segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Troféu Raça Negra




Troféu Raça Negra


Carlos Rubem 


Estou relendo “Vidas em Contrastes”, de autoria do escritor oeirense José Expedito Rêgo (1928 - 2000), publicado em 1992, que clama por uma reedição. Vale a pena difundir nossa produção artística. 


A cada leitura deste livro me provoca novas percepções, revelações humanísticas. Merece ser roteirizado para o cinema.


O enredo da aludida obra, de profunda significação sociológica, é calcada em fatos reais. Tem como pano de fundo o cruel “Crime da Canavieira” havido em 1957. Uma tragédia grega, no dizer do Dr. Clidenor Freitas, figura proeminente, já falecido.


Logo no primeiro capítulo é descrito a contígua espacialidade compreendida pelos edifícios do Cine Teatro Oeiras, Associação Comercial, Café Oeiras, Passeio Leônidas Melo e Praça da Bandeira, construídos pelo prefeito Coronel Orlando Carvalho, na época da getulina ditadura.


O último equipamento público citado era somente frequentado pelas empregadas domésticas e seus namorados. Uma das centrais personagens do romance, Calu — nasceu cor de mel — a mais linda cabrocha da cidade, ali reinava. A estratificação social era bem delineada.


Batina, era funcionário municipal desde o tempo da Intendência. Vigia implacável, não permitia que nenhuma curica transitasse no dito Passeio, reservado apenas para gente da sociedade, como se dizia.


Promovido pela Portal Mural da Vila (leia-se Lameck Valentim), na noite de ontem (19.11.2022), naquele simbólico conjunto urbano, houve a entrega do Troféu Raça Negra - Ano Antônio Carlos Valentim, na sua 2ª edição. A primeira ocorreu em 2019. Durante o trevoso período da pandemia ocorreu um justificável hiato. 


Benfazejos tempos vivenciados. Festa bastante concorrida. Foram agraciados 45 pessoas. Cada dignitário, ao receber suas insígnias, prestaram lúcidos depoimentos, relatos comoventes entremeados de denúncias de preconceitos de cor.


Entre os homenageados, sem prejuízo dos demais, destaco ator Flávio Guedes, produtor do premiado longa-metragem “Uma mulher chamada Esperança”. Foi representado por Ludiane, sua irmã.


O audiovisual é baseada na carta escrita pela escravizada Esperança Garcia, em 1760, que residia na Fazenda Algodões, antiga possessão de Oeiras, hoje, vizinha cidade de Nazaré do Piauí. Este documento foi localizado no Arquivo Público do Piauí pelo pesquisador Luiz Mott, nos anos setenta. Garcia é considerada a primeira advogada do Piauí.


A missiva é endereçada ao governo da então Capitania do Piauí. Acusa os maus-tratos praticados pelo Capitão Antônio Vieira de Couto, administrador daquela Fazenda reinol. 


Claro que fiquei satisfeito em participar deste prestigiado evento, digno de encômios. Parabéns aos organizadores!

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