CUNHA E SILVA FILHO
Da sua biografia pessoal, familiar, de sua formação primária, secundária, superior nada sei, infelizmente. Somente sei, por informações contidas nas edições do autor, que estudou inglês em Nova Iorque, provavelmente no final da segunda década do século passado, pelo “American Progressive Method”, método cuja abordagem desconheço nem tampouco por qual escola ou curso ou universidade era ministrado, bem como detalhes sobre seus professores, duração do curso, assim como período em que o jovem estudante permaneceu na América do Norte. Só posso deduzir que, em virtude da época em que atuou José Luís Campos Jr, o que aprendeu com os americanos equiparava-se ao chamado método de tradução, versão, gramática, exercícios gramaticais, conversação, ou seja, a abordagem já aproveitava o que anos depois, com o direct method, do início década de trinta, iria utilizar. De resto, foi precisamente em 1932, que o Externato Pedro II introduziu esse novo método por iniciativa, conforme dá notícia num prefácio a um dos seus livro da série From facts to Grammar(Editora Globo) outro grande autor didático de língua inglesa, J. de Mattos Ibiapina, do Colégio Militar, do Dr. Henrique Dodworth, diretor do Externato Pedro II, e por sugestão do filólogo e professor Dr. Delgado de Carvalho.Segundo o citado J. de Matos Ibiapina, o novo método atualizaria nas escolas brasileiras o que se estava fazendo no ensino de idiomas modernos nos países cultos.
O novo approach consistia em elaborar o livro didático todo em inglês, e exigir que, por sua vez, o professor, o chamado lente de então, ministrasse as aulas em inglês. Aboliu-se a tradução. Na prática docente, porém, alguns professores não seguiam à risca o direct method, na maioria das vezes porque eles mesmos não dominavam o inglês falado nem perspectiva, por parte das autoridades do ensino público, tinham, com poucas exceções, de aperfeiçoar-se no exterior.
No direct method valorizava-se a conversação, o que, de alguma maneira, o aproximava da abordagem mais recente no ensino de línguas, a communicative approach, que possivelmente ainda se vem firmando cada vez mais entre os professores de inglês. O professor J.L. Campos Jr., que vem de mais longe, aderiu ao direct method mas adaptando-o à sua visão pedagógica, porquanto nos seus livros escritos só em inglês, como é exemplo a serie em três volumes, The máster key, ainda se utiliza de exercícios de tradução e versão, mas não como aspectos dominantes de apredizagem.
Os livros de J. L. Campos Jr. eram sugestivos, bem dosados, interessantes, ilustrados, em suma, eram obras escritas com competência didático-pedagógica que muito devem ter ensinado a gerações de estudantes pelo país afora.
Nem mesmo sei se é de São Paulo, nem quando nasceu e faleceu. Nunca vi uma foto sua ou da família. Provavelmente seja de São Paulo, se levar em conta que deve ter passado a maior parte da vida lecionando, em diversos colégios da capital paulista e tendo seus livros, se não incorro em erro, sido publicados por editoras de São Paulo, com exceção do primeiro, que foi editado em Nova Iorque, em 1916, cujo título é The entertainer . O professor Campos Jr. também teve seu próprio curso, o Curso de inglês Washington Irving , na Rua Bento Freitas, São Paulo. Não sei por quanto tempo funcionou esse curso. Suponho que por muito tempo e que tenha tido muito sucesso.
Só sei que o primeiro contato que tive com o nome do autor foi através da biblioteca de meu pai, em Teresina. Estava mais ou menos nos meus quatorze anos, ou menos, não sei bem, quando, examinando livros de papai - eu tinha este costume -, naquele quarto que uma vez chamei de “quarto-biblioteca”, lá encontro um dos livros de J. L. Campos Jr. Era uma edição velha com páginas faltando do How to learn English, publicado pela Editora Globo, de Porto Alegre. A edição datava possivelmente dos anos quarenta. Estava com muitas páginas iniciais faltando.
