sexta-feira, 9 de julho de 2021

SENDO HONESTAS OU AGINDO COM HONESTIDADE

 

Fonte: Google

SENDO HONESTAS OU AGINDO COM HONESTIDADE

 

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Começaremos com uma comemoração por vitória alheia. Segundo nos contaria, em dois mil e dois, portanto, quase vinte anos atrás, ele, aos quarenta e três, o amigo contando setenta anos, aposentado havia uma década, ingressaram com processo contra a União, reivindicando reparação por perdas remuneratórias causadas por atos discriminatórios envolvendo reajustes dados aos militares em mil, novecentos e noventa e três, mas não estendidos, automaticamente, aos funcionários públicos civis, como era o caso de ambos, que precisaram apelar ao poder judiciário para ter garantidos seus direitos. 

                Em julho do ano santo de dois mil e vinte e um, soubera por meio do advogado do amigo, e era esse o motivo de sua comemoração, que, enfim, beirando os noventa anos, porém, vivo, teria recebido da Justiça a notícia de que ela havia autorizado o crédito da reparação remuneratório-trabalhista buscada; alegria essa que, por tardar tanto a chegar, seu velho colega, infelizmente, não experimentaria: deveras desgastado pelo tempo, já interagia muito pouco com o mundo das coisas.

                Sem cabotinice ou demagogia, conforme fizera questão de frisar o amigo relator do caso acima, por outro óbvio motivo, também teria ficado feliz: já que a Justiça, enfim, fizera justiça a seu chapa e colega de lide judicial, algum dia, provavelmente, faria o mesmo com ele. Todavia, como, há poucos anos atingira a idade em que a estatística político-demográfica nos torna a todos idosos, oficial e, formalmente, sua esperança é que não precisasse chegar aos noventa anos para obter a quitação da pretensa demanda jurídica. Vai que não tivesse a longevidade do queridíssimo companheiro.

                Daqui para frente é por nossa conta. Que dizer sobre estas tolices? A primeira, apregoada por Jonathan Swift – autor do livro Viagens de Gulliver –, segundo ensaio de George Orwell: “a medicina, por exemplo, é uma ciência inútil, pois, se levássemos uma vida mais natural, não existiriam doenças”. Ou seja, todos os primeiros homens, certamente, teriam sido eliminados por animais mais fortes do que eles, terremotos, maremotos, acidentes meteorológicos ou cósmicos, nenhum por doença, eis que, provavelmente, foram nossos ancestrais que inventaram a tal forma natural de viver; enquanto nós, os homens modernos, seus precursores, criamos todas as patologias humanas; senão, seus conceitos. Fica a citação da tese, a respeito da qual nem vamos tentar buscar justificativas antropológicas ou filosóficas. A segunda, dita por um economista político, tipo aquele que, enquanto auxiliar direto do governo, não passa de um fiasco, mas, fora dele, dá-se bem sempre que a economia vai mal, prestando caríssimos serviços de consultoria e aconselhamentos a fracos governantes de plantão: “toda vez que se contrata um servidor público, criam-se despesas para sessenta anos”. Ele, não idiota que é, sabe que o estado não funciona sem funcionários, agentes que o fazem andar, mexer-se, atuar no sentido de atender aos anseios dos que o mantêm; ou seja, contratar, empregar pessoas para ajudá-lo e ao cidadão não é gasto, porém, investimento necessário; talvez admitisse que todos pudéssemos – ou devêssemos - ser servidores públicos durante toda a vida ativa e produtiva – o que, parece, não é o caso do estudioso -, mas funcionário ou empregado público, efetivo, formal, oficial, remunerado, em regra, somente alguém se “transforma” em um depois de atingir a maioridade, quando mediante concurso público - colocado à disposição de todos -, e uma vez aprovado, ingressa, de fato e por direito, no serviço (poder) público. De onde teria buscado os tais sessenta anos de despesa? Somente perguntando ao próprio, que, temos dúvida de se seria honesto na resposta.

                Ainda sobre honestidade e desonestidade, assunto já iniciado acima por meio das idiossincrasias ou dislogias das duas figuras citadas, cada uma a seu tempo, fazendo questão de parecer demagoga ou desonesta. Cremos no seguinte, a despeito de os que agem desse modo, deliberada e, irresponsavelmente, tomarem-nos por “otário”, “tolo” ou “idiota”, por não fazermos nem, voluntariamente, agirmos como eles: estaria, sim, cometendo um ato desonesto, tanto quem, nas vias públicas, estaciona ou circula nas pistas ou bandas de rodagem, proibidas ou não compatíveis com a velocidade desenvolvida; quanto os que, por exemplo, percebendo seguro-desemprego, sem dele desistir, legalmente, aceitam receber salários e demais bonificações empregatícias, irregularmente, pagas por empregador irresponsável. Que tipo de bico seria esse, em que um indivíduo desempregado, mas preso a obrigações sociais de que não se desvencilha, durante oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais, por meses, presta serviços contumazes a outro indivíduo ou empresa, igualmente desonesto?

                Obviamente, ninguém é desonesto o tempo todo ou, permanentemente; há momentos ou situações em que, aquele que, no mais das vezes, é dado a cometer desonestidades, age com honestidade; o inverso também ocorre: dos mais honestos, um homem pode, em um descuido involuntário ou necessidade premente, incondicional ou inescapável, ser instado a cometer desonestidade. Ideal é que as pessoas sejam honestas e estejam, o mais que puderem, agindo com honestidade.    

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