FRANCISCO DA SILVA CARDOSO, um homem feliz e completo
José Ataide Tôrres Costa Filho
Cronista, biógrafo e memorialista
Francisco da Silva Cardoso é o quinto filho do casal Enos da Silva Cardoso, funcionário da Diretoria Geral dos Correios, e Izabel Furtado de Moraes Cardoso, “Dona Belinha”, nascido no dia 12 de março de 1936, na antiga Rua do Caquengue, atual Rua General Taumaturgo de Azevedo na cidade de Barras-Piauí.
Pouco
depois de completar seis anos perdeu sua mãe e, apesar da falta do carinho
materno, foi consolado e confortado pelos cuidados recebidos de sua avó Raimunda
Fontenele Furtado, e sua irmã mais velha, Maria da Conceição de Moraes Cardoso, a
quem chamava de “Madrinha”. Francisco da Silva Cardoso, Chico, ou Chico
Cardoso, foi uma criança como as demais que gostava muito de brincar,
entretanto já era possível se observar que era um garoto muito responsável e
dedicado aos estudos.
Os pais de Francisco da Silva Cardoso
Chico,
além dessas qualidades de garoto também era muito espirituoso, saindo às vezes
com dizeres bastante engraçados. Certa feita estava junto com sua família, pai,
irmãos, avó e outros, iam fazer a visita à sepultura de sua mãe, por ocasião do
sétimo dia do falecimento, passavam por uma “quinta” quando avistou uma
goiabeira carregada de belos e apetitosos frutos. De repente quando todos
estavam contritos, tristes, ainda abalados com o falecimento de Dona Belinha, o
fúnebre silêncio daquele momento foi quebrado por uma fala de Chico, olhando
para os frutos da goiabeira: - “Oh diacho! Se não fosse o sétimo dia da morte
de minha mãe eu ia te passar na mestra presa”.
Chico
inicia seus estudos no Grupo Escolar Matias Olímpio, e recebia reforço das
atividades escolares com Dona Otildes Rego. Por isso mesmo e por sua dedicação
e esforço pessoal sempre se manteve entre os melhores alunos de sua turma.
Apesar das
dificuldades impostas pela vida, com a perda da mãe, condição financeira de seu
pai, que não era das melhores (e, para completar, seu pai se juntara com outra
mulher), aumentando ainda mais as despesas da família, Chico pôde ter uma
infância dentro da normalidade como as demais crianças. Participava de
brincadeiras diversas e normais para aquela ocasião, e estudava com
responsabilidade e dedicação.
Dez meses
depois do falecimento de sua mãe, morreu também sua avó Raimunda, mais uma
grande perda para o garoto. Com mais este trágico acontecimento sua família passou
a sentir-se isolada na cidade, pois lhes faltavam a presença de parentes mais
próximos que pudessem socorrê-los num momento de dificuldade, além da
necessidade de um meio melhor para o estudo de todos. Em conversa com seu pai,
sua irmã Maria, sugeriu a mudança da família para Campo Maior, pois lá além de
parentes próximos havia também melhores condições de ensino para seus irmãos.
Após
conseguir a transferência com a ajuda de um primo que trabalhava na sede
dos Correios, em Teresina, a família preparou a mudança e num certo dia do final
do mês de junho de 1947, nas primeiras horas do alvorecer, mas ainda escuro,
começou a saga da mudança da família de Enos Cardoso para Campo Maior. Os poucos
móveis e demais pertences da família foram acomodados em caminhão para que
fossem levados até a nova moradia. Chico preferiu viajar na carroceria para
melhor cuidar de seu amigo inseparável, o carneiro “Boneco”.
Por volta
das 7:00 da manhã, o caminhão com a mudança da família de Enos Cardoso,
estacionou na porta da nova morada, uma casa situada na Rua Cel. Antônio Maria,
nº 19, bem próximo à casa de seu cunhado, Cel. Miguel Furtado. Ao desembarcar
com seu carneiro Boneco, Chico, que de agora por diante iremos nos referir a
ele como: “Chico Cardoso”, foi recebido por um garoto até então pra ele
desconhecido, Edson de Melo Lopes, “Edinho”, que viria se tornar seu melhor
amigo, amizade que se manteve fiel por toda vida. O novo amigo de Chico Cardoso
desde o primeiro momento se mostrou muito solicito e amigável, auxiliando e
viabilizando a acomodação e ambientação do recém-chegado.
