PÃO E CIRCO
José Expedito Rêgo
Na Roma antiga quem mandavam eram os patrícios, os senhores da terra e suas riquezas. Mas esses senhores precisavam do povo em geral, escravos ou libertos, que lhes concedia apoio político e de onde recrutavam seus exércitos, as poderosas legiões que servirem à conquista do grande Império. Para ganhar a simpatia popular, apelaram à política do pão e circo. O Coliseu, o grande circo romano, era o local máximo de divertimento. Ali o povaréu delirava apreciando as lutas entre feras, entre gladiadores, assistiam ao massacre de cristãos por leões famintos. Os sábios patrícios preocupavam-se bastante para que não faltasse alimento às populações. Assim conseguiram conduzir por longos anos o vasto domínio.
No Brasil, há um arremedo parcial da política romana. Aqui, procura-se divertir o povo com futebol e carnaval. Todas as capitais de Estados possuem bons estádios de futebol e o Maracanã é o maior coliseu do mundo. Não é à toa que esses campos esportivos trazem, todos eles, nomes de políticos.
Quanto ao carnaval, há uma pequena inversão. O povo é participante e a assistência é formada por turistas e outros ricaços que podem adquiri os caros ingressos para os camarotes dos sambódromos. Hoje em dia, os componentes das escolas de samba são menos foliões do que trabalhadores das empresas de turismo.
Os donos da terra, entre nós, esquecem-se, no entanto, de uma coisa importante para manter o povo submisso: a alimentação. Sabemos que a fome real e a subalimentação cobrem boa parcela da população brasileira. E o que se faz para melhorar a situação é deixar apodrecer, nos armazéns do Estado, milhares de toneladas de grãos, por desleixo, burocracia, pouca vergonha, maldade cretinice.
O império romano, muito mais poderoso do que os donos do Brasil, terminou esfacelando-se por lutas internas e invasões exteriores de bárbaros.
O Brasil continua de pé porque o povo é dócil, incapaz de uma revolução de verdade e não existem bárbaros em redor. Ao contrário estamos cercados de nações irmãs, tão pobre quanto nós, subdesenvolvidas e tristes.
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