terça-feira, 30 de maio de 2023

Minha visão, em comentário, sobre o livro Fundação Cultural Assis Brasil - uma história a contar

Arte: Elmara Cristina


Minha visão, em comentário, sobre o livro Fundação Cultural Assis Brasil - uma história a contar


Wilton Porto 


De 31 de março de 64 a 15 de abril de 85 os militares estiveram no governo do estado brasileiro. Correspondeu 21 anos de perseguições, desterros, violências, prisões, mortes, "pau-de-arara", choque elétrico, inclusive nos testículos.


Os intelectuais, artistas de modo geral, usando de conotações, figuras de linguagem não se calaram.


Foi neste período, que nasceu a Fundação Cultural "Assis Brasil".

Naquele período, se quatro pessoas estivessem conversando, teriam que se dispersar, as luzes teriam que se apagar antes de 22h.

A venda estava em nossas bocas. Na distante Parnaíba não existia imunidade de perseguição.

A juventude intelectual e estudiosa queria e buscava alternativas para destravar a garganta.

Poesias, crônicas, jornais, teatro, movimento organizados, como o Movimento Cultural e Social Inovação, que tinha o Jornal Inovação, um dos jornais mais importantes da Parnaíba, o Querela, o Linguinha, o Tetéu e outros. Mais recente, o O PIAGUI.

Ednólia Fontenele era uma jovem de grande talento e muito cedo estava entre os nomes que sobressaíam dentro da cultura piauiense.

Era das pessoas que exerciam influência no grupo do "Inovação", e dentro da escola, a vivacidade, o afã de manifestar a luz tão intensa na fronte, a fizeram destaque e líder intelectual.

Fundou Jornal, levou professores a apoiarem a grandeza de espírito e tino pelas letras. Estava traçado o nome da Poetisa Ednólia Fontenele, com poesias de incomparáveis beleza, tonalidade social, política e romântica que a tornavam a princesa de uma geração de intelectuais.


Assim, com ideias muito avançadas, muito além do tempo dela, como disse Dr. Roberto Cajubá, Ednólia foi a principal mentora da Funcab.

A ousadia iniciou com o nome: FUNDAÇÃO CULTURAL "ASSIS BRASIL".

Assis Brasil, parnaibano, estava entre os maiores escritores do nosso país. Já havia conquistado,dois prêmios, por merecimento, dentro da literatura brasileira: o Valmap, o mais luzente, no Brasil.

Beira Rio, Beira Vida e Os que Bebem como Cães   realmente dignificam o Escritor parnaibano.

Ednólia e Airton Meneses não pestanejaram em homenagear Assis Brasil, embora se soubesse as causas do afastamento do Escritor da terra Natal.

A juventude intelectual estava disposta a não se calar, a não se dobrar fácil aos ditames da sociedade mandante e injusta.

E lembra, novamente, Robero Cajubá, no lançamento desta obra: "Ednólia era tão adiantada, no seu tempo, que a quase totalidade dos membros da diretoria, da Fundação   Cultural Assis Brasil, era de mulheres, quando as mulheres ainda pouco tinham participação em entidades sociais.


Para se saber com mais propriedade sobre esta fundação, devemos ler o livro que acaba de ser lançado pelo Escritor e Poeta Dr. Fernando Ferraz, intitulado FUNDAÇÃO CULTURAL ASSIS BRASIL, Uma história a ser contada.

Da minha parte, nesta matéria, farei alguns complementos e comentários que se fazem necessários.


A visão de ação da Funcab demonstra  a qualidade de pensamento dos seus membros.

Parnaíba sempre fora de uma tenacidade pioneirística fora do comum. E quase tudo de elevado começou em Parnaiba.

Navegabilidade, indústria, borracha, pesca, comércio estrangeiro, rádio...

Somos, hoje, uma cidade Universitária, e Federação das Indústrias desde o início existiu aqui.

Políticos de grande envergadura e homens de pontente poder são filhos desta cidade.

É de se acreditar que, entre os objetivos da Funcab, uma larga ideia cultural, administrativa e turista estivessem contempladas. Entre eles, a criação de um museu que contemple os inúmeros anseios dos intelectuais de modo geral.


