Fonte:Google |
DIÁRIO
Elmar Carvalho
04/04/2020
No dia 14 de
março, sábado, data em que decidimos suspender nossas reuniões semanais da
Academia Piauiense de Letras, para grande satisfação minha, recebi do confrade
Cid de Castro Dias um exemplar do seu belo e excelente livro “Alberto Silva:
100 Limites”, com a devida dedicatória manuscrita, que é enriquecido por um
magnífico e iluminador prefácio de Zózimo Tavares, cujo título já é uma espécie
de síntese do livro – “Um inventário de grandes obras”.
Cid nasceu
em São Raimundo Nonato em 25 de janeiro de 1942. Filho de Manoel da Silva Dias
e Ester de Castro Dias, cursou o primeiro grau em sua cidade natal, no Ginásio
Dom Inocêncio, e o segundo (antigo Científico), em Salvador (BA). Fez o curso
de Engenharia Civil na Universidade Federal do Ceará, concluindo-o em 1968.
Logo em seguida, passou a morar em
Teresina, onde ingressou no quadro efetivo da Secretaria de Obras Públicas do
Estado, na qual exerceu cargos de direção, tendo sido subsecretário dessa pasta
nas duas gestões do governador Alberto Silva (1971 – 1975 e 1987 – 1991).
Pertence às Academias Piauiense de Letras, de Ciências do Piauí e Piauiense de
Engenharia, da qual é um dos fundadores.
Embora não
seja um literato em sentido estrito, é um legítimo escritor, porquanto as suas
várias obras, vertidas em estilo fluente e escorreito, são revestidas das
principais qualidades de uma boa redação, tais como concisão, clareza, perfeita
ordenação de ideias e atraente conteúdo. Entre outras, publicou as seguintes:
“Os caminhos do Rio Parnaíba”, “Piauí – Projetos Estruturantes”, “Piauhy – das
origens à nova Capital”, “Piauí – obras que desafiam” e “Engenharia Piauiense”.
Em “Os
caminhos do Rio Parnaíba” demonstra que esse curso d’ água, outrora muito usado
no transporte de passageiros e mercadorias, é o mais importante patrimônio
natural de nosso estado. Refere os principais estudos e projetos, que visavam à
sua revitalização e navegabilidade, bem como o seu uso de forma sustentável, em
projetos de irrigação assim como no abastecimento d’água de várias cidades
ribeirinhas, tanto do lado do Piauí como do Maranhão, entre as quais importa
citar Ribeiro Gonçalves, Uruçuí, Floriano, Barão de Grajaú, Amarante, Timon, Teresina,
União, Miguel Alves, Luzilândia e Parnaíba.
No
livro/álbum “Engenharia Piauiense”, no tocante à construção de grandes obras
públicas, além do destaque dado a Alberto Silva, são vistos com realce os
governantes Saraiva, Chagas Rodrigues, que modernizou e descentralizou a
administração estadual, Dirceu Arcoverde e Lucídio Portella.
Antônio José Saraiva, que assumiu o
governo do Piauí com apenas 27 anos de idade, construiu Teresina, quase que só
com a cara e a coragem, como se costuma dizer, tal o seu ímpeto e audácia, pois
pouca ajuda recebeu do governo imperial; pode ser considerado, por haver
estimulado comerciantes, construtores e novos moradores etc., uma espécie de
precursor do que hoje se denomina parceria público-privada.
Nesse livro – “Engenharia Piauiense” –
foram estampadas mais de seiscentas fotografias das obras públicas construídas
por governadores e prefeitos de Teresina, desde Saraiva aos dias atuais.
Nos seus
notáveis livros sobre a engenharia piauiense discorre sobre as principais obras
públicas do Piauí. E o faz com muita percuciência e propriedade, graças a seu
conhecimento técnico e experiência profissional.
Em virtudes dos importantes cargos
que exerceu na Secretaria de Obras Públicas, sem dúvida teve acesso a muitos
projetos e discussões técnicas, sobretudo quanto ao planejamento, execução e
controle, até porque no exercício do cargo de engenheiro fiscal tinha a
prerrogativa e o dever de analisar projetos arquitetônicos, cálculos
estruturais, planilhas de custo e materiais etc., para verificar, nas
vistorias, se as obras estavam sendo executadas de acordo com as especificações
contratuais da licitação.
Portanto, os seus livros são
enriquecidos com descrições e especificações técnicas, e documentados com
importantes fotografias de seu acervo pessoal, bem como pelas cedidas por
notáveis fotógrafos de sua amizade pessoal. Também são permeados por
observações sobre o contexto histórico e urbanístico da época, bem como, em
alguns casos, são traçadas breves considerações históricas sobres essas grandes
obras públicas, contemplando certos detalhes e episódios, alguns interessantes
ou anedóticos, ao tempo em que consignam a biografia de consagrados arquitetos
e engenheiros piauienses.
