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Praça Monsenhor Boson. Anos 60 |
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Praça Monsenhor Boson. 2023 |
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Patronato Mons Boson, onde funcionava a Escola São Pedro Nolasco e um Internato para moças. Obras de Mons. Uchoa. Anos 60 |
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Auditório Mons. Uchoa, anexo ao Patronato Mons. Boson. |
Todas as fotos me foram enviadas pelo Prof. Monte Filho, que lhes fez as legendas
Mons. Boson, virtuoso sacerdote e educador
Elmar Carvalho
Recebi das mãos do Des. Arnaldo Boson Paes o primoroso livro
Monsenhor Boson: o missionário da educação, de sua autoria. Edição esmerada da
Bienal Editora. Capa do notável artista plástico Paulo Moura e projeto gráfico
de Irmão de Criação. Arnaldo, nascido em Campo Alegre de Lourdes (BA), foi meu
colega no curso de Direito, na UFPI. Era bem jovem, simpático, alegre, dotado
de senso de humor e de aguçada inteligência.
Logo após a conclusão do curso, em que se houve com invulgar
brilhantismo, posto que inteligente e estudioso, logo foi aprovado em concurso
público para Juiz do Trabalho. Não demorou muito foi alçado a desembargador
dessa Justiça especializada. Foi presidente do Tribunal da 22ª Região, em que
ainda exerce as suas funções judicantes.
O livro tem como tema a vida exemplar e a notável obra
educacional do Monsenhor Constantino Boson e Lima. Logo que se estabeleceu em
Teresina para fazer seus estudos no ensino médio e em curso superior, e ao
tomar conhecimento da importante atividade magisterial de seu parente, o autor
desejou dedicar-lhe uma biografia, que lhe imortalizasse as realizações.
Contudo, os relatos dos atos e fatos de Mons. Boson se
encontravam dispersos em esconsos arquivos, em quase inacessíveis hemerotecas,
em matérias avulsas, publicadas em velhos jornais, revistas e outros
periódicos. Além do mais, o autor se encontrava, como ainda se encontra, no
auge de seu labor profissional, a proferir decisões interlocutórias, relatórios
e votos, fora o tempo em que exerceu atividades administrativas.
Com a evolução tecnológica e o surgimento das ferramentas
digitais, pôde ele executar o seu projeto. Ele próprio esclarece:
“Recentemente, ao entrar em contato com o acervo disponibilizado pela
Hemeroteca Digital, ferramenta desenvolvida pela Biblioteca Nacional,
finalmente encontrei a matéria-prima que tanto buscara. Seguindo as trilhas
apontadas pelo acervo digital, parti para a pesquisa de campo.”
O livro nos informa que os ancestrais de Constantino Boson e
Lima viviam na região situada entre o rio Poti e a serra da Ibiapaba, que
constituía a vila de Príncipe Imperial, que até o ano de 1880 pertenceu ao
Piauí, e que hoje forma o município de Crateús (CE).
O padre Sebastião Ribeiro Lima, nascido em 20 de janeiro de
1824, na fazenda Boa Vista, situada nessa região, se tornou o vigário da
freguesia de São Raimundo Nonato, na província do Piauí. Foi nessa condição
que, no final da década de 1840, o padre Sebastião foi rever o seu pago natal,
onde visitou parentes e fez celebrações do ritual católico.
Retornou à sua igreja, levando em sua companhia jovens
irmãos, entre os quais José Coriolano de Sousa Lima (1829-1869), que veio a se
tornar um grande poeta, de dicção popular e romântica, pertencente à literatura
do Piauí e do Ceará, e Jerônimo de Sousa Nogueira Boson Lima, falecido em 1876,
que se tornou fazendeiro, tenente-coronel da Guarda Nacional e promotor público
em São Raimundo Nonato, onde se casou com Francisca Adelina Lopes de Sousa
Lima, com quem teve dez filhos, entre os quais o nosso Mons. Boson, o caçula
dessa prole, nascido nessa localidade em 15 de outubro de 1868.
Preparando-se para ser sacerdote, Boson fez seus estudos em
São Luís, capital do Maranhão, a cuja Diocese o Piauí era vinculado; primeiro
no Seminário das Mercês, após aprovação em exame de admissão, e, depois, no
Seminário de Santo Antônio, em que cursou Teologia e Filosofia, vindo a
concluir seus estudos em 1891.
Além de funções sacerdotais em São Luís, o padre Boson
exerceu atividades administrativas, e veio a se tornar, em 30 de abril de 1897,
por ato do bispo Dom Alvarenga, reitor do Seminário de Santo Antônio. Em 1901,
“retirou-se para o Piauí para assumir a paróquia de Barras”, encantadora e
bucólica cidade, quase uma ilha, enlaçada pelo Marataoã e irrigada por suas
várias barras, que lhe sugeriram o nome.
