Cunha e Silva Filho
Tema
por demais controverso, o conceito de intelectual formado por
leitores, acadêmicos pertencentes às academias de letras, de
ciências, ou as duas juntas, e ainda a grande parcela oriunda do
meio universitário e dos grandes centros de estudos avançados nas
sociedades de elevada complexidade intelectual, bem como pela mídia,
por grupos culturais diversos, pela sua própria natureza , pelos
seus inúmeros e intrincados componentes implicados na escala de
conhecimentos, de erudição, de experiência, de produção
científica ou artística, torna-se uma questão difícil de
resolver-se no simples espaço de um artigo.
O
que pretendo discutir sobre o tema diz respeito a duas situações
reais que dividem opiniões diferentes e sobretudo polêmicas:
1)
Em que nível de conhecimento se pode considerar alguém, novo ou
velho, um intelectual?;
2) Pode-se definir um jovem como sendo um intelectual? A estas duas indagações, tentarei responder nas linhas seguintes.
2) Pode-se definir um jovem como sendo um intelectual? A estas duas indagações, tentarei responder nas linhas seguintes.
A
questão de classificar o indivíduo como intelectual não depende, a
meu ver, da faixa etária, pois esta não é a medida ideal pela qual
se há de avaliar o nível intelectual de uma pessoa.. O que pesa na
definição é o amadurecimento, a capacidade de reflexão crítica,
a operosidade e o nível de conhecimento revelado por ela. E isso
vale tanto para o jovem quanto para o mais velho. A prática tem
provado que , no exemplo da vida cultural brasileira, grande parte de
jovens intelectuais iniciaram suas vida escrevendo obras que de
imediato se fizeram respeitadas no cenário da intelectualidade do
país. Daria alguns exemplos - e estou me limitando apenas ao campo
da ensaio, da história, da crítica, da filologia, da Linguística,
- Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Alceu Amoroso Lima,
Álvaro Lins, Afrânio, Coutinho, Nelson Werneck Sodré ,Augusto
Meyer, Antonio Candido, Gilberto Freyre, Eduardo Portella, José
Guilherme Merquior, Roberto Schwarz, Sílvio Elia, Serafim da Silva
Neto, Mattoso Câmara, Mário Faustino, entre tantos outros. São
autores, são intelectuais que, bem cedo, demonstraram a que vieram e
todos eles desenvolveram seus estudos posteriores cada vez mais
reafirmando maior profundidade e qualidade ao longo dos anos. Ainda
que, em alguns caso, tenham sido interrompidos por morte precoce.
A
história cultural tem acentuado que a precocidade é um dos sinais
mais indicativos do intelectual. Sua pouca idade é compensada pela
formação contínua na incorporação e assimilação de
conhecimentos e saberes, de realizações que se devem ao talento e a
uma disciplina rigorosa no que concerne aos seus estudos, às horas e
anos gastos dedicados às investigações e pesquisas . Tudo feito em
pouco tempo, porém com produção intensa e extensa em alguns casos.
Por outro lado, a condição de ser um jovem intelectual não se
limita apenas a contribuições que deram às suas áreas de estudos,
mas ao seu poder de influir sobre a vida social de seu país, seja
pela irradiação de seu pensamento, seja pelo respeito e
consideração que conseguiu de seu pares e de parte considerável da
sociedade.
Estou
tomando o conceito de intelectual aqui não apenas considerando-o
pela faixa etária, mas pelo seu desempenho e importância que foram
naturalmente conquistados pelo seu poder de debater, em sua atuação
principal, aquilo que é relevante ao desenvolvimento da sociedade.
Estou falando da força saudável que provém do papel do intelectual
em ser um elemento ativo , dinamizador, catalizador de ideias que se
podem transformar em ações concretas não somente no âmbito de
suas investigações como também na debate nacional que se dirigem
às mais prementes questões de interesse da nação e de sua vida
cultural n o sentido mais vasto do termo.
É
claro que um jovem intelectual é um ser em processo de formação
contínuo, mas isso não o impede de atuar fortemente em defesa de
grandes causas, seja no terreno das letras, seja no das ciências,
das artes e do pensamento social. Por conseguinte, não me parece
correto negar levianamente o conceito de intelectual só pela faixa
etária. A formação do conhecimento a que já me referi, é uma
ação contínua da inteligência. O mais acertado, na discussão do
tema, seria a combinação do novo com o mais antigo, desde que
exista a indispensabilidade do talento, da seriedade nos estudos e da
capacidade de trabalho , enfim, da produção intelectual. Dissociar
os valores novos dos valores mais experientes me parece um erro grave
e um lamentável preconceito, tendo em conta que nem sempre o passar
do anos é bem aproveitado pelo indivíduo na obrigação que ele tem
diante do aperfeiçoamento e de sua continuidade de estudos e
pesquisas. Quando o indivíduo lamenta o tempo perdido que, se fosse
aproveitado em anos anteriores de sua formação cultural, essa
atitude põe por terra a hipótese de que os anos vividos são, por
si sós, atestados de desenvolvimento de melhor qualidade de
conhecimento. A condição do status de intelectual não será,
repito, mensurada pela idade, e sim pela dedicação plena da
intensidade e extensão do cultivo do saber e de sua transformação
em obras de bom ou excelente nível. Não é uma questão meramente
de anos de vida.
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