SENDO HONESTAS OU AGINDO COM
HONESTIDADE
Antônio Francisco Sousa –
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Começaremos
com uma comemoração por vitória alheia. Segundo nos contaria, em dois mil e
dois, portanto, quase vinte anos atrás, ele, aos quarenta e três, o amigo
contando setenta anos, aposentado havia uma década, ingressaram com processo
contra a União, reivindicando reparação por perdas remuneratórias causadas por
atos discriminatórios envolvendo reajustes dados aos militares em mil,
novecentos e noventa e três, mas não estendidos, automaticamente, aos
funcionários públicos civis, como era o caso de ambos, que precisaram apelar ao
poder judiciário para ter garantidos seus direitos.
Em
julho do ano santo de dois mil e vinte e um, soubera por meio do advogado do
amigo, e era esse o motivo de sua comemoração, que, enfim, beirando os noventa
anos, porém, vivo, teria recebido da Justiça a notícia de que ela havia
autorizado o crédito da reparação remuneratório-trabalhista buscada; alegria
essa que, por tardar tanto a chegar, seu velho colega, infelizmente, não
experimentaria: deveras desgastado pelo tempo, já interagia muito pouco com o
mundo das coisas.
Sem
cabotinice ou demagogia, conforme fizera questão de frisar o amigo relator do
caso acima, por outro óbvio motivo, também teria ficado feliz: já que a
Justiça, enfim, fizera justiça a seu chapa e colega de lide judicial, algum
dia, provavelmente, faria o mesmo com ele. Todavia, como, há poucos anos
atingira a idade em que a estatística político-demográfica nos torna a todos
idosos, oficial e, formalmente, sua esperança é que não precisasse chegar aos
noventa anos para obter a quitação da pretensa demanda jurídica. Vai que não
tivesse a longevidade do queridíssimo companheiro.
Daqui
para frente é por nossa conta. Que dizer sobre estas tolices? A primeira,
apregoada por Jonathan Swift – autor do livro Viagens de Gulliver –, segundo
ensaio de George Orwell: “a medicina, por exemplo, é uma ciência inútil, pois,
se levássemos uma vida mais natural, não existiriam doenças”. Ou seja, todos os
primeiros homens, certamente, teriam sido eliminados por animais mais fortes do
que eles, terremotos, maremotos, acidentes meteorológicos ou cósmicos, nenhum
por doença, eis que, provavelmente, foram nossos ancestrais que inventaram a
tal forma natural de viver; enquanto nós, os homens modernos, seus precursores,
criamos todas as patologias humanas; senão, seus conceitos. Fica a citação da
tese, a respeito da qual nem vamos tentar buscar justificativas antropológicas
ou filosóficas. A segunda, dita por um economista político, tipo aquele que,
enquanto auxiliar direto do governo, não passa de um fiasco, mas, fora dele,
dá-se bem sempre que a economia vai mal, prestando caríssimos serviços de
consultoria e aconselhamentos a fracos governantes de plantão: “toda vez que se
contrata um servidor público, criam-se despesas para sessenta anos”. Ele, não
idiota que é, sabe que o estado não funciona sem funcionários, agentes que o
fazem andar, mexer-se, atuar no sentido de atender aos anseios dos que o
mantêm; ou seja, contratar, empregar pessoas para ajudá-lo e ao cidadão não é
gasto, porém, investimento necessário; talvez admitisse que todos pudéssemos –
ou devêssemos - ser servidores públicos durante toda a vida ativa e produtiva –
o que, parece, não é o caso do estudioso -, mas funcionário ou empregado
público, efetivo, formal, oficial, remunerado, em regra, somente alguém se
“transforma” em um depois de atingir a maioridade, quando mediante concurso
público - colocado à disposição de todos -, e uma vez aprovado, ingressa, de
fato e por direito, no serviço (poder) público. De onde teria buscado os tais
sessenta anos de despesa? Somente perguntando ao próprio, que, temos dúvida de
se seria honesto na resposta.
Ainda
sobre honestidade e desonestidade, assunto já iniciado acima por meio das
idiossincrasias ou dislogias das duas figuras citadas, cada uma a seu tempo,
fazendo questão de parecer demagoga ou desonesta. Cremos no seguinte, a
despeito de os que agem desse modo, deliberada e, irresponsavelmente,
tomarem-nos por “otário”, “tolo” ou “idiota”, por não fazermos nem,
voluntariamente, agirmos como eles: estaria, sim, cometendo um ato desonesto,
tanto quem, nas vias públicas, estaciona ou circula nas pistas ou bandas de
rodagem, proibidas ou não compatíveis com a velocidade desenvolvida; quanto os
que, por exemplo, percebendo seguro-desemprego, sem dele desistir, legalmente, aceitam
receber salários e demais bonificações empregatícias, irregularmente, pagas por
empregador irresponsável. Que tipo de bico seria esse, em que um indivíduo
desempregado, mas preso a obrigações sociais de que não se desvencilha, durante
oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais, por meses, presta serviços
contumazes a outro indivíduo ou empresa, igualmente desonesto?
Obviamente,
ninguém é desonesto o tempo todo ou, permanentemente; há momentos ou situações
em que, aquele que, no mais das vezes, é dado a cometer desonestidades, age com
honestidade; o inverso também ocorre: dos mais honestos, um homem pode, em um
descuido involuntário ou necessidade premente, incondicional ou inescapável,
ser instado a cometer desonestidade. Ideal é que as pessoas sejam honestas e
estejam, o mais que puderem, agindo com honestidade.
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