POEMITOS DA PARNAÍBA
Texto: Elmar Carvalho
Charges: Gervásio Castro
13. Rodrigão
Que dizer do Rodrigão?
Que ele era um novo Atlas
a sustentar em suas costas
a esfera azul do sonho?
Não. Era um atlas de carne e
osso
porque sua cara vista de
perfil
era um mapa da América do
Sul.
14. Maria das Cabras
Passava com seu passo leve
– quase voo de pássaro –
com a suave elegância
de uma cabra montês.
Rápida cortava as
avenidas e as praças
até que a molecada gritava:
– Maria das Cabras!...
Maria subia a saia:
– Taqui o chifre da cabra!...
Os moleques com as cabeças
cheias de idéias e
fantasias
em suas alcovas ou
banheiros
se escondiam: Maria das
Cabras
surgia como uma fada
encantada
entre véus diáfanos que se
es~~~~~gar~~~~~ça~~~~~~vam.
15. Marechal
Maluco, se dizia alta
autoridade do planalto.
Ficava fulo da vida quando
chamado de soldado ou de
Madame de Chaval.
Não andava: marchava
de farda e botas.
Davam-lhe plaquetas e selos
e pequenas chapas de metal:
eram as condecorações e os
distintivos com os quais
desfilava
entre continências de
risos e zombarias.
16. João
Orlando
Surdo, surdo como um surdo,
aprendeu com Bilac a ouvir
estrelas.
E as ouvia nas lindas
noites estreladas
de Parnaíba.
Em sua surdez de pau
ouvia o bater dos corações das
pedras.
Ouvia o bang-bang dos colts
em suas leituras de faroeste.
Com sua morte silente
aprendeu a ouvir o silêncio
absoluto da morte.
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