Já na
adolescência e juventude a amizade de Chico Cardoso e Edinho se mantinha cada
vez mais firme, era como dizia o Sr. Antônio Músico, então delegado da cidade,
“eram dois corpo numa só alma”, querendo com essa expressão caracterizar e
exaltar a amizade dos dois jovens, realmente uma sólida e sadia relação de
cumplicidade e afeto.
Ao chegarem a Campo Maior os filhos do Sr.
Enos Cardoso foram logo matriculados em escolas da cidade, a fim de não terem
prejuízo na continuidade dos estudos. Chico Cardoso, foi matriculado no Grupo
Escolar Valdivino Tito, onde concluiu o Curso Primário. Logo após concluir o
Primário, tomou conhecimento por parte do colega Ferdinand Portela Andrade que
ia ser aberta a inscrição para o “Exame de Admissão” do Ginásio Santo Antônio.
Falou com seu pai pedindo ajuda para fazer o Exame, o que foi concedido.
Feliz com
o que estava acontecendo, entretanto ciente das dificuldades que teria que
enfrentar, Chico Cardoso encarou a missão com responsabilidade e dedicação,
fazendo um planejamento de seu estudo e preparação para bem fazer o Exame de
Admissão. Inicialmente verificou que se estudasse na parte da manhã teria maior
proveito, principalmente se começasse ainda na madrugada, pois nessa hora sua
mente estaria mais descansada. Preparou uma rústica luminária a querosene, “uma
lamparina”, arregaçou as mangas e começou sua preparação, deixando de lado as
brincadeiras e diversões.
Após árdua
maratona de preparação fez o Exame de Admissão, tranquilo e confiante, haja
vista que havia se preparado com responsabilidade e dedicação. Dias depois saiu
o resultado e, ansioso foi ao Ginásio Santo Antônio para saber o resultado. Ao
chegar, dirigindo-se para o Quadro de Avisos para conferir a lista de aprovados,
de longe avistou o Pe. Mateus, Diretor do Ginásio, e então procurou de imediato
desviar o caminho para evitar o encontro, pois Pe. Mateus era por demais temido
pelos estudantes por sua austeridade. Mesmo assim ele se dirigiu ao seu
encontro, interpelando-o com um abraço dizendo: “Parabéns meu filho você passou
em primeiro lugar”! Radiante de alegria e emoção, relaxou e verificou que seu
esforço não fora em vão.
Chico Cardoso iniciou seus estudos no Ginásio e, quando já cursava o segundo ano, recebeu o convite de sua prima, Odete Pereira e de seu esposo Olavo Pereira, para ir morar em Teresina. Falou com seu pai e aceitou o convite, instalando-se na residência de sua prima e matriculando-se no Colégio Diocesano, para continuar o Ginásio. Transferiu-se em seguida para o Colégio Demóstenes Avelino e depois para o Liceu Piauiense, onde concluiu o ginásio e posteriormente o científico.
Algum
tempo depois que chegou à casa de sua prima Odete mudou-se para uma república
do Centro Estudantil, onde começou dar aula para um curso preparatório para o
Exame de Admissão, o que o motivou a prestar o vestibular na faculdade de Filosofia,
vindo mais tarde se graduar em Geografia e História.
Na
faculdade teve uma destacada vida acadêmica, militando no movimento estudantil,
chegando a presidir o Diretório Acadêmico Dom Avelar Brandão Vilela.
Por volta
do ano de 1965, quando da visita ao Piauí do então presidente da república,
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, na qualidade de presidente do diretório
acadêmico, juntamente com outros dois presidentes de diretório, foi convocado
pelo governador do estado, para compor comissão para reivindicar ao presidente
da república a autorização para criação e implantação da Universidade Federal
do Piauí, o que veio se concretizar no dia primeiro de março de 1971.
