quarta-feira, 10 de maio de 2023

GERSON CAMPOS – UM PASSEIO PELA MEMÓRIA INDELÉVEL



GERSON CAMPOS – UM PASSEIO PELA MEMÓRIA INDELÉVEL


Bernadete Maria de Andrade Ferraz


Gerson era uma “figura”! Um ser emblemático, múltiplo, autônomo, lúcido, afetuoso,  inventivo, pesquisador e ao mesmo tempo repentista, trocista, irrequieto,  hilariante. Gerson era elegante. Muitos oeirenses conheceram todos eles; todos conheceram alguns. Gerson jamais passou despercebido; sua luminosidade atraía as pessoas. Seu ar carinhosamente provocador mexia com Deus e todo mundo e todo mundo gostava. Foi Deus que o fez assim. 


A presença de Gerson em qualquer lugar ou situação era tão festiva quanto desejada. Nas tertúlias e nas festas do Oeiras Clube era esperado: ou como par ou como paquera ou como crooner, preferencialmente cantando músicas americanas e fazendo seus truques despercebidos quando esquecia trechos das canções. Como locutor era potente. Como cantor era o preferido pelos seresteiros e a voz desejada pelas contempladas. Gerson era um teatro natural e ambulante: onde ele estivesse encarnava o protagonista.


Nossa aproximação se fez via conversas sobre temáticas variadas. Posso dizer que a palavra falada, escrita, e cantada nos uniu. Havia um élan cultural em tom maior, mesclado pelo lado jocoso que a presença de Gerson incitava. Ambos éramos ledores contumazes e as análises literárias se estendiam permeando os ajustes dos pontos de vista. Conversávamos sobre os acontecimentos locais, nacionais, mundiais, nossas curiosidades inúmeras e filosóficas, nossos sonhos, planos, expectativas. Quando pousava no reduto natal, inesperadamente, as conversas eram alimentadas, também, pelos prós e os contras das atuações estudantis nacionais que marcaram espaço nos anos sessenta: Versos, versus botas. Eu toda ouvidos para o acadêmico de sociologia, em Recife. - Somos camaradas, brincava... Nosso papear originava reflexões e relaxamentos, sessões de risos e de cumplicidade, tudo isso em meio à realidade provinciana que nos acotovelava. Nossos espaços preferenciais eram as calçadas do “Palácio do Bispo” ou os degraus da igreja matriz, entre 19 e 21 horas. O parnaso simbólico.


Outro fator preponderante entre nós dois foi à música.  Descobrimo-nos como poetas e compositores em construção. Eu maltratava o violão, ele cantava bonito e assim nos instalávamos numa beira de calçada, num banco da praça ou no adro da Sé, para sessões sonoras intimistas. Nasceram alguns filhotes em parceria, sob uma metodologia ímpar, bem GD, como ele batizara. Cansados dos assentos improvisados, fazíamos caminhadas no quarteirão da rua entre o palácio e a matriz, rodeando o canteiro várias vezes. Eu solfejada uma melodia nascente e ele improvisava e encaixava a letra ou vice-versa. Entrecortávamos as criações com gargalhadas de euforia, como se estivéssemos a sós no mundo. Infelizmente, à época, ainda não existia o gravador de Alberto Reis e com o passar do tempo o da memória perdeu a memória. Contudo, perenizaram-se as descobertas.



Até no momento de sua mudança de plano vivencial, Gerson esteve presente, consciente, inteligente e feliz, no meu entendimento. Naquela tarde emocionante, naquele Estádio festivo Gerson buscava o que existia de mais frequente nele: a alegria. O poeta deu carta branca ao coração para ser feliz por causa de e apesar de... E a alegria que eclodiu sobre ele o acolheu de braços abertos para encaminhá-lo à paz maior. – Vai campeão!

Esse é o Gerson Campos fotografado pelas retinas de minhas lembranças e da saudade, pois que ele foi um mestre dessa semeadura. 


 “Você é isso, Estrela matutina, 

Luz que descortina 

Um mundo encantador.”

 

 “Você é isso, parto de ternura.” 


“Um menino passarinho com vontade de voar.”


“Dorme menino grande...” 

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