| Charge da autoria de Gervásio Castro |
AS APARIÇÕES DO REDUZIDO
Elmar Carvalho
Dias atrás, eu, o Canindé Correia
e o Vicente de Paula, o Potência, fomos à praia Peito de Moça à procura do
amigo Porfírio Carvalho, irmão do Jonas e do Neco Carvalho, também nossos
amigos. Em virtude de equívoco em relação ao ponto de referência que nos deram,
não conseguimos localizar a casa onde ele estava hospedado. Por esta razão,
retornamos a Parnaíba e fomos ao Labino. À tarde, após um churrasco, seguimos
em direção ao Tabuleiro, Rosápolis e adjacências. Vimos as novas ruas que estão
sendo abertas e os trabalhos de urbanização que estão sendo feitos nessa zona
da cidade de Parnaíba. Fizemos uma parada logística no bar do Raimundo José
Clarindo, um misto de careca e cabeludo, que nos contou uma proeza pós mortem
do Zé Maria Reduzido.
O Clarindo, certo dia, não sei se
de finados, foi ao túmulo do saudoso Reduzido, para fazer umas preces em sua
intenção. Entretanto, teimosamente, as velas colocadas sobre a lápide não
acendiam, mesmo após várias tentativas. Em vista disso, ele tentou acender uma
delas encostando o seu pavio na chama de uma que havia num túmulo próximo, mas
ainda assim não obteve êxito. Após novas tentativas, o Raimundo José
perguntou-se em voz alta sobre a razão de as velas não acenderem.
Umas voz semelhante à do finado,
que parecia vinda de dentro da sepultura, respondeu mansamente, quase num
sussurro: - “Aqui dentro já faz tanto calor, e você ainda quer acender velas aí
em cima...” Após essa narrativa, recordamos algumas aventuras folclóricas do
Reduzido, e lembramos que ele era um talentoso mecânico.
Quando sua velha Variant marrom
“negava fogo”, ele quase milagrosamente fazia com que as velas de ignição, ao
contrário das de cera em seu túmulo, voltassem a emitir faíscas, fazendo com
que o carro voltasse a funcionar. Ele era tão autoconfiante em sua capacidade
técnica, que ao fazer alguma viagem levava apenas as ferramentas de praxe;
entretanto, conduzia vários pneus estepes, em torno de meia dúzia, simbolizando
com isso que os defeitos mecânicos não lhe causavam preocupação, mas sim os
imprevisíveis furos dos pneumáticos.
Em face da história das velas
inacendíveis, o Vicente de Paula (Potência) contou que o tenente (Bene)Dito
testemunhou duas aparições do saudoso Reduzido. Uma de manhã cedo, quando viu o
vulto do falecido a caminhar nas proximidades de sua casa; pouco depois, já não
viu mais a visão, como se esta se tivesse desfeito no ar. Posteriormente, a
imagem do Reduzido lhe apareceu de novo, com os cabelos bem pretos, bem lisos e
luzidios.
O tenente não teve nenhum
sobrosso porque no momento não se lembrou de que o Zé Maria já tivesse
falecido. Como lhe achasse bonito os cabelos tão pretos e brilhosos, manifestou
o desejo de lhes tocar, mas Reduzido não lhe permitiu o contato, afirmando que
doía muito, e, logo em seguida, desapareceu misteriosamente, como por encanto.
Quando o Vicente contou esse fato, o Clarindo ficou todo arrepiado, e eu então
fiquei certo de que ele acreditava piamente no episódio das renitentes velas
sobre o túmulo do Zé Maria.
O Reduzido tinha um humorismo
peculiar, e participou de várias peripécias pitorescas e folclóricas. Algumas
foram fruto de suas irreverências etílicas, satíricas, burlescas, mas sem
ofensa e prejuízo ao semelhante. Eram apenas brincadeiras e “tiradas”, oriundas
de sua verve e espirituosidade, voltadas para o riso e a alegria. Durante
alguns anos foi o principal responsável pela brincadeira de malhação do Judas,
que era dependurado e trucidado perto da igreja de São Sebastião.
Nunca ouvi falar de maldade que ele tenha praticado, e as suas duas aparições, se verdadeiras, e não apenas fruto da imaginação dos videntes, apenas revelam que ele era e é um espírito amante da irreverência inofensiva e do sadio bom-humor.
11 de janeiro de 2011

Ler o Elmar é viajar em reminiscências agradáveis, muitas delas jocosas o que aumenta o interesse e o prazer da leitura. Quando acaba, é uma pena, pois Elmar é bom de pena.
ResponderExcluirEsse anônimo sou eu OCTAVIO CÉSAR
ResponderExcluirGrande Beletrista, Parabéns
ResponderExcluirMuito obrigado.
ExcluirCaro Octavio César,
ResponderExcluirLeia
Sem peia
E sem pena
As minhas garatujas.