Cunha e Silva Filho
A
entrevista concedida pela ex-mulher de Fernando Collor de Melo,
Rosane Collor, a uma repórter da Rede Globo, Renata Celibelli,
durante o Programa Fantástico, veio reabrir antigas feridas no
lusco-fusco da política brasileira, principalmente dos bastidores da
vida privada daquele que, após a ditadura, foi o primeiro a assumir
o comando do governo do Brasil. País fantástico, de eleitorado
fantástico, enfeitiçado pela juventude de um homem de quarenta anos
que, pela sua retórica algo caricata mas insinuante e carismática,
cheio de bravatas, logo conquistou o coração dos eleitores,
em geral, como sempre pouco informados sobre quem lhes possa dirigir
o destino, seja, na vereança, seja no legislativo, seja no
executivo estadual ou federal.
Collor
encantou as matronas brasileiras com a sua pinta de galã e sua
figura atlética, sua simpatia e seu desejo de mudanças radicais,
sobretudo tendo como uma das bandeiras varrer do Palácio do Planalto
(aqui tomado metonimicamente) todos os por ele chamados de marajás,
ou seja, indivíduos que auferiam grandes salários, verdadeiros
paxás sustentados pelo Erário Público, enquanto a massa ignorante
brasileira se afundava na miséria extrema, inclusive no próprio
Estado de origem do candidato “caçador de marajás”, Alagoas.
Com esses tributos ganhou trinta e cinco milhões de votos da
população brasileira!
Collor
era uma espécie de Pacheco, personagem eciano da políticalha
brasileira. Tudo que afirmava era regra de ouro. Com o apoio e a
confiança dos milhões de votos, o jovem presidente pensou que iria
impor tudo que quisesse em termos de mudanças nos rumos da
administração pública. A economia brasileira sob o comando da
Zélia Cardoso, lançou um novo plano econômico, o Plano Collor, a
que se seguiu o Plano Collor II. Cortou benefícios de pensões de
dependentes de militares, até no setor dos militares, mexeu
drasticamente na economia brasileira, confiscando o dinheiro da
poupança dos investidores, sobretudo dos que mais tinham dinheiro
investido. Confiscou também o dinheiro de médios investidores.
Enfim, revirou de ponta cabeça a economia e as finanças do país.
Ora, essa mudança repentina na economia teve consequências graves:
empresas de menor porte se arruinaram, investidores, da noite para o
dia, se viram falidos e houve até notícia de que alguém cometeu
suicídio apoios saber que lhe haviam confiscado o dinheiro investido
na poupança. Seu suposto plano de mudanças radicais na governança
do país era abrir o país à onda neoliberal, implantar as condições
aqui do capitalismo globalizado, tendo como carro-chefe o livre
mercado. Ao mesmo tempo, instituiu o processo de privatização das
empresas do governo, com vistas a diminuir o gigantismo da máquina
do Estado Brasileiro.
Por
outro lado, outros componentes vieram à baila no curtíssimo mandato
de Collor: as notícias de corrupção tendo como pivô o tesoureiro
da campanha dele para a presidência, o P.C. Farias, imbróglio no
governo do “caçador de marajás” que terminou, mais tarde, em
tragédias, com a notícia do assassinato de P.C Farias acompanhado
de sua amante, crimes, até hoje, não completamente desvendados
quanto à autoria dos criminosos ou mandantes. Em seguida, houve a
morte do irmão de Fernando Collor provocada por um câncer no
cérebro. O irmão de Collor, Pedro Collor de Mello, por sua vez, foi
quem havia feito as primeiras denúncias de corrupção no governo,
nelas envolvendo o mencionado P.C. Farias, mas também outros
desmandos do governo, inclusive comprometendo a gestão financeira da
ex-primeira dama quando dirigia a Legião Brasileira de Assistência.
