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Agora não se fala mais (*)
Torquato Neto (1944 – 1972)
Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início;
Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada
forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios:
Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:
só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim do fim de tudo
e o tem do tempo vindo;
não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de ideia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros
tempos.
está vetado qualquer movimento
(*) Na internet vi este poema publicado com o título de Literato cantabile. Entretanto, no livro Torquatália {do lado de dentro}, ele foi publicado sem título (v. página 168); neste mesmo livro, na página seguinte aparece o poema Literato cantabile, mas com outro conteúdo. Por essas razões, usei o primeiro verso para o nomear e identificar.
Pelo visto é um poema de protesto, de cunho político.
ResponderExcluirMas independentemente de sua finalidade, cabe analisar a linguagem. E está é sensacional!!!!!!!
Grande Torquato!