quinta-feira, 29 de abril de 2021

3 POSTAIS DE PARNAÍBA


 

3 POSTAIS DE PARNAÍBA


Elmar Carvalho

 

           POSTAL I

 

As águas podres

da vala da Quarenta

tomam banho nas águas puras do Igaraçu,

nas imediações da Munguba,

onde bêbados pobres de dentes podres

dizem coisas doces por entre

o bafo azedo de vômito e de cachaça.

Um bolero, o tilintar de copos, os ruídos

da noite e os gemidos de camas e casais

completam as cenas e o cenário.

 

           POSTAL II

 

No cais da beira-rio

lavadeiras sem roupas

lavam as roupas dos ricos.

O vento brinca de pegar

parelha com o Igaraçu

e venta vadio no ventre

das velas dos veleiros e

verga suas vigas entre

vagidos e volatas.

À noite filhos-de-papais

tomam cerveja e Coca-Cola

encostados nos carrões,

enquanto as lavadeiras

passam as roupas lavadas.

A noite passa. Passa o vento.

             Passa o rio, o riso/rosa

rápido passa.

 

           POSTAL III

 

Hoje o Porto Salgado

                       sal’do nominal

                       do naufrágio

de uma barcaça de sal

é salamargo na lembrança

dos vareiros e embarcadiços.

E a água do Igaraçu

é uma lágrima de saudade

                        (ou sal’dade?)

do fastígio de outrora.

Os parcos barcos são

poemas de chegadas e partidas

e símbolos da decadência.   

Um comentário:

  1. Esses textos, principalmente a da Vala da Quarenta, dava umas boas músicas, com as melodias corretas!

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