18 de agosto
A ÁRVORE
Elmar Carvalho
Era por volta de sete e meia da manhã. Tudo bem claro, mas nada de excesso de luminosidade. A temperatura estava agradável; nada de calor, nem de frio. Contudo, eu não estava feliz naquele momento. Estava um pouco preocupado, por causa de coisas que não dependiam de minha vontade. Coisas que dependiam dos outros e das circunstâncias para serem resolvidas ou melhoradas. De repente, atentei para a beleza daquela árvore. Todo dia passava por ela, mas nunca havia reparado em sua nobre beleza. Embora não se destacasse por ser de grande porte, era altiva e copada. Seu verde era incomum, peculiar; tinha tonalidades ímpares. Suas folhas eram lustrosas, e pareciam ser de uma textura levemente esmaltada. Conforme as folhas estivessem contra ou a favor da luz solar, atingiam diferentes gradações esmeraldinas. Às vezes pareciam foscas, outras vezes, translúcidas. Algumas pareciam espelhos verdes, a refletir a luz do sol; daí a intensidade com que brilhavam. A folhagem da copa era densa, fechada, e se recortava contra o límpido azul do céu daquele dia, em que apenas alguns fiapos de nuvens se esgarçavam tênue e esparsamente. Pela primeira vez percebi suas flores. Eram grandes e belas. Algumas mal começavam a desabrochar. Outras estavam no apogeu de sua beleza madura e completa. Algumas ainda não eram; eram apenas botões, que ainda haveriam de se desabotoar em pura magia, no esplendor de sua glória. As pétalas róseas formavam uma espécie de coroa em torno de uma bolota, que certamente era o embrião do fruto que viria. As pétalas centrais pareciam ter uma franja dourada, arremate de pura e caprichosa ourivesaria. Aquelas gradações de verde e de brilho eram como que o símbolo da esperança, que nos deve alimentar a cada dia. Os diferentes estágios das flores, de broto a botão, de botão a flor, de flor a fruto, me fazem lembrar as etapas de nossa própria vida. Mesmo as flores que se não convertem em frutos são frutos; frutos de beleza e graça. Naquela árvore abençoada colhi o fruto da esperança, e segui confiante e já restituído a mim mesmo em minha integralidade. Rilke, na primeira das Elegias de Duíno, falava de uma árvore sobre a colina, que a cada dia poderíamos rever. Desejo que essa árvore possa sempre ser vista e revista, e se mantenha distante dos golpes brutais de um machado.
Esta arvore é conhecida como Curupira, tenho muita admiração pela sua beleza. Certo dia saí de casa preocupado no destino que daria aos cordão umbilical de minha filha que tinha se despreendido do seu corpinho; vaguei por ruas e mais ruas até chegar aos pés de uma Curupira, encontrei o abrigo que queria e entre suas raizes enterrei ali o umbigo da minha Maria Clara. Fiz uma prece e pedi a Deus que ela tivesse em vida a beleza, a força e o perfume daquela árvore. Um dia levarei minha filha aos seus pés e lhe contarei esta história que pra mim tem um significado especial.Louvado seja a natureza,bem aventurado aquele que tem tempo para contemplá-la.
ResponderExcluirCaro Simão,
ResponderExcluirEu tinha vontade de saber o nome dessa bela árvore, e vc resolveu esse problema. Aproveito para perguntar: ela realmente dá fruto?
Também não sabia que suas flores tinham bom perfume.
A curupira da minha foto fica perto do condomínio Pingo d' Água, em Regeneração, onde moro.
Ela também é conhecida como bala de canhão. O seu fruto é uma espécie de coité,ao cair depois de maduro exala um forte mau cheiro, já as flores são delicadas e perfumosas.
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