sexta-feira, 29 de abril de 2022

Imortalidade

Fonte: Google


IMORTALIDADE


José Expedito Rêgo


Se existe ou não alma imortal, pouco importa. O que vale é a crença. Se a pessoa acredita piamente na vida após a morte, pauta sua existência na força dessa íntima convicção, é feliz a cada instante. Nas horas difíceis, tem o consolo de sua religião, seja ela qual for. Suporta melhor as dores físicas e morais, confia num Ser Superior a protegê-la sempre e, se nada consegue de bom neste mundo, resta a certeza da bem-aventurança do além.

Ainda que a ruína do corpo seja fim de tudo, dá no mesmo. Até o derradeiro alento, o ser humano consciente, que acredita na perpetuação do espírito, morrerá na certeza da imortalidade. Jamais terá conhecimento de seu engano. Aí está a grande vantagem de ter fé, ajuda a suportar as desgraças, conduz à resignação na hora final.


Os que não tem fé – o meu caso, também podem ser felizes. Sabem que morrer é o fim do tudo e procuram tirar da vida o que ela apresenta de bom, gozando ao máximo os prazeres que nos pode proporcionar. Não me refiro aos gozos eróticos, mas, especificamente, às delícias da criação intelectual, aos momentos sublimes do prazer estético. Enquanto vivos, desfrutamos cada momento de beleza com toda intensidade. A vida é uma dádiva única da natureza, que não se remete jamais, no mesmo indivíduo.

Além da satisfação que lhe dá a posse do belo, resta ao materialista a prática do amor, do amor total. O descrente pode ser tão bom como um fervoroso cristão. Pode amar o próximo como a si mesmo, ser humanitário e prestimoso. Para ele, a imortalidade está na perpetuação das boas obras que pratica e permanecerão na lembrança dos homens, enquanto o mundo for mundo. Isto é a imortalidade. Jamais cairão no esquecimento as obras de Homero e de Platão, as artes de Leonardo da Vinci e Miguel  Ângelo. O teorema de Pitágoras nunca será olvidado enquanto houver na terra um ser inteligente e pode até ultrapassar o limite do mundo em que vivemos, transmitido que foi por intermédio de potentes ondas hertzianas, para o espaço infinito. Pitágoras é, por conseguinte, imortal. Os átomos que, um dia, formaram seu corpo estão atualmente dispersos, perdidos no espaço ilimitado, jamais se organizarão outra vez no ser chamado Pitágoras. Seu pensamento, no entanto, não perecerá.     

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