quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A Zona Planetária - Saturno

Fonte: Google


SATURNO

Elmar Carvalho

Poema épico moderno, inspirado no meretrício Zona Planetária, de Campo Maior, em que procurei mesclar a mitologia greco-romana, a astronomia e a sociologia dos cabarés. Na Zona Planetária cada um dos lupanares ostentava na fachada o nome e a imagem de cada um dos planetas, entre os quais Saturno e seus anéis. Irei, no blog, publicando cada uma das dez unidades desse relativamente longo poema. 

Devorador voraz de pedras
e de filhos, Saturno, o tempo,
tudo consome e consumia,
e esculpe as volutas das rugas
nos vulneráveis rostos dos mortais.
Devorador do que (filhos) produzia
é usina que se retroalimenta
de sua própria (filhos) produção.
Saturno sim, soturno não, nas
saturnais de venturas e alegrias se esbaldou
e a bandeira do gozo e do riso desfraldou.
Os túmidos seios de Ceres, sua filha,
são maçãs e laranjas e suas
orelhas são conchas ou cornucópias
de onde os frutos da terra se espalham.
Do céu expulso, o Lácio habitou,
e na acolhida de Janus e em
seus múltiplos rostos se encontrou.
Nas várias sendas que o báculo
de Janus apontou, os caminhos da
vida palmilhou, e com a chave
de rei e inventor de portas
as muralhas do tédio destrancou.
Na Zona Planetária, Saturno levita
– leviatã imenso e pouco denso –
com sua cortina de nuvens
e de substâncias vaporosas
– vapores de rosas das mulheres
que dependurados nos dedos
os anéis de Saturno conduziam
os anéis que cintos as
cinturas delgadas abraçavam
os anéis que brincos nas orelhas dependurados
eram aros, eram elos, eram Eros.
Por vezes o anel de crepe de Saturno
é dois anéis nos dedos dos viúvos e das viúvas.
Nos anéis de Saturno os elos são rompidos
no simbolismo redundante da falha de Cassini.
A volúpia e a beleza habitam
as tetas tesudas e a popa polpuda
popozuda da potranca deusa Tétis,
satélite de fero/belo/ero movimento.
A subversão e o inconformismo se insurgem
no retrógrado movimento de Febo,
lua rebelada contra as normas do Planetário.
E Saturno, o tempo, a tudo
devora, deteriora e desafia.  

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