente pelas mãos do Augusto, que
tinha ciúme de sua vitrola, e principalmente de seus discos. Escrevi um poema
sobre esse saudoso bar, que segue abaixo.”
Eis o soneto a que me referi:
BAR DO AUGUSTO
Elmar Carvalho
No bar do Augusto
o passado era sempre presente,
e o futuro a Deus pertence.
No Recanto da Saudade
de outra dimensão do espaço-tempo
o Dourado continua a vestir a fantasia
de a sua própria pessoa ser ou não ser
heterodoxos heterônimos pessoanos.
Onde, agora, o Augusto?
Onde, agora, a vitrola, a música e o bar?
Como nos versos sublimes de Bandeira,
ficaram de pé, suspensos no ar. . .
Encantados no destempo de um tempo
sem passado, sem futuro, sem presente.
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