sexta-feira, 14 de abril de 2023

Ainda o caso do jumento

Fonte: Google

 

Ainda o caso do jumento

 

Elmar Carvalho

 

A republicação de minha crônica “O cavalo e o jumento”, em meu blog, cujo link enviei para meus contatos de WhatsApp, suscitou alguns comentários e relatos, que desejo compartilhar, de forma resumida, com meus poucos e bons leitores.

O amigo Dr. Lucídio Melo, perito da Polícia Civil do Piauí, me narrou que um seu irmão, ao dirigir por uma de nossas estradas, se deparou com um cavalo a lhe obstruir a passagem. De forma cuidadosa e bem devagar, tentou emparelhar o carro com o animal, quando de repente, de forma inopinada, o quadrúpede, espantado, desferiu um violento coice no carro, danificando-lhe o farol. Os cavalos, nessas situações, são imprevisíveis.

O Alcione Pessoa Lima, analista aposentado da Justiça Federal, meu colega no curso de Direito (UFPI), nos idos dos anos 1980, me relatou um caso acontecido com um amigo comum. Ia ele com esse bom amigo, em demanda de uma bucólica e pequena cidade interiorana, quando avistaram um bando de jumentos placidamente pastando à beira da estrada.

O seu companheiro de viagem argumentou que os jumentos viviam ociosos, às margens das estradas, provocando acidentes rodoviários. Em suma, morrendo e matando. O Alcione lhe ponderou que esses animais já haviam trabalhado muito em prol dos humanos, tanto transportando pessoas como cargas, ou puxando carroças e arados.

Acrescentou que as bicicletas, as motocicletas e outros veículos, lhes possibilitaram essa “aposentadoria”. Mesmo assim os jumentos estavam trabalhando, pois estavam desbastando o mato da beira das rodovias, cuja limpeza deveria o governo providenciar. No entanto, esse amigo desfrutava de uma polpuda aposentadoria remunerada, enquanto os jegues, mesmo abandonados pelos proprietários, continuavam a trabalhar, como visto, ao menos para se alimentar.

Outras duas histórias me foram contadas pelo Reginaldo Soares, amigo que fiz através da internet. Certo dia, em sua cidade, estava à porta de sua casa, quando viu que um automóvel se aproximou de um jegue, que pastava capim de burro, nascido quase milagrosamente por entre as pedras do calçamento. O motorista, de forma cuidadosa, buzinou e aproximou o veículo do bicho, que, como um verdadeiro e exemplar servidor municipal, limpava as ruas da cidade.

Talvez o jumento tenha se irritado com a buzina ou não tenha gostado de ser interrompido na degustação de seu repasto, mas o fato é que desfechou um certeiro e violento coice contra a frente do veículo. O Reginaldo se aproximou do carro, onde estavam o motorista e uma mulher, e lhes perguntou se eles perceberam a patada do asno. Sorrindo, eles responderam que sim, e seguiram em frente.

Vamos ao outro caso relatado pelo Reginaldo Soares, que é também compositor, instrumentista e escritor. Vinha um jumento, de forma acelerada, no encalço de uma jumenta no cio, quando atropelou um homem que ia, em sua bicicleta, para a sua repartição pública. O ciclista levou uma queda cinematográfica, mas que não lhe causou nenhum prejuízo à saúde.

O asno seguiu em frente, no encalço de seu objetivo. Contudo, o homem ficou revoltado, ressentido, talvez envergonhado, com o orgulho ferido, e disse que iria matar o animal, para isso se armando com uma grande faca. Porém, pessoas amigas o dissuadiram de sua vingança, ponderando-lhe que sua atitude não valia a pena, ainda mais que ele nada sofrera, exceto o vexame do tombo.

Normalmente um jumento é um animal muito dócil, paciente, podendo mesmo ser considerado a própria mansidão encarnada. Quase sempre nunca age de forma violenta ou apressada. Anda de forma lenta, sem nenhuma demonstração de pressa. Todavia, quando excitado, e já partindo para o coito, não mede distância e nem consequência para alcançar o seu objetivo, quando pode agir de forma aloprada e temerária.

Dessa forma, o acidente só aconteceu porque o ciclista foi, drummondianamente, uma “pedra no meio do caminho”. Ou seja, foi uma obstáculo, que ele teve de vencer, para atingir o seu alvo. Segundo o meu informante, o jumento, após atropelar sua vítima, consumou, uns cem metros depois, o seu desiderato.  

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