quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

AS PROFECIAS E A FÍSICA QUÂNTICA

Fonte: Superinteressante/Google

 

AS PROFECIAS E A FÍSICA QUÂNTICA

 

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Andei lendo, nesses dias, o ensaio contido no livro O Efeito Isaías, denso em razão de suas perplexidades e paroxismos. Dada a exaustiva insistência do autor em tentar introduzir noções, experimentos, observações, deduções absurdas que, em um círculo vicioso contínuo, preenche toda a obra, tem-se a impressão de que, na verdade, tanto esforço visa despertar no leitor interesse pelas confusas ilações que faz, misturando e entrelaçando profecias, tecnologia da oração/prece, milagres, ciência, com física quântica. Diante de tamanha aridez, vacuidade ou presunção, ele mesmo se confunde; às vezes, em prejuízo da seriedade do discurso. Pareceu-me, senão uma confusão, impropriedade, ou informação despicienda, o quase anacoluto contextual, em que discorrendo sobre os essênios, povo dotado de muita religiosidade e incomparável sabedoria, que deixou registrada em papiros, rolos de metal e couro animal, tergiversa para afirmar que eram eles estrita e, essencialmente, vegetarianos; não matavam a comida que levavam à boca para não se matarem; nada de carne, laticínio animal, proteínas essenciais, como alimento. Tudo indica, porém, que só nesse aspecto mantinham o bom trato para com os animais, porque, caso não os matassem a fim de produzir material para seus registros impressos, adquiriam o couro de animais mortos por outrem; ou será que retiravam a pele do rato, cão, lagartixa, cobra; ou seriam carneiros, porcos, coelhos, caças, boi ou vaca, ainda vivos? Segue o autor dizendo que, graças a essa educada dieta alimentar, viviam até cento e vinte anos. Se sem comerem carne perduravam por tanto tempo, imaginem se a comessem. Não tive como não lembrar de Ariano Suassuna, que chegou a provar e comprovar que ser carnívoro permite maior longevidade do que o vegetarianismo. Segundo ele, no começo da História, possivelmente, antes dos essênios, homem e cavalo tinham quase o mesmo tempo de vida, comendo, o primeiro, carne que caçava ou pescava, e o segundo, ervas. Com o passar do tempo, desenvolvimento da agricultura e da pecuária, melhoria nos padrões e oferta de alimentos, o homem, comendo carne, sendo carnívoro, vive muito mais que o cavalo (ou, por minha conta: o boi, a vaca, o carneiro), que continuam vegetarianos ou herbívoros.

                Em outra passagem do livro, claro, depois de mais discursos sobre eventos somente explicáveis após o advento da física quântica, como a ciência da profecia, da oração e do milagre, mote e tema principal da obra, ao falar dos maias, outra confusão – a menos que tenha havido problema na tradução da parte do texto relativa à informação -: textualmente, afirma que, “tão subitamente quanto apareceram, nas áreas remotas da península do Iucatã, há quase mil e quinhentos anos, desapareceram por volta do ano oitocentos e trinta d.C.”. Tiveram um dos mais eficientes sistemas de medição e aferição do tempo, que somente foi superado com a chegada do relógio atômico. Tanto assim que, para especialistas, descendentes dos maias ainda usam o sistema que registra o tempo e que “não falhou nenhum dia em mais de vinte e cinco séculos”. Talvez quisesse afirmar o autor que o surgimento deles ocorrera em mil e quinhentos a.C.; ainda assim, de lá, até oitocentos e trinta d.C., perfariam, no máximo, vinte e três séculos.

                Queria crer que, até o final do livro, dúvidas, dicotomias ou incoerências pudessem ser solucionadas. Senão, caso julgasse interessante, teria que ir a outras fontes apurar o que elas disseram ou dizem, por exemplo, a respeito de essênios e maias. Quanto a estes, o autor de O Efeito Isaías, de fato, equivocou-se, cronologicamente: entre os anos duzentos e cinquenta e novecentos, ambos da era cristã, eles viveram o auge de sua civilização, que começou pelos anos mil e oitocentos a.C. Aí, sim, somente nesse interregno já cabem vinte e cinco séculos. Ou seja, sem milagre nem auxílio da física quântica, parte do problema foi resolvido. Talvez erratas em reedições futuras do livro eliminem ou corrijam, se achar que elas o são, as falhas de caráter dos essênios; quem sabe venhamos a saber que, depois de passarem a utilizar o couro animal para seus registros impressos, teriam começado a aproveitar a carne, laticínio, enfim, as proteínas dos mesmos como alimento.

                Para encerrar: entende o autor que a ciência da profecia, cuja intelecção, hoje, está facilitada pela física quântica, já previa ser possível alterar as consequências do futuro mediante escolhas que fizermos no presente (?). Particularmente, não vejo grande mérito científico nessa conclusão, mas, segundo o livro, esse é o Efeito Isaías.   

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