Em 1964, a trouxe para o Rio comigo. Depois, a perdi não sei onde, mas encontrei um exemplar dela mais novo, a edição de 1956, da mesma Editora Globo, que, nos anos setenta, mandei encadernar.
Aqui, no Rio de Janeiro, passando por um sebo do Centro, vi um outro titulo do autor, Let’s speak English, edição antiga, publicação da Livraria Editora Pauliceia, São Paulo, sem indicação da data da edição.
Em casa, vendo, página por página, verifiquei que estava faltando uma página e havia, em outra parte do livro, uma página com a extremidade inferior esquerda contendo um rasgão, impedindo de ler na sua inteireza a página e o verso. Fiquei chateado, mas não fui reclamar com o vendedor.
Uma vez, indo à Biblioteca Nacional, de repente me bateu a ideia de saber se ali havia um exemplar do Let’s speak English. Com alegria o encontrei. No entanto, me lembrei que teria que ir outra vez à Biblioteca a fim de copiar à mão as duas páginas que estavam faltando. Assim o fiz: voltei à Biblioteca Nacional e copiei, em duas folhas de papel, os textos que faltavam. Ótimo!
Ainda hoje, no meu velho exemplar encadernado ( aliás encadernação feita com esmero por um antigo aluno meu de um curso preparatório na Penha, bairro carioca), estão inseridas as duas folhas de papel contendo os textos que faltavam. Estas duas folhas, hoje, já estão amarelecidas e mesmo em alguns pontos, rasgando-se. Como o tempo é implacável!
Estão, agora mesmo por sobre a minha escrivaninha onde digito esta crônica.. Releio-as e observo que a minha antiga letra está firme e legível. Apesar do computador, ainda faço muitos textos à mão, em seguida, o digito.Não posso perder o contato com a escrita manual. Seria um desastre!
Além dos livros citados, J. L. Campos escreveu outras obras importantes didáticas sobre a língua inglesa. Tenho quase todas elas, pelo menos as mais importantes. Entre as editoras que deu a lume suas obras , contam-se a Companhia Editora Nacional, que publicava, sob a direção de Fernando de Azevedo, um grande número de bons livros didáticos da sua chamada Biblioteca Pedagógica Brasileira, as Edições LEP LTDA., que, inclusive, publicou o monumental Dicionário Inglês-Português, ilustrado pelo próprio autor, o que significa que era também um artista, um desenhistas de mão cheia. A preparação desse dicionário custou ao autor oito anos de pesquisa lexicográfica num trabalho hercúleo feito individualmente. A aquisição dessa obra juntamente com outra, Correspodência comercial inglesa, estão ligadas, por laços de afeto e de amor, às minhas memórias biográfico-bibliográficas e sobre elas já escrevi uma crônica publicada nesta Coluna.
Se algum ex-leitor, ou familiar descendente de J. L. Campos Jr. por acaso me lerem este texto, e queiram me subsidiar com algumas outras informações, muito antecipadamente agradeço a deferência.
Que o leitor me desculpe pela mania de querer prestar homenagem a livros e autores do passado que me deram e ainda estão me dando como o fez J. L. Campos Jr. e outros mais, uma grande contribuição no que se refere à minha formação intelectual no estudo de línguas da minha preferência, sobretudo em época que era tão difícil procurar aprimorar-se em idiomas, pois não contavam os jovens com as facilidades que hoje têm, com a Internet e as possibilidades de aprender línguas estrangeiras, com cursos de todos os tipos, espalhados pelo planeta e com tantos recursos pedagógicos oriundos dos avanços dos estudos de linguística aplicada, professores mais atualizados tecnicamente, com livros didáticos já contemplando as vantagens eletrônicas tão distantes dos queridos livros didáticos de antigamente.
Já disse alhures que os meus grandes autores didáticos de ontem fizeram milagres com os parcos recursos de que dispunham, contando só com o talento e a sabedoria que, graças a Deus, neles sobejavam.