VIRGÍLIO QUEIROZ
Vou embora para um lugar onde eu possa ser feliz. Onde, pelo menos, eu possa brincar de ser feliz. Onde não exista “Domingão do Faustão” ou, quem sabe, televisão. Um lugar sem forró com mulheres gordas, de voz rouca, dançando sem arte, ao lado de meninos ágeis de pés macios. Quero um lugar para ser feliz. Não precisa ser Pasárgada, não quero ser amigo do rei. Quero um lugar onde não exista rei. Quero sentir o cheiro, o gosto da chuva nas plantas nas primeiras horas da manhã com o galo tecendo um novo dia. Quero andar por um caminho sem carros, sem pressa. Não quero ser escravo do relógio. Quero ouvir o farfalhar do vento nas folhas das árvores e a doce melodia de uma água de córrego. Porcos, galinhas, patos, um jumento manso, gatos, cães que se alegrem com a minha presença. Quero beijar e ser beijado com o gosto da vida e amar e ser amado pela natureza – mãe de todas as coisas. Andar de peito aberto, sem terno, sem documentos e sentar em um tamborete, beber uma pinga em um boteco coberto de palha, contar e ouvir piadas, abraçar os (poucos) amigos verdadeiros e, depois de bebum, cantar antigas canções. Voltar para casa, sem medo, numa estrada iluminada pela luz da lua. Dormir sem preocupação com um novo dia que será uma bênção como todos os outros que virão. Trabalhar a terra, derramar suor, aguar as plantas, sentir o perfume das flores e saudar os amigos que passam na estrada. Quero um lugar assim onde eu possa viver e morrer feliz.
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