quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A Zona Planetária - Plutão

Fonte: Google


PLUTÃO

Elmar Carvalho

Poema épico moderno, inspirado no meretrício Zona Planetária, de Campo Maior, em que procurei mesclar a mitologia greco-romana, a astronomia e a sociologia dos cabarés. Na Zona Planetária cada um dos lupanares ostentava na fachada o nome e a imagem de seu planeta correspondente, entre os quais Saturno e seus anéis. Esta é a última das dez unidades desse relativamente longo poema. 

Nas densas e tenebrosas trevas
do Inferno, vasto reinado de Plutão,
vagam as negras águas do Estige,
em cujas margens os deuses
proferem seus espantosos juramentos.
As águas negras pela planície
silenciosa dão nove vezes a volta
ao Inferno com seus juncos que
entremostram a nudez da ninfa Estige.
Pelo enorme e lamacento báratro Aqueronte
passam as lamurientas sombras que Caronte
conduz pelas sombras pavorosas
do Inferno a remar seu barco-fantasma
iluminado pelos seus olhos de braseiro,
a retirar o óbolo derradeiro
da boca dos que morreram.
E ali nos domínios de Plutão
mergulham as sombras dos mortos
na água do Letes e dela bebem
em busca de paz e esquecimento.
Nos portões do Inferno
o guardião Cérbero Iate e ruge
com suas grandes coleiras de serpentes
e suas três cabeças de dentes envenenados.
Hécate invoca as Fúrias vingadoras
que das sombras culpadas se apoderam,
e dançam em rondas fúnebres
e cantam canções funestas em que
relembram culpas, remorsos e pecados.
Hécate, a grande mágica, com seu
préstito de cães infernais, é aquela que
age de longe e repele – frígida e bela.
As Mineidas tecem belos tapetes
para belos amantes que não terão
e os tapetes em feias asas se transmudam
para os horrendos morcegos que elas são.
O mais distante dos planetas, Plutão,
confinado com Prosérpina no limbo
do Planetário, cumpre sua órbita
excêntrica, talvez astro desgarrado
da tirania de Netuno, enfim dono
de sua própria rota do destino. 

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