domingo, 11 de fevereiro de 2024

SOU POETA

Fonte: Google

 

SOU POETA


Elmar Carvalho

 

Também sou poeta,

Alcides Pinto,

sou poeta.

E estou de mal com a vida

que nos acena

com miragens

que jamais irá cumprir.

Sou poeta, Alcides Pinto,

nunca neguei, sou poeta.

Mas sou puto com a vida,

megera encarquilhada

que nos acorda dos sonhos

que sonhamos acordados

pelo prazer de ser ma’drasta.

Sou um poeta

da vida, das putas,

das lavadeiras, dos ladrões,

dos assassinos, dos botequins

de cachaça, das (in)confidências

mineiras, dos deserdados da sorte,

dos enteados da vida.

Sou um poeta

das putas

mas não sou pu(e)ta

dos políticos

que tanto mentem

pro povo

que tanto enganam

o povo.

Não sei de

            física.

Não sei de

            metafísica.

Sei de

            metabolismo basal

e sei que o povo

passa fome.

Sei que

algum dia o

te’ar’pão

virá tecido no (te)ar

pelo arpão do povo

e pão haverá.

Sei que

alguma coisa está errada

porque o povo era pra ser

tudo

e agora não é nada.

Sei que

existem pássaro e flor

e sei

que o amor existe:

mas pássaro é canto, é liberdade,

e flor é vida, é alegria,

e o amor é tudo

mas tudo

está morto e triste

como uma catacumba

encravada

nas masmorras do inferno.

Quero

aproveitar a oportunidade

para comunicar a quem interessar

possa ou não, e deixar registrado

           – ad infinitum –

com certidão passada em cartório

que o sofrimento do povo me deixa

triste e me incomoda, e que

– saibam todos – no dia em que eu

disser o contráriooirártnoc

nesse dia – por medo – estarei

mentindo (e por favor não me

acreditem/creditem)

ou então

me terão feito

uma lavagem cerebral.

Sou poeta,

Alcides Pinto, sou poeta,

juro que sou poeta.

2 comentários:

  1. Caríssimo poeta, esta é das antigas ou vc está voltando em
    grande estilo à ativa. Pelo estilo me parece ser da década de 1970! De qualquer forma ouso dizer que há uma “redundância” nesse poema: vc é poeta antes de afirmar!!! Kkkkkkkkkkk

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  2. KKK. O "sou poeta" foi apenas uma espécie de refrão em cima de um poema de Alcides Pinto, que dizia "sou poeta, Mário Gomes", um poeta cearense, assassinado em sua juventude. O poema é de meados dos anos 1980. Obrigado pelo comentário.

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