Ainda
cursando o científico e morando na república da Casa Estudantil, conseguiu seu
primeiro emprego na Casa Marc Jacob SA. Anos mais tarde, quando já fazia o
curso de Geografia e História, na Faculdade de Filosofia, foi convidado para
emprego no Colégio Agrícola de Teresina, onde ficou até 1967 quando assumiu
emprego na Companhia Hidroelétrica de Boa Esperança – COHEBE após aprovação em
concurso público.
Chico Cardoso quando assumiu o primeiro emprego
Apesar de
graduado em Geografia e História não seguiu o magistério, pois se dedicou ao
seu trabalho na COHEBE, empresa, que foi depois incorporada ao sistema CHESF, onde
prestou relevantes serviços, dentre eles, foi responsável pela criação e
implantação do setor de compras, ficando sob sua responsabilidade por longos
anos, destaque-se o fato de que a aquisição de todo o material para construção
da Usina de Boa Esperança, foi adquirido sob o seu comando, inclusive as
Turbinas que ainda hoje geram energia para o Brasil.
Exerceu
tão importante função com muita dedicação e principalmente com honestidade e
integridade. Em determinada época, quando construía sua primeira casa, ao fazer
uma visita à obra, percebeu que entregaram todo o
material para o banheiro, da melhor qualidade que havia na praça, porém lembrou
que não havia comprado nenhum material, e indagou o pedreiro responsável pela
obra, que lhe informou que tudo fora deixado por uma determinada empresa. Chico
Cardoso verificou que a empresa era uma das fornecedoras da CHESF, e imediatamente
retornou da obra, dirigindo-se para a sede da tal empresa, solicitando que
fossem buscar tudo, pois não havia comprado nada. O gerente da empresa por sua
vez disse que era um presente, ele agradeceu, mas não aceitou o presente.
Após longos anos de trabalhos dedicados com
profissionalismo, responsabilidade e honestidade, galga a tão merecida e
esperada aposentadoria.
Por volta
dos anos 70 Chico Cardoso era um rapaz beirando os quarenta e já bem
estabelecido profissionalmente, pois tinha um bom e estável emprego, casa
própria, como também já havia aproveitado bem sua juventude e passado por diversas
experiências amorosas que não deram certo. Numa certa noite no final do mês de
dezembro de 1973, envolto com as emoções próprias dessa época do ano, ao
recolher-se para dormir, começou a refletir sobre sua vida. Percebeu que um
vazio se instalara e que já estava na hora encontrar uma pessoa que pudesse
preencher esse vazio, a sua “cara metade”.
Na
tentativa de encontrar essa pessoa que pudesse assumir o trono de seu coração,
aquela com quem poderia dividir suas conquistas, alegrias, agruras da vida, e a
seu lado construir sua própria família, começou então a vasculhar a memória e fez
passar em sua mente uma grande película cinematográfica onde estrelavam seus
amores passados, mas também estrelas que estiveram no seu convívio em certas
ocasiões. Após esgotar uma longa lista
de possíveis candidatas, sem encontrar uma que se enquadrasse dentro do perfil
que havia planejado, lembrou-se de uma colega da época da faculdade, Maria de
Lourdes Nogueira Brandão, “Lourdinha”. Percebendo que aquela colega, apesar de
um pequeno desentendimento que tiveram, era bonita, portadora de outras
qualidades e de boa família, bateu o martelo e disse: “É essa mulher que irá
acalentar meu coração e juntos construiremos uma bela família”.
Decidido, não
perdeu tempo: na manhã seguinte conseguiu o telefone do trabalho de Lourdinha e
logo ligou pra ela, mas essa primeira tentativa não teve sucesso. No entanto,
como decidido estava, provocou outros encontros, já se iniciara o ano de 1974,
e com esses novos encontros conseguiu conquista-la. Foi apresentado à família
da jovem e dois meses depois oficializava o noivado e como certo estava de sua
escolha, no dia 26 de maio do mesmo ano casou-se com Lourdinha, realizando assim
o maior sonho de sua vida, com a pessoa certa e ideal.