Um grande momento da fundação foi o feliz desejo de se instalar uma biblioteca num vagão de trem. Originariedade e biblioteca única, neste estilo no mundo cultural.

Astúcia da juventude estudiosa, que congregava a Funcab.

Sigam o meu raciocínio em redor dessa biblioteca, que por motivos financeiros não vingou.


À época se tinha enorme preocupação, por não existir em Parnaiba, obra para os vestibulandos.

Os Professores de Literatura Alcenor Candeira e Rossana Silva: Colégio Cobrão e Dez é que se viravam em apostilas.

A Biblioteca Benedito Jonas Correia seria de uma grandeza sem tamanho. Supriria e muito esta lacuna.

E tem mais, espandiria o conhecimento do estudante.

O estudante que fosse àquela biblioteca, não ficaria só no estudo das matérias para vestibular. Ele poderia ouvir sobre a importância que teve aquele vagão, dentro do transporte de carga. Ouvir sobre a estrada de ferro, sobre o comércio, a facilidade de transportar carga, a melhora da economia...

Poderia ouvir sobre o Escritor Assis Brasil e Benedito Jonas Correia.

Fui Professor quase 30 anos.

E eu costumava perguntar quem conhecia Assis Brasil. A mudez era a resposta.

Ali, se teria aula, debate, informação sobre cultura, economia, comércio e cidadãos de destaque na sociedade.

De 15 em 15 dias poderia se levar escritores da cidade para falar do trabalho que desenvolve e as publicações.


Mas, onde estavam os homens que se preocupavam com o bem-estar da sua gente?!

Cultura e educação são transformação. E o mesmismo contribui para o encabrestar.


Certo dia, Ednólia Fontenele enviou-me uma mensagem, propondo que eu me mobilizasse, a fim de dar uma injeção de ânimo cultural, no tocante à Praça dos Poetas.

Aquele local havia sido abandonado, servindo de mictório público e área para os usadores de droga.

Contatei com o Presidente do IHGGP, Reginaldo Júnior, aproveitamos a presença do Professor de História Francisco Nascimento, que leciona na Universidade de Picos e estava em Parnaiba de férias. 

Convidamos várias pessoas para este trabalho, inclusive Bejamin Santos, o idealizador da praça, quando Secretário de Cultura do município.

Eu, Eliana(minha esposa), Reginaldo Júnior e Francisco Nascimento éramos a base do trabalho.

Contatamos com o Secretário de Infraestrutura, do Meio Ambiente e Cultura.

Colocamos lâmpadas de qualidade, compramos mangueira para irrigar a praça, conversamos com os comerciantes que trabalhavam ao redor da praça, a fim de que apadrinhassem áreas e da praça e cuidassem, tendo assim, abatimento de impostos e taxas.

Eu e Eliana ficávamos o dia todo correndo, gastando do nosso bolso com gasolina e compras de material, como mangueiras, torneiras e até lâmpadas. 

As Secretarias de Infraestrutura e Meio Ambiente eram as que mais procurávamos e eram todos atenciosos.

Iríamos arborizar a Praça e trocar as placas.

Marcamos um dia para fazer uma manifestação pacífica, na Praça da Graça, para culminar na Praça dos Poetas, em que teríamos vários eventos culturais.

Marcamos um encontro, na Prefeitura, com a Secretária de Cultura, Fátima Carmino.

Esta nos recebeu muito bem, inclusive informando que, O Deputado José Francisco Paes Landim havia enviado uma verba e parte seria para a Funcab.

Ao sairmos da reunião, o sr. Florentino Neto convidou-nos para uma nova reunião.

Chamou-nos de moleques e os outros adjetivos que não vale a pena revelar.

Disse, ter sido informado, que iríamos fazer manifestação política contra o Prefeito.

Nesta reunião encontravam-se eu, Eliana, Reginaldo Jr. Francisco Nascimento. Fátima Carmina também estava.

Eu falei em nome da Funcab. Dei-lhe uma lição de educação e bom tratamento. Eliana estava para pular no pescoço dele. Assim não deixamos ela falar. Mas até hoje, ele passa vergonha, se estende a mão para ela, em cumprimento. Hoje, ele passa longe dela.

