ELEGIAS INOMINADAS
Elmar Carvalho
I
Seus olhos
tinham a melancolia
profunda dos crepúsculos.
Por vezes se escondiam
detrás das venezianas
dos cílios impenetráveis.
Em seus olhos verdes
boiavam a tristeza
dos naufrágios
e a saudade
das naus que se foram
e não mais voltaram.
Seus olhos
tinham o sortilégio
e o mistério dos eclipses.
Nos seus olhos
meus olhos orbitavam
prisioneiros da gravidade
desses quasares binários
em que imergiam
e se perdiam.
II
Sinto, às vezes,
rebentar de súbito
uma tristeza imensa e fugaz.
Uma tristeza tão funda,
tão inesperada, que surge
aparentemente sem razão.
De repente, como veio se vai.
Essa tristeza talvez seja a nostalgia
de não mais estar com Deus
ou de ainda não estar...
III
Recordo os amigos mortos.
À proporção que entardeço
o número vai aumentando.
Já não tenho epitáfios
para tantas lápides
em meu peito.
Um dia a minha campa
estará entre essas lousas
e o cemitério já não existirá.
Quando eu não mais existir,
existirei em outra qualquer dimensão.
“Existem muitas moradas na casa de meu
Pai.”
IV
Meus olhos
são dois olhos d’água
de que já não escorrem
as gotas salobras das lágrimas.
São olhos d’água esgotados
de onde mina apenas o fio
viscoso da saudade.
A nostalgia do rapaz que fui,
tão emotivo, tão sentimental,
exauriu as vertentes lacrimais.
Meus olhos são cacimbas secas
de sertões comburidos,
de agrestes terras adustas,
de chapadas esturricadas.
Foram escavados até o osso
e nunca mais hão de chorar,
embora chorem um choro
seco, engasgado e sem soluços.
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