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Ainda o caso do jumento
Elmar Carvalho
A republicação de minha crônica “O cavalo e o jumento”, em
meu blog, cujo link enviei para meus contatos de WhatsApp, suscitou alguns
comentários e relatos, que desejo compartilhar, de forma resumida, com meus
poucos e bons leitores.
O amigo Dr. Lucídio Melo, perito da Polícia Civil do Piauí,
me narrou que um seu irmão, ao dirigir por uma de nossas estradas, se deparou
com um cavalo a lhe obstruir a passagem. De forma cuidadosa e bem devagar, tentou
emparelhar o carro com o animal, quando de repente, de forma inopinada, o quadrúpede,
espantado, desferiu um violento coice no carro, danificando-lhe o farol. Os
cavalos, nessas situações, são imprevisíveis.
O Alcione Pessoa Lima, analista aposentado da Justiça
Federal, meu colega no curso de Direito (UFPI), nos idos dos anos 1980, me
relatou um caso acontecido com um amigo comum. Ia ele com esse bom amigo, em
demanda de uma bucólica e pequena cidade interiorana, quando avistaram um bando
de jumentos placidamente pastando à beira da estrada.
O seu companheiro de viagem argumentou que os jumentos viviam
ociosos, às margens das estradas, provocando acidentes rodoviários. Em suma,
morrendo e matando. O Alcione lhe ponderou que esses animais já haviam
trabalhado muito em prol dos humanos, tanto transportando pessoas como cargas,
ou puxando carroças e arados.
Acrescentou que as bicicletas, as motocicletas e outros veículos,
lhes possibilitaram essa “aposentadoria”. Mesmo assim os jumentos estavam
trabalhando, pois estavam desbastando o mato da beira das rodovias, cuja
limpeza deveria o governo providenciar. No entanto, esse amigo desfrutava de
uma polpuda aposentadoria remunerada, enquanto os jegues, mesmo abandonados pelos
proprietários, continuavam a trabalhar, como visto, ao menos para se alimentar.
Outras duas histórias me foram contadas pelo Reginaldo
Soares, amigo que fiz através da internet. Certo dia, em sua cidade, estava à
porta de sua casa, quando viu que um automóvel se aproximou de um jegue, que
pastava capim de burro, nascido quase milagrosamente por entre as pedras do
calçamento. O motorista, de forma cuidadosa, buzinou e aproximou o veículo do
bicho, que, como um verdadeiro e exemplar servidor municipal, limpava as ruas
da cidade.
Talvez o jumento tenha se irritado com a buzina ou não tenha
gostado de ser interrompido na degustação de seu repasto, mas o fato é que
desfechou um certeiro e violento coice contra a frente do veículo. O Reginaldo
se aproximou do carro, onde estavam o motorista e uma mulher, e lhes perguntou
se eles perceberam a patada do asno. Sorrindo, eles responderam que sim, e
seguiram em frente.
Vamos ao outro caso relatado pelo Reginaldo Soares, que é
também compositor, instrumentista e escritor. Vinha um jumento, de forma
acelerada, no encalço de uma jumenta no cio, quando atropelou um homem que ia,
em sua bicicleta, para a sua repartição pública. O ciclista levou uma queda cinematográfica,
mas que não lhe causou nenhum prejuízo à saúde.
O asno seguiu em frente, no encalço de seu objetivo. Contudo,
o homem ficou revoltado, ressentido, talvez envergonhado, com o orgulho ferido,
e disse que iria matar o animal, para isso se armando com uma grande faca.
Porém, pessoas amigas o dissuadiram de sua vingança, ponderando-lhe que sua
atitude não valia a pena, ainda mais que ele nada sofrera, exceto o vexame do
tombo.
Normalmente um jumento é um animal muito dócil, paciente,
podendo mesmo ser considerado a própria mansidão encarnada. Quase sempre nunca
age de forma violenta ou apressada. Anda de forma lenta, sem nenhuma demonstração
de pressa. Todavia, quando excitado, e já partindo para o coito, não mede distância
e nem consequência para alcançar o seu objetivo, quando pode agir de forma
aloprada e temerária.
Dessa forma, o acidente só aconteceu porque o ciclista foi,
drummondianamente, uma “pedra no meio do caminho”. Ou seja, foi uma obstáculo,
que ele teve de vencer, para atingir o seu alvo. Segundo o meu informante, o
jumento, após atropelar sua vítima, consumou, uns cem metros depois, o seu
desiderato.
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