sexta-feira, 8 de abril de 2022

A EXISTÊNCIA DE DEUS E OS SEUS PLANOS

Fonte: Google

 

A EXISTÊNCIA DE DEUS E OS SEUS PLANOS


Elmar Carvalho


Releio, pela enésima vez, este texto de Epicuro: “Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não os impede?”

Nunca me inquietei com essas indagações, e sempre tive resposta para elas. Apenas nunca externei o que sempre esteve em minhas convicções e fé. Enfrentarei a problematização da primeira parte da citação e tentarei encontrar uma resposta. Em momento algum Epicuro negou a existência de Deus. Portanto, a admitiu. Aliás, todas as perguntas partem do pressuposto de que Deus existe. Faz tempo venho adiando escrever uma crônica, que forceja em meu cérebro, louca para ser dada à luz da publicidade. Escrevê-la-ei agora, e com ela tentarei responder aos questionamentos epicurianos.

Quando fiz minhas primeiras viagens aéreas, tinha muito medo, e sequer olhava para as belezas que poderia ver da janela, fosse uma bela e verdejante colina ou uma caprichosa enseada marinha, ou fosse o celestial alumbramento das nuvens, nas quais gostaria de deitar e rolar. Entendi que esse medo de nada adiantava, já que eu era forçado a enfrentar a viagem. E se houvesse algum acidente, de nada me valeria essa inquietação. Portanto, era inútil, e apenas me incomodaria durante o voo.

Além do mais, considerando que avião é o meio de transporte mais seguro, exceto elevador, eu apenas sofreria por algo que dificilmente iria acontecer. Por outra parte, raciocinei que o avião fora construído por quem sabia o que estava fazendo, por quem tinha conhecimento, ciência, experiência, e a mais avançada tecnologia e os mais adequados e sofisticados materiais.

Também pensei com os meus botões: quem o pilotava sabia o que estava fazendo, estudara, tinha um plano de voo e igualmente seria vítima de eventual erro que cometesse, pelo que agiria sempre com responsabilidade e prudência. Assim, decidi confiar, mesmo porque não poderia fazer outra coisa, uma vez que resolvi entrar na aeronave.

Da mesma forma, para responder às indagações do filósofo, direi que Deus, cuja existência ele admite no enunciado de seu silogismo, tinha e tem pleno conhecimento de sua obra e, certamente, tem um plano maravilhoso e perfeito, como só podem ser as obras divinas. O que sucede é que nossa inteligência e nossos conhecimentos são diminutos, para que possamos entender a mente e a inteligência infinita de Deus, como igualmente não conhecemos os pormenores de seu plano.

Ora, quanto mais o homem tenta perscrutar os umbrais do infinito, do infinitamente grande, mais novas grandezas ele descobre no espaço sideral. E, quanto mais se volta para o infinitamente pequeno das partículas e da mecânica quântica, mais se surpreende com subpartículas cada vez menores e cada vez mais sutis.

Até já disse, num de meus poemas, que atingi o infinito ao ficar infinitamente pequeno. Dessa forma, entendo que não devemos nos preocupar com as indagações do velho Epicuro. Confiemos no criador da aeronave, que é Deus, e confiemos no plano de voo do piloto, que também é Deus. Talvez Ele, que é perfeito, não tenha desejado criar uma obra pronta e acabada, mas uma em construção, em permanente marcha para a perfeição, apesar dos momentâneos e aparentes retrocessos.

E, no final dessa odisseia, que é a própria existência, chegaremos ao porto final, sãos e salvos, puros e redimidos, recolhidos ao corpo místico de Deus, como pequeninos agasalhados em colo aconchegante e protetor.

Para finalizar, considerando que Epicuro fez várias perguntas, seguindo as pegadas e as lições de Lavoisier, quero fazer apenas uma: será se algo ou alguém que obteve a existência poderia algum dia perdê-la, ou haverá apenas uma transformação existencial, uma nova dimensão do existir, do ser? Sem ansiedades, confiemos e esperemos. Em Deus.

10 de março de 2010

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