Assim, não aconteceu o evento na Praça da Graça, porém, tivemos uma belíssima tarde cultural na Praça dos Poetas.

Chateados, abandonamos o trabalho de injeção. 


Ainda quero confirmar, que a Funcab promoveu encontro cultural na Praça da Graça, com varal poético, divulgação de obras próprias e de autores piauienses, declamações e debates.

Assis Brasil sempre foi divulgado por nós na coluna Culturescrendo e programa de rádio na Educadora, ambos sob a minha responsabilidade.


O IHGGP proveu uma semana cultural. Filmes e fotos e palestras aconteceram.

Assis Brasil esteve presente e fora homenageado. Eu discursei em nome da Funcab, como também o representei numa formatura de estudantes da Uespi.

Saímos com o Escritor em colégios e em todos Assis Brasil era ovacionado. Inclusive, no Diocesano, alunos declamaram para o Escritor parnaibano.

No IHGGP, ele também ouviu o discurso da Secretária Fátima Carmina.


Gostaria de afirmar que, quem mantinha a Coluna CULTURESCREVENDO EM JORAIS E RÁDIOS ERA WILTON PORTO.


MAGISTRALIDADE DA FUNCAB


Sei da paciência que o autor desta obra, Fernando Ferraz, teve para escrvê-la. Muito material disperso, um tanto consumido pelas traças e aqueles sorvidos pelo mofo.

A memória foi de grande valia. Cosme que possuía muita coisa de memória e encaixotado num quarto do fundo da casa dele, a família não tinha como ajudar. O IHGGP estava em "reforma" e não poderia fazer muito.

Impressionou-me a quantidade de documentos que Fernando conseguiu adquirir. Eu muitas vezes, para fazer melhor, precisei de documentações e ninguém tinha.

Quando foi para tentar salvar a Funcab, contatar com a Receita Federal, eu não pude.

Nem mesmo quando Renato Neves deixou a presidência e eu assumi, como vice, a pasta veio parar em minhas mãos.

Não podemos negar, que os esforços imorredouros foram demasiados. Que dentro das possibilidades não se pode dizer que nada se fez.

Em todo ato de manifestação cultural e artístico, estivemos marcando presença desde quando ela foi criada até o último respirar.

As dificuldades e os pensamentos contrários machucavam, porém não foram maiores que a nossa consciência do nosso papel de agentes culturais.

Quando Dr. Lauro me convidou para reativar a Funcab e pediu-me que convidasse Renato Neves para esta tarefa e aceitamos de prontidão e, não me torturei quando, impuseram que Renato fosse o presidente.

Problemas interno há nas melhores famílias. O que foi feito supera as dificuldades.

Não fizemos mais por falta de apoio financeiro.

Cultura ainda não é prioridade neste país. 

Posso dizer a esta cidade, onde não nasci, que fui além do que podia, e Ednólia Fontenele sempre acreditou em mim e nunca deixou de aplaudir os meus humildes esforços. 

Leiam este livro. Verão que, em tempos difíceis, a intelectualidade parnaibana levantou os braços,  a voz e fez.


E melhor: continua fazendo.


É preciso que se justifique um erro que cometi, quando uma aluna do Colégio Estadual "Lima Rebelo", Socorro, enviou-me o poema "Tédio", dizendo que era dela.

Publiquei-o na Coluna Culturescrevendo.

Elmar Carvalho chamou-me a atenção: o poema é dele, publicado no livro Rosa dos Ventos Gerais.

A culpa é mais minha do que do Fernando Ferraz.

Um comentário:

  1. Fernando Ferraz está prestando um grande legado histórico e cultural, quando pacientemente correu atrás dos feitos da Fundação Cultural "Assis Brasil". Nem me lembro das vezes que ele me procurou em busca de informações. Hoje, temos muitos dados do que se fez e das dificuldades que há em se trabalhar a cultura neste país. Com este livro, sabemos que a juventude, e os intelectuais em geral, não ficamos com o bumbum preso numa cadeira. O livro, além de mostrar as ações da Funcab, nos oferece uma fonte de pesquisa.
    Obrigado!
    Wilton Porto

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