CEMITÉRIO CAMPESTRE
Elmar Carvalho
Nesta segunda-feira, de manhã cedo, quando eu vinha de
Teresina para Regeneração, resolvi, mais uma vez, dar uma olhada no cemitério
campestre, que fica na beira da rodovia, um pouco antes da cidade de Angical.
Três ou mais galpões, cobertos de telha, protegem os mortos desse bucólico
cemitério.
Dá a impressão de que parentes e amigos, zelosos, cuidadosos,
desejavam proteger seus mortos da chuva e do sol. No adro de um desses
telheiros, o cruzeiro estendia seus braços bem abertos, como se quisesse
abraçá-los. Recordei-me de que, muitos anos atrás, quando eu estava na flor de
minha adolescência emotiva e sentimental, fiz esse mesmo percurso, em ônibus da
empresa Jurandi, que parava em quase todas as cidades do itinerário, em
companhia de meu amigo Otaviano Furtado do Vale, que morara em Regeneração.
Íamos, ali, passar um final de semana. Fomos antecedidos por uma carta dele,
comunicando nossa viagem, e naturalmente solicitando hospedagem aos anfitriões.
A missiva tinha uma propaganda enganosa a meu respeito, pois dizia, para a
destinatária, filha dos donos da casa, que eu era parecido com famoso galã das
telenovelas de então.
De qualquer modo, cumprimos a nossa missão, pois tomamos umas
boas talagadas de calibrina, dançamos no clube da cidade, onde hoje está
instalada a Câmara Municipal, e terminei conseguindo uma namorada, que a névoa
do tempo já esfumaça em minha memória. Nessa viagem, chamou-me a atenção um
outro campo santo campesino, com túmulos em ruínas, cruzes decepadas, anjos de
asas partidas...
Ao retornar, fiz um poema que falava de um agre e agressivo
agreste, de um cemitério abandonado, e da paisagem dos cerrados da Chapada
Grande, de beleza ímpar, mas tão diferente dos planos tabuleiros de minha terra
natal, respingados de corcovas de cupins e pontilhados de carnaubeiras,
sobretudo no inverno, em que a terra se estende como um tapete de gramíneas e
babugens.
23 de fevereiro de 2010
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