sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Admirável mundo dos palavrões e calões


 

Admirável mundo dos palavrões e calões


Fabrício Carvalho Amorim Leite


Avisa-se, leitor sensível, que a crônica adiante inclui palavras depravadas e pecaminosas (sobretudo para os falsos moralistas); insultuosas, perversas e da mais alta maldade e periculosidade. E, pede-se às crianças que saiam do ambiente.

De fato, minha introdução ao sedutor universo dos palavrões e calões ocorreu na infância, com o tio Xixita. Este, no conforto de um Chevrolet Caravam, acionava a buzina ao menor sinal de barbeiragem dos outros motoristas. Em seguida, um p*ta que o pariu, vai à m*rd*, burro, jumento, t*b*cudo ou xibungo, demostravam, assim, a sua notável erudição.

Infelizmente, com a chegada do ar-condicionado veicular, tio Xixita perdeu o posto de xingador mor e de alto escalão da família. E o Caravam foi para o cemitério dos car*lhambeques.

Vejam bem, os xingamentos dele não desaparecerem. Foi por culpa do abafamento do som, trazido pelos vidros elétricos das janelas dos carros, o querido Titio Xixita perdeu o portentoso título.

Agora, tudo que lhe resta é arregaçar as mangas com punhos cerrados, mostrar a língua para aumentar a f*leragem e, tal como um mestre no ofício, exibir o torto dedo médio aos coleguinhas motoristas. Isso, sem bofetadas, claro.

Para mim, o titio foi um visionário, espécie de Henry Ford dos calões, com colhões e muitos cabelos na venta (que é sinal de cabra macho e brabo), daqueles que, mesmo a ferro e fogo, venceram o fodástico mundo das aparências e convenções.

Do seu jeito, extravasava os seus inventivos sentimentos, já que, antes da terapia dos calões automobilísticos, era um sujeito que sempre estava em apuros e partia logo para a porrada.

E, pelo visto, titio deixou discípulos na família. Já que apreendi muito com o professor, tão e tanto que, num dia desses, ao topar numa pedra, soltei logo um f*d*-s*, f*o da égua e c*ralhos o f*dam!

Desgraçada pedra que me lascou o dedão do pé direito. Fiquei furibundo, de nariz torcido (e dedão também), como um cão raivoso (palavrõezitos).

Mesmo assim, quando o dedão ficou melhor, fui ligeiro andar a coçar o c* pelas esquinas, fazer cera, versos à Lua, andar a flaino, a preguiçar e a mandriar no boteco até entornar o caneco...

(*) cronista e contista.

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