No seu livro “Piauhy – das origens à
nova Capital”, que foi considerado pela Secretaria de Educação como
paradidático, concentrou os principais fatos e feitos notáveis da História do
Piauí, tais como o desbravamento, povoamento e colonização, em que tomam vulto
as antigas figuras históricas da Conquista, entre as quais Domingos Afonso
Mafrense, Domingos Jorge Velho, Francisco Dias de Ávila (e a influência da Casa
da Torre), e Bernardo de Carvalho e Aguiar, último mestre de campo da Conquista
do Piauí e do Maranhão, fundador da fazenda Bitorocara, que deu origem a Campo
Maior.
Ainda na parte dedicada ao período
colonial, o livro se debruça sobre a instalação da Freguesia da Mocha, em que
se destacam os padres Miguel de Carvalho e Tomé de Carvalho. O primeiro pode
ser considerado, creio, o precursor da historiografia piauiense, sobre cuja “Descrição
do Sertão do Piauí”, no meu livro “Bernardo de Carvalho, o fundador de
Bitorocara”, tive o ensejo de dizer: “O padre Cláudio Melo considera esse
documento como um dos mais importantes para os estudiosos de História do Piauí,
e que deveria ser de manuseio constante.” O segundo foi vigário da velha Freguesia
de Nossa Senhora da Vitória “por 39 anos ininterruptos”, desde a sua instalação
em 1697, como está consignado na página 119, “dedicado exclusivamente ao seu
rebanho, que se achava espalhado num vasto território”.
Na sucessividade dos fatos narrados
nessa obra, merecem destaque a saga de Mandu Ladino, figura (quase) legendária,
que se tornou o principal líder de uma espécie de confederação indígena, na
luta contra os colonizadores, a criação e instalação da Capitania do Piauí, a luta
pela Independência do Brasil em terras piauienses, que bem merece um lugar
fulgurante na História do Brasil, porque aqui realmente houve sacrifício e
derramamento de sangue, sobretudo no caso da Batalha do Jenipapo.
Além de tratar da Balaiada, da administração
e biografia do Visconde da Parnaíba, dos governos do Piauí no segundo reinado,
da gestão de José Antônio Saraiva e as suas tratativas e providências para a
criação e instalação da nova capital (Teresina), a obra tem um “resumo
cronológico da história do Piauí (1676 – 1850) e um anexo, em que são
transcritos vários e importantes documentos, entre os quais citarei apenas três:
o testamento de Domingos Afonso Sertão, um sobre a fábrica de laticínios e o
testamento do Conselheiro Saraiva.
O outro livro a que desejo fazer
referência especial é o “Alberto Silva: 100 Limites”, com o qual Cid de Castro
Dias presta homenagem ao governador que fez as mais importantes obras públicas
do Estado, graças a seu dinamismo e criatividade. Alberto recebeu grandes
homenagens, na época em faria cem anos de idade, entre as quais a Medalha do
Centenário e sem dúvida o livro de Cid, e o biográfico da autoria de Zózimo
Tavares, presidente da Academia Piauiense de Letras, da qual o homenageado
fazia parte. Teve a sorte de receber essas homenagens quando a sua lembrança
era ainda marcante, quase como se estivesse vivo, quando ainda era um mito na
memória do povo piauiense.
“Alberto Silva: 100 Limites”, no seu
formato 21 cm x 30 cm, é praticamente um álbum, tal o número de fotografias,
gráficos e ilustrações com que o autor documenta e esclarece os fatos e dados
que expõe. Tendo ocupado importantes cargos nas duas administrações de Alberto
Silva, terminou por lhe angariar a amizade e a confiança, tendo com ele
conversado, em certos períodos, quase diariamente. Nessa condição, foi uma
testemunha ocular e privilegiada da história, tendo sem dúvida ouvido muitas
histórias de bastidores, jocosas algumas, outras sérias.
É um inventário das grandes obras de
Alberto, disse Zózimo, no prefácio. É a sua biografia através do concreto, da
argamassa e do asfalto, digo eu agora. Sim, porque nesse livro, através de
texto e fotografias, estão os monumentais prédios que ele erigiu, as belas e
bem iluminadas avenidas por ele rasgadas e as grandes rodovias asfaltadas por
ele construídas, entre as quais a chamada de o grande Y, bem como as extensas
redes de eletricidade. Não irei enumerar essas obras; elas estão por aí, como
se diz, e estão no livro de Cid. O certo é que elas contribuíram para que
Teresina se transformasse na bela capital, que é hoje, e tivesse os invejáveis
polos de Educação e de Saúde, que atraem alunos e pacientes de outros estados.
Cid de Castro Dias, membro destacado
da Academia Piauiense de Letras, é um escritor e historiador notável. Suas
obras podem ser inscritas entre as principais da historiografia do Piauí e da
engenharia de nosso estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário