A garrota
Carlos Rubem
Mesmo convalescente no final de sua vida, Nataniel de Sousa Reis, conhecido por Natu Reis (1885 - 1963), meu avô paterno, na medida do possível, procurava administrar seu acervo patrimonial, se inteirava do andamento do seu comércio e fazendas de gado. Era atento ao suprimento das despesas domésticas.
Naquele tempo não havia fogão a gás. Cozinhava-se à base de lenha. Vez outra contratava Silvério Cabeceira, proprietário de um antigo caminhão, para lhe fornecer uma carrada de madeira para ser consumida na cozinha.
Certa feita, ao tomar conhecimento de que o dito caminhoneiro havia despejado uma carga lenhosa à altura do quintal de sua residência, tencionava ordenar aos irmãos Mateus e Paulo, seus agregados, que transpusessem as laxas a uma edícula lá existente. Porém, tomou conhecimento que ambos não se faziam presentes.
Como havia nuvens anunciadoras de chuva, chamou o seu neto Creso, que brincava na saguão. Prometeu-lhe doar uma garrota se colocasse a lenha no local de costume.
Muito disposto, Creso encarou o desafio. Pensando no valoroso prêmio que iria ganhar, de imediato passou a fazer o serviço.
Sondado e usando pijama, à tardinha foi ver como andava a arrumação da lenha. Como uns cachorros de rua insistiam adentrar o quintal de sua casa, apoderou-se de um manguá para espantar os caninos.
Quando lá chegou ficou satisfeito com o que viu. Creso acabava de ajeitar a lenha, merecendo elogio do avô. Neste momento, o agoniado Creso o aparteou: — Quero saber é da minha garrota!
Sentindo que o neto estava desconfiando de sua palavra, o velho Natu ficou embravecido. Ostentando o relho, ralhou: — A sua garrota é esta aqui, exigindo respeito.
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