Barras, cognominada Terra dos Governadores, mas a que
acrescentei, também, e de marechais, generais e poetas, teve três figuras
emblemáticas, como sacerdotes, no século XX: Pe. Boson, que conservou e
ampliou a velha matriz de Nossa Senhora da Conceição, em cujo cimo do
frontispício, então voltado para o poente e para o Marataoã, se via um Cristo
Redentor, de braços abertos, cuja história mais remota remonta à capela
iniciada em 1749 pelo coronel Miguel de Carvalho e Aguiar, em terra de sua
propriedade e à ampla e bela igreja colonial, cuja construção se deve, em
grande parte, à liderança e esforços do patriarca José Carvalho de Almeida; Pe.
Lindolfo Uchoa (1884-1966), que fundou, com o apoio das Irmãs Mercedárias,
o Patronato “Monsenhor Boson”, um internato para moças e a Escola São Pedro Nolasco, inaugurada em 13 de
fevereiro de 1955, destinada ao curso primário (o internato e a escola
funcionavam no patronato, cujo prédio fora doado e reformado pelo coronel Antônio
(Tote) Fortes Castelo Branco), além do célebre Colégio “24 de Fevereiro”, em Floriano,
considerado um dos mais importantes de nosso estado; foi um dos fundadores do
Ginásio Nossa Senhora da Conceição (18/04/1956) , juntamente com Geraldo
Majella Carvalho, José Alencar Lopes (Zé do Honório), Conrado Amorim de Sousa e
o médico José do Rêgo Lages, que funcionou inicialmente à noite, no prédio do
Grupo Escolar Matias Olímpio; na página 31 do livro Chão de Estrelas da
História de Barras do Marataoan, de Wilson Carvalho Gonçalves, na legenda da
foto da velha matriz, encontro a informação de que Mons. Uchoa a teria
ampliado; foi vigário em Barras em duas ocasiões, perfazendo uma permanência
total de 31 anos na paróquia; e Pe. Mário José de Meneses (1929-1993),
vigário de Barras por mais de 25 anos (29/02/1962 a agosto/1987), foi o
responsável pela construção da nova igreja, de frente voltada para o nascente.
Realizou obras sociais e no campo da educação. Sua memória ainda é muito viva
em Barras. Ao deixar a Paróquia de N. S. da Conceição, foi residir em Parnaíba,
onde exerceu o cargo de vigário-geral da Diocese, no bispado de Dom Joaquim
Rufino do Rego.
Em trabalho ainda inédito e em construção, referindo-me a Dom
Joaquim Almeida, escrevi o seguinte:
“Já com experiência na área da educação, como auxiliar do
bispo da Paraíba, ainda nos primeiros dias de sua gestão, adota providências
para criar três escolas em Teresina, sede diocesana, e duas em Parnaíba, a mais
importante cidade do estado, depois da capital.
Em 25 de março de 1906, portanto no primeiro ano de seu
governo episcopal, criou o Seminário diocesano e, em anexo, um colégio
diocesano. O primeiro se destinava à formação de sacerdotes católicos, e o
segundo para a instrução formal de crianças do sexo masculino, que ainda nos
dias de hoje presta relevantes serviços no ensino de nível fundamental e médio.
Ainda é conhecido como Colégio Diocesano, embora seu nome oficial seja Colégio
São Franscisco de Sales.”
No livro Joaquim (Fonseca Neto e Paulo Libório) consta que “a
direção era anualmente mudada, tendo sido o padre Bianor Emílio Aranha (1906) o
primeiro reitor do Seminário e diretor do Diocesano. Arnaldo Boson, em seu
livro, nos informa que no ano seguinte “o comando seria entregue ao padre
Boson”, meses depois de uma visita pastoral que o bispo fizera, em outubro de
1906, à paróquia sediada na cidade de Barras.
Segundo Arnaldo Boson, o Mons. Boson permaneceu à frente do
seminário em parte do episcopado de Dom Joaquim e exerceu a direção do Colégio
Diocesano “em dois períodos, tanto no bispado de dom Joaquim quanto no bispado
de dom Severino, a partir da reabertura, em 1925, permanecendo à frente do
educandário até a sua retirada para Parnaíba, em 1929”.
Em Parnaíba, no ano de 1929, foi nomeado primeiro capelão da
Capela da Santa Casa de Misericórdia. Exerceu o cargo de inspetor federal de
ensino, a partir de 1931. Pelo período de 16 anos, foi vigário e educador em
Parnaíba.
Cego, aos 77 anos de uma vida dedicada à Fé e ao magistério,
no dia 18 de outubro de 1945, Boson partiu ao encontro da luz que emana de seu
Criador. Dias antes, mais precisamente no dia 8 de setembro do mesmo ano,
ocorrera a instalação da Diocese de Parnaíba, a cuja solenidade festiva,
presidida por Dom Severino Vieira de Melo, não pudera comparecer.
Encerrava-se a vida de um exemplar e virtuoso sacerdote e
educador, cujas virtudes, ideário, metodologia pedagógica, caráter e perfil
moral estão delineados na biografia bem redigida e de denso conteúdo, que lhe
dedicou Arnaldo Boson Paes, após intensa e trabalhosa pesquisa.