REGINALDO MIRANDA
Presidente da APL
Nasceu em Teresina, a 5 de abril de 1894, filho do intelectual Clodoaldo Severo Conrado de Freitas e sua esposa Corina Freitas.
Fez os primeiros estudos no Liceu Piauiense, onde concluiu os Preparatórios. Orientado pelo pai, desde cedo adquiriu sólida cultura humanística. Compôs seus primeiros poemas ainda na adolescência.
Em 1912, aos 18 anos de idade, estreou em livro com Alexandrinos, coletânea de versos, em parceria com o irmão Alcides Freitas. O livro foi bem recebido pela crítica literária, angariando elogios. Por aquele tempo, a casa de seu pai era um dos pontos de encontro da intelectualidade piauiense. Nesse mesmo ano, preocupado com a preservação da memória cultural do Estado, distribuiu questionário aos intelectuais, depois publicando as respostas, com o objetivo de definir, na visão dos mesmos, quem era e quais foram os principais intelectuais do Estado, bem como avaliar o movimento literário local e as expectativas para o futuro (QUEIROZ, Teresinha. Os Literatos e a República. Teresina: FCMC, 1994).
Em 1914, aos 20 anos de idade, seguiu para o Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito. Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso, bacharelando-se em Direito no ano de 1916. Ainda estudante chegou a ser nomeado promotor público da comarca de Amarante, não tendo assumido efetivamente o cargo.
Durante sua estada no Rio de Janeiro, participa da vida literária, guiado por seus parentes Amélia de Freitas e Clóvis Bevilacqua.
Depois da formatura, retorna para Teresina, onde se demora por pouco tempo. Ainda em 1916, mudou-se para Belém do Pará, onde iniciou intensa atividade profissional. De imediato, passou a militar com destaque na imprensa local. Em 1917, publica Vida Obscura, seu segundo livro de poesia, que adquire grande aceitação no meio literário. Segundo a crítica especializada, Lucídio Freitas se afirmaria como um dos maiores líricos da poesia piauiense, com versos sonoros, rítmicos e perfeitos.
Por concurso público, assumiu a titularidade da cadeira de Teoria e Prática Processual na Faculdade de Direito do Pará. Sua tese foi publicada em 1919, com o título de Direito Processual. Por esse tempo, ingressa na magistratura, sendo nomeado Juiz Substituto da 4ª Vara Criminal de Belém. Portanto, ainda jovem estava com seu nome consolidado no Pará, como poeta, jornalista, magistrado e professor.
Em Belém, casou-se com a jovem paraense Maria Oceanira Amazonas de Figueiredo, de cujo consórcio gerou alguns filhos, entre esses Genuino Amazonas de Figueiredo Neto, residente no Rio de Janeiro.
O poeta Lucídio Freitas foi descrito por seu primo Cristino Castelo Branco, como loiro, bonito, amável, simples, alegre, comunicativo, bem educado, trajando sempre com esmero, causer delicioso, pleno de elegância, de graça, de espírito, de finura e de distinção, parecendo um ser à parte, baixado do Olimpo à terra (CASTELO BRANCO, Cristino. Vida Exemplar. Teresina: APL, 1922).
Todavia, conforme anotou Monsenhor Chaves, “quando tudo na vida lhe sorria, apareceram os primeiros sintomas da pertinaz moléstia que cedo o levaria ao túmulo” (CHAVES, Joaquim. Apontamentos Biográficos e outros).
No final de 1917, doente, veio a Teresina repousar por alguns dias. Entretanto, a atividade literária não permitiu o completo repouso. No início do mês de dezembro, no jardim público da Praça Rio Branco, profere conferência sob o título Elogio do Heroísmo, versando sobre a Guerra Mundial. Reuniu-se com a intelectualidade piauiense por diversas vezes e, em 31 de dezembro, presidiu a reunião fundadora da Academia Piauiense de Letras, passando a ocupar a Cadeira n.º 09, tendo por patrono seu falecido irmão Alcides Freitas. Mais tarde, também ele foi escolhido patrono da Cadeira n.º 23.
Com a saúde abalada pela tuberculose, retornou a Belém, onde continuou a sua atividade profissional. A doença agravou-se, retornando a Teresina por algumas vezes, e onde faleceu a 14 de maio de 1922, aos 28 anos de idade. Pouco antes do óbito, por iniciativa de seu venerando pai, foi publicado seu último livro, Minha Terra.
Essa síntese biográfica deixa transparecer a pujança intelectual de um jovem promissor falecido no alvorecer da vida, quando muito ainda poderia contribuir para o fortalecimento da cultura brasileira. Todavia, mesmo em sua curta existência legou ao povo piauiense a Academia de Letras, como seu principal idealizador. A ele, portanto, rendemos sinceras homenagens.
Enfermo, no leito de morte, com a família sofrendo muito, arrancou do velho pai, que já perdera outro filho, emoções em forma de sonetos: “Dou-te esperanças que não tenho, e ponho/ Nessa doce ilusão minha ventura.../Mártir do amor de pai, quanta amargura/Me punge ao despertar de cada sonho!//Eu nunca me prostei ante os altares/Nem jamais invoquei de Deus o nome;/Vendo entretanto o mal que te consome,/Ergo, contrito, ao céu tristes olhares!//Bem sei que as leis fatais da natureza/Não se amoldam jamais ao nosso pranto,/Não têm jamais da nossa dor piedade!//Na agonia mortal dessa certeza,/Contemplo a definhar, cheio de espanto,/Gênio, glória, beleza e mocidade!”. Também: “A esperança é o pão dos desgraçados.../Dele há muito me venho alimentando!/Onde o coração humano e quando/Golpes tão fundos recebeu dos fados?//Pobre Corina, companheira aflita,/Mais do que eu, talvez, desatinada!/Ai mãe! Triste mulher! Tão malfadada/Foste em tua prole, Niobe bendita!...//Sofro, dobrado, filho, o teu tormento,/Todo o meu ser concentro em tuas dores,/Minha vida, minh’alma e pensamento!// Sofresse o teu sofrer e eu pudesse/Transferir para mim tantos horrores,/Talvez menos horrores padecesse...”
Para finalizar, sobre a própria dor, bradou Lucídio Freitas: “Perscrutadoramente os olhos ponho/No que fui, no que sou, no que hei de ser,/E alucinado dentro do meu sonho/Sinto a inutilidade do nascer.//Nem o Amanhã da Vida me conforta./E eu sigo, enquanto minha estrela foge,/Amparado na minha própria sombra...//Para vencer, em meio à Vida,/Montei, fogoso, o meu corcel./De pluma ao vento, lança erguida,/Sonhando achar, em meio à Vida,/De ouro montanhas a granel...//Ah! Fui vencido em meio do combate/Pela força brutal da Realidade,/.............................../Os meus sonhos de glória feneceram./E eu fui sempre um sonhador divino./Cedi à leis fatais do meu Destino,/Doença da qual os meus Irmãos morreram...”.