sábado, 14 de setembro de 2019

Piauienses no jornalismo brasileiro do século XX

Félix Pacheco. Fonte: Wikipédia/Google


Piauienses no jornalismo brasileiro do século XX

Daniel C. B. Ciarlini
Escritor

A história do jornalismo no Brasil não pode prescindir de avaliar o devido lugar e importância de sete piauienses que, em diferentes períodos históricos do século XX, escreveram seus nomes no periodismo nacional. Cada um em uma esfera de interesse; três teresinenses e quatro parnaibanos: Félix Pacheco, Mário Faustino e Carlos Castelo Branco; e Berilo Neves, Martins Castelo, Assis Brasil e Renato Castelo Branco.

Félix Pacheco, tendo seguido a carreira política, foi um dos empresários que tinha a imprensa como tribuna e promoção. Apesar de ter migrado para o Rio de Janeiro no final do século XIX, foi na década de 1920 que se tornou chefe de redação, dirigente e um dos proprietários do Jornal do Comércio – folha das mais influentes e importantes do Brasil. No campo literário, traduziu e estudou Baudelaire, foi poeta de vertente simbolista e o primeiro piauiense a alcançar a imortalidade simbólica na Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de número dois.

Berilo Neves, menos prático, fez do periodismo espaço de atuação literária, tornando-se cronista e contista dos mais lidos do país, e um dos autores fundantes, no Brasil, da ficção científica, que em sua acepção moderna legou nomes como Jerônimo Monteiro, Menotti del Picchia e Monteiro Lobato. Até a metade do século XX, mantinha-se seguramente como o escritor piauiense mais fecundo da imprensa brasileira.

Embora a carreira nas letras tenha iniciado em 1921, quando participou da redação do jornal A Boa Semente, de Parnaíba, foi por volta de outubro de 1924 que Berilo estreou na imprensa carioca, viabilizando sua assinatura nas mais importantes revistas ilustradas da época, como Careta, Revista da Semana e O Malho, periódicos redigidos por conhecidos escritores da literatura nacional.

Martins Castelo, por sua vez, além de poeta foi cronista radiofônico de larga audiência e jornalista de atuação internacional, compondo o seleto time de redatores de algumas folhas do meio carioca, a citar Vamos Ler!, Carioca, Diário Carioca, A Batalha, Light, Beira- -Mar e Noite Ilustrada. Foi ainda tradutor, compositor e publicou na imprensa contos sob a rubrica de seu principal pseudônimo, Mário Castellar.

Em sequência, Mário Faustino, poeta que nos anos de 1950 levaria a poesia piauiense ao periodismo das principais cidades do Brasil, assinou durante alguns anos a coluna “Poesia-Experiência”, no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, dirigido por Reynaldo Jardim – caderno de grande valor à crítica, principalmente por lançar diagnóstico da vida literária brasileira entre os anos de 1956 e 1961. Nesse mesmo periódico, Francisco de Assis Almeida Brasil sairia do anonimato com a coluna “Ficção”, tornando-se em pouco tempo romancista premiado.

Renato Castelo Branco, outro romancista piauiense de grande valor e prêmio, se tornou empresário no setor da propaganda, ocupando o posto de presidente da agência publicitária J. Walter Thompson. Sua atuação rendeu referências em importantes jornais como Diário Carioca, Jornal do Comércio, Diário da Noite, O Jornal, Jornal do Brasil etc. Além disso, era respeitado e bem quisto pela intelligentsia brasileira, que não economizava elogios ao seu nome. Gilberto Freire, por exemplo, o definia como “pesquisador honesto e lúcido”, quando do lançamento do ensaio Piauí: a terra, o homem, o meio (1970). Como poeta, gênero cultivado desde a juventude, Renato teve alguns de seus poemas traduzidos para o italiano e reunidos na coletânea Poesia del Brasile d’oggi, organizada por Renzo Mazzone e publicada na Itália em 1968.

Por último, Carlos Castelo Branco, filho do escritor Cristino Castelo Branco. “Castelinho”, como era conhecido, se tornou o jornalista político mais importante de sua época, tendo acompanhado todo o período de ditadura no Brasil. Seus posicionamentos em prol da liberdade e da democracia valeram a morte de um filho, Rodrigo Lordello Castelo Branco, em 2 de maio de 1976, suposta vítima de um acidente automobilístico em Brasília. Como informa o jornalista Carlos Marchi, que conviveu e estudou a história desse piauiense, “sua persistente pregação democrática constrangia a ditadura e irritava o seu pior lado, a linha dura”.

Antes de jornalista combativo, na juventude Carlos enveredara pelas linhas literárias, produzindo contos, alguns publicados no ano de 1948, na Revista Branca, fundada pelo escritor carioca Saldanha Coelho. Sempre atuante, angariou o respeito e a admiração de nomes do meio político e cultural, dentre eles o ex-presidente João Goulart (seu amigo) e o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. No auge dos 61 anos de idade, em 4 de novembro de 1982, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tomando posse, no ano seguinte, da cadeira de número 34. Foi o segundo piauiense nessa instância de consagração.

Fonte: Correio do Norte   

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