Casamento em 26 de maio de 1974
Dessa
feliz união, que este ano faz 47 anos, foram gerados os filhos Aline Brandão
Cardoso, Elaine Brandão Cardoso e Francisco Alexandre Brandão Cardoso, todos
educados com formação superior.
Hoje seus
filhos já têm suas próprias famílias: Aline Brandão Cardoso Paz é casada com Manoel
Paz e Silva Filho, com quem têm os filhos Ingrid Brandão Cardoso Paz, acadêmica
de Medicina, e Mateus Brandão Cardoso Paz; Elaine Brandão Cardoso Bluhm é
casada com Leonardo Henrique de Aragão Bluhm, com quem têm as filhas Giovanna
Cardoso Bluhm e Gabriela Cardoso Bluhm; Francisco Alexandre Brandão Cardoso,
divorciado, tem as filhas Isabele da Paz Cardoso e Lara da Paz Cardoso.
O casal Chico Cardoso e Lourdinha com filhos, genros e netos
Após sua aposentadoria, ao contemplar a bela família, filhos bem estabelecidos, netos que são pra ele a alegria e realização maior, lembrou-se de um adagio popular que diz: “Todo homem para ser feliz e completo deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. Percebeu que faltava escrever um livro, então, para realizar mais esse sonho e para ocupar o tempo disponível, resolveu dedicar-se à literatura e começou a escrever; já acumula uma produção literária de cinco livros: Trajetória de um Guerreiro, Memórias de Campo Maior, Memórias da adolescência: venturas e aventuras em Campo Maior, Solar dos Furtado e Animais Cativos, o que lhe possibilitou assumir uma cadeira na Academia Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE.
Registro da posse de Chico Cardoso na ACALE
Chico
Cardoso também foi agraciado com os títulos de Cidadão Teresinense e
Campomaiorense, reconhecimento das casas legislativas dessas cidades pelos
relevantes serviços prestados.
Título de cidadão Campomaiorense
Título de cidadão Teresinense |
Eu, em particular,
guardo boas e agradáveis lembranças de meu tio Chico Cardoso, pessoa que sempre
esteve presente em minha vida e na de meus irmãos, e mesmo morando em outra
cidade, acompanhou e colaborou bastante na formação de nosso caráter e
educação. Lembro-me com alegria dos períodos de semana santa, quando ansiosos
esperávamos a chegada de nosso tio Chico em nossa casa em Campo Maior, quando
ele nos proporcionava inúmeras diversões: banho de rio, feitio e linchamento do
Judas e tantas outras alegres brincadeiras.
É por essa
brilhante trajetória de vida que afirmamos que Francisco da Silva Cardoso é um
homem feliz e completo. Feliz por que, apesar das agruras do princípio de sua
vida, com a perda da mãe e avó, encarou com altivez, alegria e responsabilidade
as diversas fases de sua vida, brincando enquanto criança, aproveitando com
responsabilidade os prazeres da juventude, sem nunca deixar de se dedicar aos
estudos e finalmente abraçando com dedicação o trabalho. Completo porque
concluiu todas estas etapas de sua vida com brilhantismo. Plantou árvores: de
amizade, de companheirismo, de dedicação aos estudos, ao trabalho e
principalmente à família, bem como árvores propriamente ditas. Gerou Filhos:
Construiu uma bela família com três filhos que lhe deram seis netos, que são
filhos duas vezes. Escreveu Livros, belas peças literárias, e o mais importante:
a história de sua vida que é o mais belo livro que foi escrito nas páginas do
tempo.
E por
ocasião do dia 12 de março deste ano de 2021, quando Chico Cardoso completa 85
anos, vividos com as dificuldades naturais que a vida nos impõe, mas sabendo
encarar com altivez, responsabilidade e alegria, gostaria de agradecer a Deus
por sua existência e por tudo o que representa em nossas vidas.
Parabéns
tio Chico, que Deus o abençoe sempre.
Teresina, 05 de março de 2021.
José Ataide Tôrres Costa Filho, Campomaiorense nascido em 12.09.1953, graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Ceará em 1977, em 2015 bacharelou-se em Ciências Contábeis no Centro de Ensino Superior Vale do Parnaíba – CESVALE, autor do livro “Reminiscências de Minha Vida”.
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