DISCURSO DE RECEPÇÃO, EM OEIRAS, AOS CONFRADES E CONFREIRAS DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS- APL- POR OCASIÃO DAS COMEMORAÇÕES DE DUZENTOS ANOS DA ADESÃO DA CAPITAL PIAUIENSE/OEIRAS À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
[Moisés Reis]
Senhoras e Senhores
Com muita satisfação e grande lisonja aceitei o prazeroso encargo, deferido pelo nosso Instituto Histórico, para dar as boas-vindas aos ilustres confrades da Academia Piauiense de Letras que, estrategicamente, planejaram visitar a terra oeirense, neste momento em que se comemora a data em que os heróis desta invicta cidade, ombrearam-se, forjados sob o sentimento de grande civismo, para dar e garantir o contributo da terra mafrensina e do Piauí em prol da independência do Brasil.
De fato, prezados Confrades e Confreiras, a “cidadela do espírito”, no dizer dagobertiano, esse oeirense de escol, nosso confrade e um dos grandes mentores do nosso Instituto Histórico, que por motivos de saúde, aqui não pode comparecer, honrando-me com mandato de representação; esta cidadela do espírito, que “fundada sob os auspícios do Bispado de Olinda, desmembrada da mais ocidental das paróquias pernambucanas, de então de Nossa Senhora do Cabrobró, é o marco institucional e primeiro e definitivo da
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criação do hoje Estado do Piaui” ́, como bem anotou o nosso confrade Fonseca neto;1 esta querida Oeiras,2 “nascida nos sertões de dentro, Capital do mando de outrora, capital perene das tradições do Piauí”, em candente qualificação por um dos maiores baluartes da Academia Piauiense de Letras - Arimatea Tito Filho, se sente profundamente honrada ao acolher os ilustres Membros da Academia à frente o nosso Presidente- Zózimo Tavares.
A honra de recebê-los em nossa cidade, caríssimos Confrades e Confreiras, se avulta sobranceira, ainda mais, pelo fato de que se trata de momento de grande relevância, eis que na história centenária da Academia, pela primeira vez, ocorre o deslocamento de sua sede, privilegiando Oeiras, já vinda de S R Nonato, em visita ao Parque Nacional da Serra da Capivara, onde realizou sessão solene para entrega do diploma de Membro efetivo e Perpétuo, da academia, à professora Niede Guidon, ocupante da cadeira 24.
Oeiras, portanto, recebe a ilustre comitiva, exultante, também, porque a APL vem até nós com o propósito, de extrema singularidade e de respeitoso apreço, para irmanar-se ao brioso povo da cidade e ao Instituto Histórico de Oeiras, e sob o pálio de profundo respeito, render homenagens a valentes e corajosos oierenses, na oportunidade em que se comemora a magna data de duzentos anos dos atos de
1 Vitória de Oeiras, a Fundação do Piauí, Fonseca Neto, Antonio, in Revista do Inst. Hist. De Oeiras, pag.
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Oeiras tem origem numa capela fundada em 1697 e dedicada a Nossa Senhora da Vitória. O povoado foi elevado a vila e sede de
Conselho em 1712. Tornou-se capital do Piauí em 1759, sendo elevada o município em 1761. Foi capital até 1851.
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heroísmo dos citadinos, em prol da independência do Brasil do jugo português.
Sem dúvida, o momento me é honroso, sensibiliza e comove o espírito. Minha palavra, talvez, não alcance a altura do significado deste evento. De fato, seria necessário talento ao orador e capacidade para garantir a cintilação das ideias, predicados de poucos, entre os quais não me incluo. Mas, espero que cada palavra dita, ela que é considerada “simples e delicada flor do sentimento”3, seja o desenho legítimo do pensamento, que aqui será expressado com fidelidade e singeleza.
De tal modo, considerando o alto significado das ilustres presenças de tantos membros da Academia, urge que o acolhimento, neste momento importante e solene, seja cinzelado nos anais do Instituto Histórico, com apuro e esmero, razão pela qual se deu preferência à palavra escrita.
