Foto: Elmar Cristina
14 de julho
DESPEDIDA DE GOLEIRO
O colega e amigo Thiago Brandão, grande matador, no sentido futebolístico da palavra, respondendo a um e-mail que lhe enviei, em que lhe explicava que pretendia publicar, em formato impresso, este Diário Incontínuo em 2016, quando terei sessenta anos de idade, escreveu-me pela internet: “Grande Poeta! Achei que, pela sua agilidade na atividade futebolística, mais precisamente em envidar esforço homérico evitando gols, estivesse Vossa Excelência ainda bem distante de atingir a sexagenária. De toda sorte, parabéns pela vitalidade física, mental e profissional”. Embora sabendo que a mensagem é fruto de sua bondade e lhaneza, não pude deixar de recordar os meus tempos de goleiro amador – amador do esporte e da vida, e amador porque nunca fui um profissional pebolista. Respondi-lhe nos seguintes termos, com certa auto-ironia: “o pior, ou o melhor, senão já terei partido desta para uma melhor, é que ainda vem a expulsatória ou compulsória ou septuagenária”. Depois, estourou a notícia de que o goleiro Bruno teria mandado matar a sua amante Eliza Samudio. Parece que essa posição futebolística, além de ingrata, é um tanto maldita. Primeiro, um golquíper é o único atleta a jogar, sobretudo, com as mãos; segundo, uma falha sua é quase sempre fatal, e, depois, as televisões só se preocupam em exibir os gols, em que o goleiro é visto em situação desfavorável. Pouco são mostradas as belas e difíceis defesas de um goleiro. Para completar a esdruxularia, até sua farda é diferente da dos demais atletas. Assim que assumi a Comarca de Regeneração, andei comentando que fora goleiro em minha juventude, mas que, depois dos quarenta, e mesmo depois dos cinquenta anos, ainda jogara no time da AMAPI. Acrescentei, com certa ponta de vaidade, que as pessoas que me viram jogar diziam que eu era um bom arqueiro, com atuações quase sempre regulares ou boas. Diante disso, fui convidado pelo advogado Luzmanell Teixeira Absolon para disputar uma partida em seu campo particular, conhecido como Teixeirão. Arrependi-me de haver sido linguarudo e um tanto fanfarrão, mas, para não passar por mentiroso ou fobista, aceitei participar de um jogo. Para não encompridar a conversa, devo dizer que foi uma ótima partida, com torcedores e bons atletas regenerenses da idade madura. Tive sorte. Atuei bem, e fiz pelo menos três boas defesas, em que executei “voadas” ou “pontes”, uma das quais estaiada. Inclusive, um dos torcedores, no final do entrevero, disse que uma das minhas defesas merecia ter sido filmada, e fazia a mímica correspondente, usando um telefone celular como se fosse uma câmera. Também disseram, mas acho que apenas por venenosa brincadeira, que eu fui poupado, em razão de meu cargo. Essa afirmativa não procede, pois os chutes foram violentos, verdadeiros torpedos, e bem no cantinho da trave. Posteriormente, fui convidado para novo jogo. Preferi declinar. Dizem que a primeira imagem é a que fica, mas eu acho que é a última. Assim, prefiro, como poeta, encerrar um soneto com uma chave de ouro, e, na qualidade de goleiro, prefiro pendurar as chuteiras com uma boa atuação. Surpreendi-me com o doutor Luzmanell. Pensei que ele só jogasse por ser o dono da bola e do campo, por sinal agradável, arborizado e bem gramado, mas percebi que ele tem intimidade com a pelota e conhece os segredos e macetes da arte futebolística.
eita papily q o sr. escreve muito bem, dispensa comentários..bj
ResponderExcluirMeritíssimo, pra "variar", o texto está valoroso. Eu continuo achando que o Piauí - na verdade, Campo Maior - perdeu um goleiro (não me me lembro quantos gols fiz na sua meta, no campo do Leopoldo Pacheco), mas ganhou um grande magistrado.
ResponderExcluirEu continuo "ligado" no blog e nos seus brilhantes textos, que nos enriquecem, sobretudo, pela clareza. Além disso, você costuma ilustrar o blog com fatos verdadeiramente históricos, que nos fazem lembrar de muita coisa que marcou as nossas vidas, não apenas na terra natal, mas em outras paragens. São os casos de Regeneração e Parnaíba, que você costuma citar nas crônicas.
Grande abraço
Antonio de Souza, jornalista, que, um dia, sonhou ser juiz.
Caro Antônio,
ResponderExcluirVocê foi muito pertinente em seu comentário. Pelo menos me esforço em dar seguimento ao Diário na forma como você explicitou. Tento colocar nessas crônicas memorislísticas alguma coisa de pitoresco, de engraçado ou que possa servir de lição ou de advertência.