quarta-feira, 21 de julho de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO


21 de julho

AS CORTINAS DE DEUS

Elmar Carvalho

Recebi um e-mail que prometia explicar os mistérios do comportamento e das desigualdades da vida humana de forma lógica. A justificação, em apertadíssima síntese, é de que a miséria e o sofrimento por que passam algumas pessoas é o justo “pagamento” pelo que essas pessoas já fizeram em reencarnações ou vidas passadas, e que se não fosse assim Deus não seria justo, pois nada justificaria serem alguns mais felizes e mais ricos do que outros seres humanos. Na verdade, essa teoria é uma velha conhecida minha. Muito já tenho meditado sobre ela, e creio que ela também não explica inquestionavelmente o assunto. Ora, mesmo admitindo o princípio do livre arbítrio e de que todos temos um espírito imortal, teremos que admitir que no início de tudo todos os espíritos humanos estariam em igualdade de condições, com as mesmas qualidades e nas mesmas circunstâncias, para que houvesse justiça. Se assim era, qual a explicação para que alguns tenham descambado para os mais graves pecados, enquanto outros tenham podido manter as mais excelsas virtudes? Alguns desses espíritos teriam algum defeito de fabricação, algum vício redibitório, como se diz no juridiquês? Mesmo o chamado livre arbítrio não explicaria essa degradação, pois se as almas estavam em igualdade de condições, tendo portanto as mesmas qualidades, umas não poderiam ser mais suscetíveis aos pecados e tentações que as outras. Muitos atribuem as diferenças entre nós humanos a diferentes fatores, como o ambiente, o meio físico e o meio social. Mesmo entre irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, criados nas mesmas condições, tendo as mesmas oportunidades, as diferenças, às vezes, são gritantes. Também se tenta explicar o comportamento através da psicologia, ciência por demais intrincada, que tem cometido erros escandalosos na área da medicina legal. Recentemente foi feito o chamado mapeamento do DNA, e as explicações genéticas para os aspectos físicos e psicológicos surgiram com muita força, inclusive até para os casos graves de psicopatia. As discussões e explicações nessa seara são longas e controvertidas, e tão cedo ou nunca serão conclusivas e muito menos unânimes. Quanto mais se estuda, quanto mais se descobrem novas coisas, mais surgem novos mistérios. No mundo do infinitamente pequeno, das subpartículas atômicas, fala-se no principio da incerteza. Na composição do ser humano, fala-se na genética, no DNA. Qual a importância deste na formação psicológica e moral de um homem? Creio que todos esses fatores que abordei acima poderão contribuir para a formação de nosso ser físico e espiritual, mas somente Deus poderá sopesar o percentual da contribuição de cada um desses elementos. E somente Ele, avaliando as oportunidades físicas, financeiras e espirituais que tivemos, os dons que recebemos, as nossas heranças genéticas, para o bem ou para o mal, poderá nos julgar. Podem existir infinitas dimensões. Cristo disse que na casa do Pai havia várias moradas. A Bíblia, no Velho Testamento, fala que Deus nos retornará segundo nossas obras. Estamos longe de conhecer todos os mistérios do Onipotente. Mas creio, como já disse em outro lugar, que Ele tem um plano perfeito, e que na continuação eterna da vida, que ninguém tem certeza como será, Ele nos há de receber a todos, puros e redimidos, sem máculas e sem pecados. Não nos angustiemos com os mistérios infinitos de Deus. Aceite-mo-los, apenas.

Um comentário:

  1. Tema que certamente merece abordagens diretas como a feita pelo autor. Tentar simplificar, apresentar formulas pre-concebidas ou dogmas para o tema da criação humana e das imperfeições do ser humano certamente não contribui em nada. O texto tem o mérito de mostrar como a perfeição de Deus deve ser compreendida.

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