Aqui está, pois, a palavra escrita, porque só ela, a palavra escrita, é imortal, só ela “nas artes a que é matéria- prima, fala ao mesmo tempo à fantasia e à razão, ao sentimento e às paixões”4
Senhoras e Senhores,
3 Escritor José de Alencar.
4 Latino Coelho; Dicionário da Sabedoria, Ed Fitipaldi; S Paulo 1985; p. 191
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Peço permissão aos concidadãos oeirenses e aos membros do Instituto Histórico, para, inicialmente, dizer um pouco sobre a Academia Piauiense de Letras, entidade de rico passado, constituindo “uma longa e bela história, que se traduz no mais perene e edificante testemunho de amor à cultura no Piauí”, como diz o nosso laborioso e produtivo Presidente Zózimo, e que, cá nos rincões desta cidade que “domina soberana quase dois séculos de história do Piauí, confundindo indissociavelmente sua trajetória”, na abalizada afirmação da confrade Teresinha Queiroz, o Instituto Histórico, no cumprimento do seu objetivo, também realiza, ao zelar pelas tradições, defendendo o patrimônio histórico-cultural do solo oeirense.
Senhores membros do Instituto histórico; prezados concidadãos desta amorável terra.
O que em princípio era só um sonho, uma ideia, entre outros de Lucidio Freitas, Fenelon Castelo Branco João Pinheiro, Jonatas Batista e dos oeirenses, Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, terminou virando realidade em 30 de dezembro de 1917, cuja instalação ocorreu em 24 de janeiro de 1918, há mais de cem anos, assegurando o que é, hoje, a Academia Piauiense de Letras: indiscutível verdade histórica, como o é, também, o Instituto Histórico de Oeiras, criado em 01.1972 e instalado na emblemática data de 24 de janeiro de 1972, há meio século.
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E quanto não é a admiração ao mergulhar no rico passado da Academia, inteirando-se da vida de ilustres piauienses, portadores de opulenta cultura, que mourejaram, incansável e despojadamente, no afã e no exercício sublime de dar vida e continuidade aos valores de nossas letras, mantendo-as identificadas com suas raízes nacionais
Grande e nobilíssimo tem sido o papel exercido pela Casa de Lucidio Freitas, ao longo da primeira centúria de seu nascimento. Casa de sonhadores impenitentes, a Academia, que teve como presidente o oeirense Clodoaldo Freitas, vem cuidando dos interesses culturais do nosso povo e zelando, por através dos tempos, pela cultura da língua e pelo desenvolvimento da literatura piauiense, revelando, como dito pelo mestre e acadêmico Celso Barros, “que o ideal que a inspirou traz, em verdade, o signo da vida longa e da imortalidade”.
Não sem razão, Arimatea Tito Filho, um grande realizador, que dirigiu a Casa por mais de vinte anos, traçando o perfil histórico da Academia, lançava inquestionável assertiva segundo a qual:
“A sua maior virtude consiste na sua resistência. Sofre, por vezes, e resiste. Curte amarguras e vitaliza-se. A poesia dos seus poetas, a prosa dos prosadores, as letras, enfim, em todas as suas nuanças, de todos os seus legionários, conjugam-se e constroem a
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defensiva e gigantesca muralha, que é ao mesmo tempo resistência e resignação”.
Outro notável Confrade, de passamento recente, professor Paulo Nunes, também pilastra mestra da Casa de Lucidio Freitas, ao evocar sua história, pugnou pela tese de que nem tudo que é humano tem destino sombrio de desaparecer através dos tempos, no lago do esquecimento, dizendo bem que:
“As academias, como em geral se pensa, não são câmaras mortuárias do passado, usando as palavras de Graça Aranha, mas instituições culturais comprometidas com a tradição, possuindo da cultura um sentido orgânico, na concepção de Gramsci; elas também se notabilizam como instrumento de transformação e de mudanças, vivendo aquela síntese dialética entre tradição e invenção de que nos fala Miguel Torga”.
A academia Piauiense de Letras, do alto de sua centúria, assim como o Instituto Histórico de Oeiras no seu cinquentenário, resiste ao tempo, mantendo-se de pé, sob o prisma do idealismo e da beleza moral. Ao longo do tempo, chama viva que é, tem mostrado que não são os técnicos, os cientistas, os homens práticos, que constroem a obra duradoura. Os poetas, os literatos, os escritores, os
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intelectuais, iluminados pelo ideal, são capazes de milagres como o de manter viva, pulsante e colaborativa essa vetusta entidade cultural.
