quarta-feira, 25 de setembro de 2019

TERRAPLANISMO, PRESTIDIGITAÇÃO E HIPNOSE



TERRAPLANISMO, PRESTIDIGITAÇÃO E HIPNOSE

 Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Se alguém puder, ou quiser, que me desculpe, mas não consegui deixar de rir quando, à procura nos dicionários da língua portuguesa, mesmo nos informais ou virtuais – na imprensa não me meti na busca, porque, claro que não foi ela que a criou, os neofilósofos e outros iluminados é que o fizeram, mas propagou a estranha ideia do que tal vocábulo quer conceituar –, da palavra terraplanismo ( absurdo e espúrio neologismo que, tanto quanto os dicionários mais sérios e respeitáveis, meus editores de texto, também não a reconhecem, tanto que, na lavratura de este texto, a pintaram de cores diferentes das atribuídas a um termo reconhecido pela gramática), em determinado “site”, um comentarista, ironicamente, disse, ou melhor, escreveu o seguinte: “... na verdade, a crença no terraplanismo tem crescido tanto que já há terraplanistas ao redor de todo o globo.

                Vi-me obrigado a voltar aos meios de informação vernacular para corroborar o que sabia e acrescentar o que desconhecia a respeito do significado semântico-etimológico da locução adverbial “ao redor”. Lá encontrei as seguintes acepções: “espaço que rodeia algo ou alguém”; “em torno de”; “à volta de”; até mesmo como sinônimo da bela palavra circunjacente. Em síntese, “ao redor” quer referir-se a algo que está do lado de fora, externamente, próximo, ou distante; jamais em cima ou embaixo daquilo de que se avizinha. Logo, para que houvesse terraplanistas ao redor da Terra, ela precisaria ser um globo, um corpo esférico, não uma lâmina em formato de disco, cujo derredor ou lado externo às suas margens seria, necessariamente, o espaço cósmico, o infinito.

                Como não é assim que pensam os que dizem ser a Terra semelhante a um disco de vinil, ou a uma peça chata e circular, considerando-se a lei da gravidade e se desconsiderando os movimentos de rotação, como se aprendeu a tomar este: a Terra girando sobre o próprio eixo, e translação, ela circulando a órbita solar, movimentos, esses, em que eles não acreditam - tais figuras, a propósito, parece loucura, descreem que haja outros planetas universo afora, mas creem que existem um sol e uma lua, na forma de pequenas esferas, situadas bem pertinho de nós, e que, conforme deslocamento da nossa estrela, ocorrem os dias em determinada parte do disco e, em outra, as noites; ou seja, acreditam, ainda, os terraplanistas em uma espécie particular e exclusiva de geocentrismo, nosso solzinho girando em torno da Terra -, independentemente da espessura que possa ter o disco terrestre, todos os seres, elementos, substâncias ou que tais, ocupariam sua parte superior ou se incrustariam no seu interior, dentro dela; nunca, jamais ao seu redor ou derredor, pois ali estaria a escuridão e o nada.

                Pois bem, para leigos e iniciados que queiram prestigiá-la, dizem que será realizada em São Paulo, dias dez e onze do mês novembro de dois mil e dezenove – a menos que não surjam interessados em quantidade suficiente para garantir o evento -, a primeira convenção nacional sobre terraplanismo.

                Um aparte: fosse eu o mentor da ideia, teria acrescentado um subtítulo: Terraplanismo, prestidigitação e hipnose. Explicar-me-ei. Ou, complicar-me-ei, já, já. Do ponto de vista racional e lógico, não posso conceber, muito menos aceitar, que filósofos, ufologistas, ministrantes, palestrantes e participantes da convenção, por mais crentes, cultos ou intelectualizados que possam ser, consigam, uns, aceitar e, outros, incutir na mente dos presentes que a Terra tenha o formato de um disco de vinil e que, portanto, todas as fotografias feitas do planeta, desde as mais simplórias das acanhadas câmeras fotográficas de  antanho, às de alta tecnologia ótica, instaladas nos satélites espalhados pela troposfera, mesosfera e arredores espaciais, aos potentíssimos telescópios construídos nas mais distantes e soturnas regiões do planeta, são falsas, como falsas também são todas e quaisquer teorias que procuram explicar por que a terra  é redonda, esférica, em um formato meio irregular de globo.

                Para encerrar. Na verdade, chego a imaginar que mesmo com o auxílio de prestidigitadores e hipnotistas, ou seja, com intervenções mágicas ou hipnóticas durante os trabalhos, muitos dos que chegarem à Convenção convencidos da veracidade de essa lorota de terraplanismo, diante da escassez ou  ausência, de explicações e informações fáticas, sérias e críveis disponibilizadas, dela sairão decepcionados, em razão do tempo perdido sem nenhum ganho intelectual, ou satisfeitos, pois voltaram ao estado normal de sanidade mental, conscientes de que a Terra é um planeta na forma de globo esférico, como há muito se dizia, que gira em torno do próprio eixo, e ao redor do sol, o verdadeiro astro-rei que nos ilumina.   

3 comentários:

  1. Como disse certa vez o prefeito da Parnaíba, Mão Santa: a ignorância é audaciosa. Nestes tempos "internéticos"(termo muito usado pelo coordenador do blog), tem nos aparecido cada ideia amalucada que me deixa com aquela sensação de que, à falta de competência para criar ou fazer algo verdadeiramente importante, certos indivíduos passam a contestar descobertas sobejamente comprovadas como esta do formato da terra.Dias atrás negavam enfaticamente que o homem tenha chegado, e desembarcado, na lua. Ou eu paro de ver essas besteiras que veiculam pelas redes sociais, recolhendo-me em uma caverna da Serra do Creoli, lá no meu Curador, ou vou acabar acreditando que ainda estou dormindo no útero da minha mãe, nunca tendo, portanto, colocado a cabeça para fora de lá. E mais, que a minha vida aqui fora não passa de um longo sonho que logo será desfeito quando efetivamente vier à luz.

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