Juntando
a situação difícil da política econômico-financeira do
presidente com as notícias de que, na Casa de Dinda, mansão
particular do da família Collor, havia práticas de ritual macabro,
com magia negra e sacrifício de animais, do qual, segundo se
noticiou e mesmo foi confirmado agora pela ex-primeira dama Rosane
Collor, participava o próprio presidente, o quadro da situação do
Chefe da nação se complicou cada vez mais, ao ponto de a Câmara
federal e o Senado chegarem a um impasse que nenhum presidente eleito
desejaria para sua carreira país: o pedido de impeachment de Collor.
Collor
ainda tentou reunir forças que, segundo ele, poderiam impedir a sua
renúncia: o povo que o elegeu. A este pediu que saíssem à rua e
desfraldasse algo que simbolizasse as cores da bandeira brasileira.
Isso não aconteceu: o que se deu foi o inverso. A população foi às
ruas não para apoiá-lo, mas para pedir a sua saída do poder.Era a
resposta do movimento denominado “caras-pintadas” exigindo a
saída de Collor, com mensagens do tipo “Fora, Collor.”
Acuado por todos os lados, o presidente se viu derrotado por ambas as partes: das instituições políticas e da sociedade civil. Não teve tampouco o apoio das Forças Armadas, com as quais, em alguns momentos pôde exibir-se, usando de uniforme militar, mostrando sua coragem e sua disposição de fazer voos com oficiais da Força Aérea. Queria dar o exemplo de um presidente identificado com a liderança de seu cargo e sua posição de Comandante-Chefe das Forças Armadas. Ficou sozinho, teve que capitular. Assinou o documento oficial de sua renúncia. Saiu do Palácio acompanhado da primeira dama do país. Seu andar firme, esbelto, marcial parecia exteriormente estar certo de que saía do alta função pela injustiça dos homens e das estruturas que formam o Poder numa democracia.
Anos mais tarde, ou seja, agora, está cumprindo, pelo voto popular, um mandato de senador da República. As decepções de seu governo, de sua vida particular, seu futuro parecem ainda acenar para as sombras hamletianas do passado, por muitas formas sinistro, misterioso e trágico.
Só Deus sabe o que, com as declarações da ex-dama e com a publicação futura de um livro sobre o seu relacionamento com o ex-presidente, poderá sobrevir. Entretanto, não são nada confortáveis para a biografia do ex-presidente as afirmações da entrevista, sobretudo quando Rosana Collor fala em ameaça de que algo possa de ruim lhe acontecer. Ela já declarou que, caso isso ocorra, o maior responsável será o “grande amor de sua vida.”
Acuado por todos os lados, o presidente se viu derrotado por ambas as partes: das instituições políticas e da sociedade civil. Não teve tampouco o apoio das Forças Armadas, com as quais, em alguns momentos pôde exibir-se, usando de uniforme militar, mostrando sua coragem e sua disposição de fazer voos com oficiais da Força Aérea. Queria dar o exemplo de um presidente identificado com a liderança de seu cargo e sua posição de Comandante-Chefe das Forças Armadas. Ficou sozinho, teve que capitular. Assinou o documento oficial de sua renúncia. Saiu do Palácio acompanhado da primeira dama do país. Seu andar firme, esbelto, marcial parecia exteriormente estar certo de que saía do alta função pela injustiça dos homens e das estruturas que formam o Poder numa democracia.
Anos mais tarde, ou seja, agora, está cumprindo, pelo voto popular, um mandato de senador da República. As decepções de seu governo, de sua vida particular, seu futuro parecem ainda acenar para as sombras hamletianas do passado, por muitas formas sinistro, misterioso e trágico.
Só Deus sabe o que, com as declarações da ex-dama e com a publicação futura de um livro sobre o seu relacionamento com o ex-presidente, poderá sobrevir. Entretanto, não são nada confortáveis para a biografia do ex-presidente as afirmações da entrevista, sobretudo quando Rosana Collor fala em ameaça de que algo possa de ruim lhe acontecer. Ela já declarou que, caso isso ocorra, o maior responsável será o “grande amor de sua vida.”
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