Essa é a Academia Piauiense de Letras, senhoras e senhores, que “ antes de isolar-se em seus membros, ruminando sua produção e a elaboração literária, abre-se aos intelectuais de todos os matizes e formações; relaciona-se com todos os órgãos e entidades públicas, abriga estudiosos e estudantes de todos os níveis, para com eles interagir nos diversos ramos do conhecimento”, como o disse a nossa Confrade Fides Angélica, em conferência realizada a 24 de janeiro de 1998, por ocasião da comemoração dos 80 anos da Entidade.
Oeiras orgulha-se, meu caro Presidente Zózimo Tavares, caríssimos confrades e confreiras, de vir contribuindo, através da participação de vários dos seus filhos em prol das causas maiores do sodalício, defendendo a inteligência e os valores que a dignificam.
São muitos os oeirenses que atravessaram o umbral da Casa de Lucidio Freitas. Apenas Teresina supera a terra mafrensina em quantidade de membros.
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Tal acontecimento, sem dúvida, constitui galardão e laurel, produto de continuadas homenagens que a Academia vem deferindo à nossa cidade, ao revigorar, com o passar dos anos, a prática de manter em seus quadros filhos da ex-capital que, no passado, marcaram pujante presença nesse verdadeiro “Templo de Comunhão Cultural”. E são muitos os que emprestaram suas fúlgidas inteligências a serviço do Sodalício. Respeitoso, nominemo-los, reverentemente: Clodoaldo Freitas, o primeiro Presidente da Entidade, Coelho Rodrigues, Álvaro Mendes; Nogueira Tapety, Licurgo de Paiva; Leopoldo Damasceno; Pedro Brito, Vidal de Freitas, Petrarca Sá, Bugyja Brito, Luis Lopes Sobrinho, O. G Rego de Carvalho, Alvina Gameiro, José Expedito Rego, agora contando com as presenças de Dagoberto Carvalho, Welington Dias e deste orador.
Senhoras e Senhores Acadêmicos:
Tenho ouvido, ao longo dos anos, de amigos outros, em tom curioso a indagação sobre o que fascina tanto os oeirenses quando se referem à velha urbe. Que telurismo é esse, dizem, que é capaz de transfigurar o semblante de cada um de lá, quando a conversa gira em torno do passado da velha cidade? O que há de especial que arrebata os nativos, vinculando-os ao torrão de tal maneira que, estejam onde estiverem, trazem-no sempre na lembrança e no coração?
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São questionamentos para os quais procuro responder, com toda oeirensidade, que se trata de um bem- querer transcendental. São impulsos do coração, que nunca fenecem porque alimentados com o humus da sua história, rica em passado, mentora de heróis verdadeiros. Num lampejo filosófico acanhadíssimo, arrisco insinuar que esse amor por Oeiras é alimentado pelo espírito que só ela tem, secular e modelador da alma de cada um de seus filhos.
E foi assim que o amigo e confrade, Elmar Carvalho, filho de Oeiras pelos laços formais de merecido título de cidadania, que já havia se tornado oeirense por coração, vocação, predestinação e devoção, como afirma em seu opúsculo “Oeiras na Alma e no Coração”5 foi assim, repito, que o prezado confrade, alimentado pelo espirito secular e modelador da alma, interpretou muito bem a característica peculiar, idiossincrásica, do cidadão oeirense, através de seus poemas, crônicas, textos literários e discursos. Quem, desta cidade, não já recitou o seu célebre Poema Noturno de Oeiras, “navegando na noite de um tempo que não termina?
Pois é! O oeirense é assim: constitui particularidade dos seus filhos, como disse, motivado pelo rico passado, lembrar, com emoção, a terra amada, o lugar onde nasceu, como o fez, há mais de cem anos, o grande poeta Nogueira Tapety, membro ilustre de nossa Academia de Letras, que ao falar do aconchego da volta, da cidade iluminada, dos lugares
5 Oeiras na alma e no coração; Elmar Carvalho, pag. 05
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queridos, disse, em lírica manifestação de bem-querer telúrico, em uma das estrofes do decantado poema “A volta”:
“Aqui chego a julgar a vida uma delícia... Foi-se de mim o tédio
Ao sentir desse sol a paterna carícia,
Que do alto, manhã cedo, em luminoso assédio,
Envolve, alegra e doura tudo
Num glorioso esplendor ardente e mudo.”
