CARIBÉ, O BRANCO MAIS NEGRO DO BRASIL
Elmar Carvalho
Participei, ontem à noite, do lançamento do livro Guia
Turístico Afro-Cultural da Região Meio Norte, da autoria do professor,
pesquisador e escritor Antônio Júlio Lopes Caribé. Estavam presentes
familiares, amigos, artistas e escritores, entre os quais Tomaz Gomes Campelo,
Aci Campelo, Ruimar Batista da Costa, Rosinha Amorim e José Fortes Filho.
A apresentação foi feita pelo escritor e jornalista Zózimo
Tavares, que se desincumbiu da missão com a competência que lhe é peculiar,
abordando os principais aspectos do conteúdo do livro, de forma breve, mas
jamais superficial, com o poder de síntese, que lhe é caraterístico, fazendo
lembrar, por esse aspecto e também por sua capacidade de observação e análise,
o seu colega de APL e de jornalismo Carlos Castelo Branco.
Depois, o autor fez a sua explanação, e com a generosidade,
que lhe é inerente, expressou os seus agradecimentos às pessoas que, de uma
forma ou de outra, lhe ajudaram a conceber e publicar o livro. Livro completo,
naquilo a que se propôs, tem uma bela orelha, escrita pelo contista e professor
da UFPI Airton Sampaio, da qual julgo de bom alvitre extrair o seguinte:
“Estruturado como Guia, o livro não deixa, no entanto, de trazer textos
descritivo-dissertativos, em forma de artigos, sobre os mais diversos temas,
entre os quais avultam, a meu ver, o Carnaval, a Literatura e o Cinema”.
O livro é um grande inventário afro-cultural do Piauí e do
Maranhão, e, portanto, trata dos principais eventos, arrola as principais casas
e instituições ligadas aos temas que aborda, e se reporta às lendas, folguedos,
danças, literatura, religiosidade e ao folclore em geral desses dois estados,
citando as principais personalidades dessas manifestações culturais.
Facultada a palavra, resolvi prestar um breve depoimento. Inicialmente,
fiz referência à sintética e eficiente apresentação do Zózimo, e em cretino
trocadilho disse que ele não nos encheu o saco e nem encheu linguiça, e que não
encheu o saco exatamente por não ter enchido linguiça, ou seja, por não ter
entrado em minudências e digressões enfadonhas, com a finalidade apenas de
delongar a fala, como sói acontecer em muitos e quilométricos discursos.
Expliquei que conheço o Caribé há muitos anos, desde o final
dos anos 80, quando presidi a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI.
Com o seu apoio e de outros valorosos companheiros, lutei para que a Literatura
Piauiense fosse inserida em dispositivo da Constituição Estadual, cuja campanha
terminou vitoriosa, com o respaldo decisivo do deputado constituinte Humberto
Reis da Silveira. Eu, o Caribé e outros membros da UBE-PI participamos de
várias peripécias lítero-culturais no interior do estado, em cidades como
Oeiras, Amarante e Luzilândia.
Na bela e bucólica Amarante, estávamos passeando na beira do
cais, com a presença casual de bela ninfa, aliás mais ninfeta que ninfa, quando
vimos cair do alto do passeio umas pétalas douradas. Era um velho fauno,
companheiro nosso, destemido e aguerrido conquistador, que tentava angariar a
simpatia da moça. Claro que o seu esforço
romântico resultou infrutífero, mas valeu a pena a beleza daquela improvisada
chuva de belas pétalas silvestres.
De longo tempo, conheço-o como escritor, umbandista e amante
da religiosidade, da cultura, da arte e da beleza negra, o que restou provado
com o seu livro. Por isso mesmo disse, e tenho repetido isso muitas vezes, que
o Caribé, branco dos olhos azuis e casado com uma mulher branca e loura, depois
da morte de Vinícius de Moraes, tornou-se o branco mais negro do Brasil.
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