22 de agosto Diário Incontínuo
OS VÁRIOS CAMINHOS DA VIDA
Elmar Carvalho
O José Francisco Marques, competente professor de
Inglês, falou-me que passara, como exercício, uma breve redação a
ser desenvolvida pelos seus jovens alunos, a qual deveria ser
ambientada nos Estados Unidos. Um dos seus discípulos, no decorrer
de seu trabalho, perguntou-lhe como deveriam ser escritas as
palavras Manhattan e Massachusetts. Evidentemente, o dedicado mestre
sabia escrevê-las, mas preferiu responder com uma pergunta/sugestão:
– Jovem, por que não você não substitui essas
palavras por outras, que você não teria dificuldade em escrever
corretamente, como Arizona ou Los Angeles, por exemplo?
O que o Zé Francisco pretendia era fazer o jovem
raciocinar, à procura de melhor solução para as suas dificuldades.
Eu mesmo, quando escrevo, e encontro uma dificuldade gramatical,
procuro resolvê-la dando uma nova construção à frase ou
empregando um sinônimo, ou usando um outro artifício qualquer, para
driblar as armadilhas de nossa lodosa Língua Portuguesa. Os
estudiosos recorrem aos livros de Gramática. Como nem sempre tenho
tempo ou disposição para esses exercícios filológicos e
gramaticais, dou a solução que entendo mais rápida e mais fácil,
mas de natureza prática e eficaz.
Advertiu o poeta espanhol António Machado: “caminhante,
não há caminho, / faz-se caminho ao andar”. Ferreira Gullar
endossou essas palavras ao lapidar estes versos: “Caminhos não há
/ Mas os pés na grama / os inventarão”. Creio que os dois vates
estejam certos, seja numa interpretação literal ou metafórica. No
início, havia a floresta com as suas árvores, arbustos e ervas, com
os seus mistérios e medos, mas o homem, esse eterno caminhante e
desbravador, foi tecendo os caminhos, e depois as estradas – reais
ou republicanas, irreais ou não.
Desde cedo, conheci os símbolos extraídos dos
caminhos, tanto os que nos levam ao nosso destino geográfico, como
os que nos conduzem à consecução de nossos desideratos. Perdi-me
em alguns, reencontrei-me em outros. Há os caminhos longos, cheios
de curvas e beleza, sem ladeiras íngremes, sem precipícios e sem
pedregulhos. Há os atalhos, bem mais curtos, mas cheio de escarpas,
atoleiros, torrentes e obstáculos, como pedras e ervas daninhas.
Alguns, por vocação ou por pressa, preferem os caminhos mais
curtos, embora com os seus perigos e ciladas.
Outros, os cautelosos e medrosos, escolhem os caminhos
mais longos, porém mais seguros. Sabe-se que a linha reta determina
a menor distância. Contudo, em íngremes encostas, nem sempre é
possível construir-se os retos caminhos. Muitas vezes a estrada reta
requer altos gastos, com a construção de pontes imensas sobre rios
e abismos. Os atalhos, quase sempre, são repletos de urtigas e
outras ervas daninhas e espinhentas, que nos dilaceram a carne. E nos
cegam, como a beleza e o inebriante cheiro da rosa cegam os incautos
e os tolos.
Às vezes nos perdemos nas encruzilhadas de nossos
caminhos e escolhas. Muitas vezes a estrada larga, reta, sem ladeiras
é a estrada da perdição, é a estrada que leva o caminhante direto
ao inferno. Assim como uma moeda tem duas faces, o nosso itinerário
poderá ter vários caminhos. Os atalhos, com os seus perigos,
escarpas e precipícios; os caminhos longos, com a sua segurança e
conforto. Cabe-nos a escolha, tomada, muitas vezes, de forma
impulsiva, precipitada, em função de nosso desejo mais imediato, ou
tomada de forma reflexiva, ponderada, em que se leva em conta os
resultados a longo prazo.
A escolha de nossos caminhos é feita, claro, em função
de nossos desejos, e estes podem ser egoísticos e perigosos. Os
caminhos podem ser como os djins ou gênios das lendas árabes,
cheios de falácias e vantagens enganosas. Atendem os desejos de
forma distorcida, traiçoeira, malévola. A uma bela mulher que disse
desejar a beleza eterna, o gênio a transformou numa estátua. Assim
podem ser os caminhos. Muitas vezes o mais belo pode esconder um
terreno pantanoso ou traiçoeiras areias movediças. Tenhamos, pois,
cuidado com as nossas escolhas e com os nossos caminhos.
Assistindo a um filme, ouvi a expressão: "a estrada da perdição é aquela que pavimentamos..."
ResponderExcluirFelisardo.
É... tenhamos cuidado com as nossas escolhas e com os nossos caminhos. Só que não é tão fácil assim fazermos escolhas... as nossas escolhas hoje, podem não nos satisfazer amanhã. E mesmo satisfazendo a gente as vezes fica a pensar se a outra escolha teria sido melhor. Mas a vida é assim, você não tem nunca como saber, o melhor é realmente ter cuidado, ponderar bem, escolher e seguir em frente, contornando qualquer obstáculo que possa surgir.
ResponderExcluirEstá corbertíssima de razão, eis que senão, por razão desconhecida dos simples mortais, o grande mestre - Jesus Cristo - tivera problemas com uma de suas escolhas, quando fora traído por conta de um vil punhado de moedas...
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