Senhoras e Senhores,
Foi sob essa áurea espiritual, de amor a terra mafrensina que, tendo como patrono (in memorian) o Brigadeiro Manoel de Sousa Martins, nasceu, em 1972 o Instituto Histórico de Oeiras, sob o afã de aguçado patriotismo de intelectuais oeirenses, entre os quais os nossos confrades Dagoberto Carvalho e José Expedito Rego, com o propósito primordial de zelar pelas tradições e preservar o patrimônio histórico da terra mafrensina.
Em sua jornada de meio século, o Instituto tem se mantido firme na defesa do patrimônio histórico e cultural desta ex-capital, patrocinando eventos, em defesa da memória, da identidade e do patrimônio artístico e imaterial de nossa cidade.
A comemoração, hoje, de mais uma passagem do 24 de janeiro, ora completando duzentos anos da luta pela
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independência do Piauí, é mais um ato da zelosa atuação do Instituto Histórico em prol de manter viva as tradições culturais da vetusta cidade.
Cuida-se, a presente iniciativa, de extrema relevância, eis que se destina a resguardar em favor dos nossos pósteros, acontecimento de ato heroico praticado por ilustres oeirenses do passado que, movidos pelo ideal de liberdade, corajosamente, a 24 de janeiro de 1823, comandados pelo Brigadeiro Manoel de Sousa Martins, subleva a guarnição da capital e, juntos com outros ilustres filhos da terra, aderem à independência do Brasil e proclamam o príncipe Dom Pedro Imperador.
Sobre esse fato histórico, não direi mais, posto que temos aqui um dos grandes historiadores da nossa Academia e ex-presidente, o confrade Reginaldo Miranda, que nos brindará com palestra, relatando os feitos dos oeirenses em favor da independência do Brasil.
Finalmente, mais uma vez, dirijo-me, profundamente penhorado, à ilustre Presidente do Instituto Histórico de Oeiras, a professora Inácia Ferreira, bem como a toda a diretoria, e de modo especial ao nosso Carlos Rubem, ex-presidente do Instituto que, a seu modo, com olhos de Argos, vigia e protege, incansavelmente, os interesses culturais e históricos da nossa terra, para agradecer a honrosa missão de dar as boas-vindas aos prezadíssimos confrades da
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Academia Piauiense de Letras, o que faço, finalmente, dizendo- lhes, do recôndito da alma, do fundo do coração: sintam-se à vontade! Oeiras e o Instituto Histórico os acolhem sensibilizados, agradecendo a histórica e emblemática visita a nossa terra, neste momento em que, sobranceiro, avulta envolvente clima de grande civismo, pelas comemorações do 24 de janeiro, data magna em que a então capital do Piauí, levantou-se, altaneira, em prol da independência do Brasil.
Oeiras, 23 de janeiro de 2023.
Moises Reis
Membro da Instituto Histórico de Oeiras e membro efetivo da Academia Piauiense de Letras.
Discurso pronunciado no dia 23 de janeiro de 2023, no Cine Teatro de Oeiras, por ocasião da comemoração, pelo Instituto Histórico de Oeiras, e pela Academia Piauiense de Letras, da passagem dos duzentos anos da adesão da Capital Piauiense/Oeiras à Independência do Brasil.
Autoridades Presentes: Presidente da Academia Piauiense de Letras Zózimo Tavares; Presidente do Instituto Histórico de Oeiras – Inácia Ferreira; Governador do Estado, Dr Rafael Fonteles; Prefeito Municipal de Oeiras, José Raimundo; Presidente da Câmara de Vereadores, Vereador Expedito Martins; Presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, Dep. Franzé Silva; Bispo Diocesano, Dom Edilson Soares Nobre; Acadêmicos da Academia Piauiense de Letras: Zózimo Tavares; Magno Pires; Fonseca Neto; Reginaldo Miranda; Elmar Carvalho; Padre Toni Batista; Francisco Miguel de Moura; Oton Lustosa e Plínio Macedo;
Nota: Oeiras tem origem numa capela fundada em 1697 e dedicada a Nossa Senhora da Vitória. O povoado foi elevado a vila e sede de Conselho em 1712. Tornou-se capital do Piauí em 1759, sendo elevada o município em 1761. Foi capital até 1851.
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