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DESFALQUES
NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Valério Chaves
Desembargador aposentado do TJPI
O Tribunal de
Justiça do Piauí tem sofrido nos últimos anos consideráveis desfalques na sua composição de desembargadores por força
de inexorável disposição constitucional, uma vez que, por escolha voluntária,
talvez nenhum dos que já despiram a toga
nessa condição, seria desativado das funções judicantes no segundo grau.
Entretanto, há
de se reconhecer que a disposição constitucional tem sido rigorosa com várias e
apreciáveis inteligências do tribunal piauiense nos últimos anos, quando se
sabe que muitos dos que atingiram a idade limite da compulsória, estão ainda
saudáveis e intelectualmente aptos para continuar desempenhando as funções do
cargo por mais tempo.
Verifica-se que
a partir de 2010 muitos desembargadores do TJPI se renderam ao holocausto do
tempo, ou seja, despiram a toga como heróis de guerra que ensarilham suas
armas, deixando nas pegadas por onde passaram exemplos de coragem porque foram
justos no decidir e grandes na aplicação do Direito. No entanto, o tempo, que
não pode ser antevisto, como dizia PLATÃO, lhes foi implacável ao trazer a
colaboração grave de um dever sem recusa possível.
Vale a pena
registrar que entre esses heróis que se curvaram à imposição legal da
aposentadoria compulsória nos últimos cinco anos nomes como: José Francisco do
Nascimento, Antônio Francisco Paes Landim, Luiz
Gonzaga Brandão de Carvalho, Raimundo Nonato da Costa Alencar, Oton
Mário José Lustosa Torres, Maria Eulália Gonçalves do Nascimento Pinheiro e
Edvaldo Pereira de Moura.
Nesse contexto,
seria até escusado consignar que a aposentadoria compulsória, não representa a
culminância de uma trajetória de trabalho sabendo-se que os magistrados que a
ela se submeteram nos últimos anos, sempre souberam, pelos seus atos e virtudes
espirituais, revelar o verdadeiro sentido do homem e do magistrado.
Em verdade, a
história da crônica do Tribunal de Justiça do Piauí, mostra que em todas as
suas grandes decisões, todos eles estiveram presentes através da sensibilidade
e do trabalho intelectual. Conviveram, certamente, não apenas com os problemas
jurídicos que por dever de ofício, foram obrigados a enfrentar e decidir, mas
sobretudo com problemas sociais no percurso da árdua caminhada imposta pela
profissão que abraçaram.
Ao lado disso,
integraram-se, igualmente, e com a mesma convicção, na luta em favor do
prestígio e da dignidade do Poder Judiciário piauiense, virtudes que asseguram
respeito e independência da justiça institucionalizada, padecente nos dias
atuais tumultuados do presente, de campanhas desmoralizadoras, tudo em nome da
liberdade e da democracia.
Daí
acreditarmos que o “despir a toga” não significa necessariamente para esses desembargadores ter morrido para a
utilidade do trabalho como ocorria no filme japonês “A Balada de Narayama”
onde a única alternativa encontrada para a sobrevivência era a morte de quem
completasse 70 anos de idade.
De nossa parte,
como aposentado em tais condições, não tenho dúvida de que as pegadas de todos
os colegas desembargadores que se despediram do nosso Tribunal de Justiça nos
últimos anos, permanecerão como incentivo aos que ficam remoendo a dura
realidade que os rodeia.
Os juízes mais moços, não devem se distanciar dos exemplos de dignidade e de coragem deixados pelos mais velhos, principalmente nos dias atuais quando aumenta descrença do povo nas instituições brasileiras, ante manifesta carência de lições de democracia.
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