terça-feira, 31 de março de 2020

POEMITOS DA PARNAÍBA


POEMITOS DA PARNAÍBA

Texto: Elmar Carvalho
Charges: Gervásio Castro



13.           Rodrigão

Que dizer do Rodrigão?
Que ele era um novo Atlas
a sustentar em suas costas
a esfera azul do sonho?
Não. Era um atlas de carne e osso
porque sua cara vista de perfil
era um mapa da América do Sul.



14.           Maria das Cabras

Passava com seu passo leve
– quase voo de pássaro –
com a suave elegância
de uma cabra montês.
Rápida cortava as
avenidas e as praças
até que a molecada gritava:
– Maria das Cabras!...
Maria subia a saia:
– Taqui o chifre da cabra!...
Os moleques com as cabeças
cheias de idéias e fantasias
em suas alcovas ou banheiros
se escondiam: Maria das Cabras
surgia como uma fada encantada
entre véus diáfanos que se
es~~~~~gar~~~~~ça~~~~~~vam.



15.           Marechal

Maluco, se dizia alta
autoridade do planalto.
Ficava fulo da vida quando
chamado de soldado ou de
Madame de Chaval.
Não andava: marchava
de farda e botas.
Davam-lhe plaquetas e selos
e pequenas chapas de metal:
eram as condecorações e os
distintivos com os quais desfilava
entre continências de
risos e zombarias.



16.           João Orlando

Surdo, surdo como um surdo,
aprendeu com Bilac a ouvir estrelas.
E as ouvia nas lindas noites estreladas
de Parnaíba.
Em sua surdez de pau
ouvia o bater dos corações das pedras.
Ouvia o bang-bang dos colts
em suas leituras de faroeste.
Com sua morte silente
aprendeu a ouvir o silêncio
absoluto da morte.   

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