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PLUTÃO
Elmar Carvalho
Poema épico moderno, inspirado
no meretrício Zona Planetária, de Campo Maior, em que procurei mesclar a
mitologia greco-romana, a astronomia e a sociologia dos cabarés. Na Zona
Planetária cada um dos lupanares ostentava na fachada o nome e a imagem de seu
planeta correspondente, entre os quais Saturno e seus anéis. Esta é a última das dez unidades desse relativamente longo poema.
Nas densas e tenebrosas
trevas
do Inferno, vasto reinado
de Plutão,
vagam as negras águas do
Estige,
em cujas margens os deuses
proferem seus espantosos
juramentos.
As águas negras pela planície
silenciosa dão nove vezes a
volta
ao Inferno com seus juncos
que
entremostram a nudez da ninfa
Estige.
Pelo enorme e lamacento
báratro Aqueronte
passam as lamurientas
sombras que Caronte
conduz pelas sombras
pavorosas
do Inferno a remar seu barco-fantasma
iluminado pelos seus olhos
de braseiro,
a retirar o óbolo derradeiro
da boca dos que morreram.
E ali nos domínios de
Plutão
mergulham as sombras dos
mortos
na água do Letes e dela
bebem
em busca de paz e
esquecimento.
Nos portões do Inferno
o guardião Cérbero Iate e
ruge
com suas grandes coleiras
de serpentes
e suas três cabeças de
dentes envenenados.
Hécate invoca as Fúrias
vingadoras
que das sombras culpadas se
apoderam,
e dançam em rondas fúnebres
e cantam canções funestas em
que
relembram culpas, remorsos
e pecados.
Hécate, a grande mágica,
com seu
préstito de cães infernais,
é aquela que
age de longe e repele –
frígida e bela.
As Mineidas tecem belos
tapetes
para belos amantes que não
terão
e os tapetes em feias asas
se transmudam
para os horrendos morcegos
que elas são.
O mais distante dos
planetas, Plutão,
confinado com Prosérpina no
limbo
do Planetário, cumpre sua
órbita
excêntrica, talvez astro
desgarrado
da tirania de Netuno, enfim
dono
de sua própria rota do destino.
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