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SATURNO
Elmar Carvalho
Poema épico moderno, inspirado
no meretrício Zona Planetária, de Campo Maior, em que procurei mesclar a
mitologia greco-romana, a astronomia e a sociologia dos cabarés. Na Zona
Planetária cada um dos lupanares ostentava na fachada o nome e a imagem de cada
um dos planetas, entre os quais Saturno e seus anéis. Irei, no blog, publicando
cada uma das dez unidades desse relativamente longo poema.
Devorador voraz de pedras
e de filhos, Saturno, o
tempo,
tudo consome e consumia,
e esculpe as volutas das
rugas
nos vulneráveis rostos dos
mortais.
Devorador do que (filhos)
produzia
é usina que se retroalimenta
de sua própria (filhos)
produção.
Saturno sim, soturno não,
nas
saturnais de venturas e
alegrias se esbaldou
e a bandeira do gozo e do
riso desfraldou.
Os túmidos seios de Ceres,
sua filha,
são maçãs e laranjas e suas
orelhas são conchas ou
cornucópias
de onde os frutos da terra
se espalham.
Do céu expulso, o Lácio
habitou,
e na acolhida de Janus e em
seus múltiplos rostos se
encontrou.
Nas várias sendas que o báculo
de Janus apontou, os
caminhos da
vida palmilhou, e com a
chave
de rei e inventor de portas
as muralhas do tédio destrancou.
Na Zona Planetária, Saturno
levita
– leviatã imenso e pouco
denso –
com sua cortina de nuvens
e de substâncias vaporosas
– vapores de rosas das
mulheres
que dependurados nos dedos
os anéis de Saturno
conduziam
os anéis que cintos as
cinturas delgadas abraçavam
os anéis que brincos nas
orelhas dependurados
eram aros, eram elos, eram
Eros.
Por vezes o anel de crepe
de Saturno
é dois anéis nos dedos dos
viúvos e das viúvas.
Nos anéis de Saturno os elos
são rompidos
no simbolismo redundante da
falha de Cassini.
A volúpia e a beleza
habitam
as tetas tesudas e a popa
polpuda
popozuda da potranca deusa
Tétis,
satélite de fero/belo/ero
movimento.
A subversão e o inconformismo
se insurgem
no retrógrado movimento de Febo,
lua rebelada contra as normas
do Planetário.
E Saturno, o tempo, a tudo
devora, deteriora e
desafia.
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