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TRÁGICO DESENCONTRO
Elmar Carvalho
Nesta sexta-feira, estive na CEF,
tratando de assuntos de meu interesse. Fui atendido pela Natália, servidora
dinâmica e atenciosa. Estava presente uma senhora que não conhecia. Não sei por
que motivo, começamos a falar sobre assuntos de Oeiras. Eu disse a essa senhora
que eu era um quase oeirense, e me dava com quase todos os intelectuais da
velhacap, que são muitos e de escol; que havia escrito poemas e crônicas, em
que fiz a louvação da Terra Mater.
Ela me perguntou se eu conhecera
o saudoso escritor e médico Expedito Rêgo. Respondi-lhe que sim, e que ainda no
final do ano passado eu tivera a honra de ser o apresentador de seu livro
Crônicas Esquecidas, que também prefaciara. Disse-lhe que também havia sido,
por indicação de Ferrer Freitas, o apresentador de Vidas em Contraste, em
memorável noite de cultura, em que vi pela derradeira vez Balduíno Barbosa de
Deus, que havia sido meu professor no curso de Direito da UFPI.
A senhora terminou por me contar
uma tragédia que se abatera sobre sua vida, quando era recém-casada e estava na
flor da idade. Manoel Felipe, seu marido, era irmão de Expedito Rêgo, que
apesar da cara fechada e de poucos sorrisos, era um médico humanitário e um
homem bom. Quando ela estava prestes a ganhar seu bebê, o Dr. Expedito
recomendou-lhe que viesse tê-lo em Teresina, tendo ela seguido o conselho.
Teve parto normal, sem nenhuma
complicação, de sorte que dois dias depois pode retornar a Oeiras. Seu marido
achou por bem ir a seu encontro, em um jipe, como uma forma de homenagear a
mulher e a filha. Seguiram pela estrada que vai para o povoado Gaturiano, que
na época era uma carroçável de piçarra. Em certo trecho, próximo do povoado São
João da Varjota, hoje cidade, um caminhão emparelhou com o jipe, em que iam
Manoel Felipe, um amigo deste, e o motorista, um jovem de aproximadamente 18
anos de idade, provavelmente com pouca experiência e talvez com o entusiasmo
próprio da idade.
Ao que parece seguiram em parelha
durante algum tempo, com o pó da piçarra turbilhonando no ar, o que terminou
fazendo com que o motorista do caminhão fizesse uma manobra, de modo que a
traseira da carroceria atingisse o carro menor, que foi projetado para fora da
estrada. Acredita-se que essa manobra tenha sido proposital, pois soube-se que
ele se gabara de tal proeza, ao parar em um posto de combustível.
Manoel Felipe foi conduzido para
Teresina, enquanto seu amigo faleceu no local do acidente. Poucos dias depois
veio a falecer, quando tirava um cochilo, em consequência de sequelas do
desastre, com apenas 26 anos de vida. Acompanhei a narrativa atentamente, com
poucas interrupções para duas ou três perguntas. Olhei para o rosto de Durcila
Sá Rêgo, era este o nome de minha interlocutora.
Seus olhos vertiam sentidas e
copiosas lágrimas. O poeta Manuel Bandeira, em célebre e elegíaco poema, chorou
pelo que não foi, mas que poderia ter sido. Ela parecia chorar pelo que fora,
mas que poderia não ter sido, se em lugar do desencontro ocasionado pelo
trágico desastre automobilístico houvera acontecido o encontro sonhado e
buscado por Manoel Felipe. Perguntei-lhe se poderia contar o caso.
Com voz firme, sem titubeios,
respondeu-me que sim. Certamente, tem o consolo de ter tido uma boa filha, a
competente médica Conceição Sá, casada com o seu colega Tupinambá Vasconcelos,
de cujo consórcio lhe vieram os netos.
25 de maio de 2010
Que HISTÓRIA FANTÁSTICA, apesar da Tristeza que a envolve!... Parabéns, Elmar!... Imagino que Você (me permita tratá-lo assim) tenha sido completamente empático neste Encontro agora Casual , a ponto de nos passar quase inteiramente a Emoção do fato. Vale a pena conferir essa sua descrição por muitas vezes! Meu Muito Obrigado como Leitor.
ResponderExcluirRealmente caro amigo, a vida nos proporciona momentos desagradáveis quando menos se espera.
ResponderExcluirÉ muito triste sofrermos perdas de pessoas pelas irresponsabilidades dos outros.Assim perdi um netinho em Campo Maior.É uma dôr que nâo acaba.
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