Acidente sofrido por Elmar Carvalho, através da charge de Fernando di Castro, grande amigo, grande arquiteto e igualmente grande chargista |
Foto meramente ilustrativa |
12 de setembro Diário Incontínuo
DESASTRE AUTOMOBILÍSTICO E OUTROS PERCALÇOS
Elmar Carvalho
Na segunda-feira, cedo da manhã, vinha eu para esta
cidade de Regeneração, contente da vida, pela vida em si mesma, por
estar gozando de boa saúde, e por ter o meu trabalho, em que procuro
resolver, da melhor forma que me é possível, sem formalismos
desnecessários, como é do meu estilo, os problemas dos outros,
trafegando pela BR 316, quando, na altura do km 9, depois de ter
passado pela chamada rodoviária dos pobres, ouvi um forte estrondo,
como se algo houvesse explodido. Após o impacto, que houve, mas que
não recordo ter sentido de imediato, vi a frente de minha picape
colada na traseira de um automóvel.
Atordoado, fiquei tentando imaginar o que teria
acontecido. Concentrei-me no objetivo de ficar calmo, para conversar
com o motorista que eu aparentemente havia prejudicado. Imaginei que
eu poderia ter sofrido um rápido desmaio ou vertigem, e por isso
teria atingido o carro alheio. Vi do lado de fora um rapaz que
tentava fazer contato comigo. Perguntou se eu estava bem. Respondi
afirmativamente. Tentei sair pela porta da esquerda, mas percebi que
ela fora danificada, e por isso travara.
Saí pela porta da direita. Foi, então, que percebi o
que efetivamente acontecera. Um ônibus prateado atingira com
violência a traseira de minha picape, e fizera com que ela colidisse
com o bagageiro do carro da frente, tendo este, por sua vez, batido
no automóvel seguinte. Logo, éramos três vítimas de um motorista
imprudente e talvez imperito. Vimos que, de perto do ônibus, ele
falava ao celular, provavelmente com o seu patrão. Achamos que
jamais iria fugir, uma vez que não houvera vítima fatal, nem ao
menos em estado grave. Mas o fato é que ele fugiu, talvez por não
ter habilitação, ou ao menos no nível exigido para condução de
ônibus.
Ficamos, os três prejudicados, a trocar ideias sobre a
situação, enquanto aguardávamos ajuda e a chegada da Polícia
Rodoviária Federal, para fazer os trabalhos periciais. Uma viatura
do sistema penitenciário parou, por um breve momento, tendo alguns
dos agentes me reconhecido. Pedimos que eles dessem a notícia da
ocorrência no Posto da Polícia Rodoviária, o que eles prometeram
fazer.
De fato, alguns minutos depois uma viatura da PRF
chegou. Como eu era a vítima, cujo carro sofrera maiores danos,
perguntaram-me se eu estava bem, se não precisava ir para um
hospital. Respondi-lhes que fisicamente pouco sofrera, a não ser uma
leve e quase imperceptível escoriação, creio que provocada pelo
cinto de segurança, que certamente, além da graça de Deus, evitou
que eu sofresse algum mal maior.
Um homem se apresentou como sendo o dono do ônibus.
Quando falamos dos prejuízos, eu e a moça do carro da frente, que
exercia o cargo de farmacêutica em Monsenhor Gil, dissemos-lhe que
tínhamos seguro. Devo confessar, mas espero estar enganado, que não
senti firmeza no proprietário em resolver os prejuízos que
suportaremos, mesmo com o seguro, porquanto nada ele falou de
concreto, mas apenas através de evasivas e palavras vazias, ditas de
má vontade e sem ânimo de resolver os problemas causados pelo seu
empregado.
Com efeito, chegou ele ao ponto de nos dizer que já
respondera a processo, e que isso durara onze anos, como se estivesse
a sugerir que era melhor não procurarmos a Justiça. Ora, isso não
era coisa apropriada para ele falar naquele momento. Depois, de forma
também inoportuna, disse que o estrago em meu carro só não fora
maior porque o seu ônibus era de alumínio, e não de ferro. Fiquei
com a ligeira impressão de que ele estava insinuando que eu poderia
até ter morrido, se o ônibus dele fosse um brutamontes todo de
ferro maciço.
O prejuízo psicológico que essa brutal colisão me
causou sem dúvida vai perdurar por algum tempo. Os transtornos e
prejuízos financeiros com a falta e o conserto de meu carro terei
que suportar de imediato, pois o dono do ônibus nada falou a esse
respeito, a não ser do seu processo judicial de onze anos, pelo qual
não tenho a menor culpa. O tempo que desperdicei e ainda
desperdiçarei por causa desse acidente, também parece que não lhe
diz respeito. E muito menos os percalços burocráticos e mecânicos
para ter a minha picape de volta, que era nova e estava em perfeito
estado.
De há muitos anos, talvez mesmo desde sempre, já venho
praticando a chamada direção defensiva. Muito, mas muito raramente
passo dos 100 Km por hora. Sempre mantenho a distância regulamentar
de quem vai à minha frente. Facilito a ultrapassagem dos
“apressadinhos”, diminuindo a minha velocidade. Se necessário,
vou para o acostamento, quando um imprudente e precipitado, vindo em
sentido contrário, faz uma ultrapassagem indevida. Tento ser
defensivo em relação a quem vem atrás, evitando freadas bruscas.
Entretanto, ser defensivo em relação a quem praticamente joga o seu
veículo contra o que dirigimos, já é uma missão impossível, ou
quase, ao menos em diversas circunstâncias.
Tive o conforto de ter ficado a meu lado o nobre Juiz de
Direito Manoel Moraes, que passou pelo local logo depois do desastre,
e ficou comigo, prestando auxílio e solidariedade, até quando
chegaram minha mulher e minha filha. Teve a iniciativa de ligar para
minha comarca, para noticiar o fato e justificar o meu atraso. É ele
um magistrado digno, humano, que pratica a bondade e a caridade, sem
empáfia e sem bazófia, e isso eu comprovei nesse percalço de minha
vida.
Agradeço a Deus por estar vivo e ileso. Sou grato a
todos que externaram a sua solidariedade e as suas palavras de
estímulo, por telefone ou por e-mail. Termino com o ditado popular,
que diz que é melhor irem-se os anéis, desde que fiquem os dedos.
Estou bem, e tenho tudo de que necessito. Hoje mesmo, já trabalhei
com alegria e bom ânimo.
Meu caro Mestre,
ResponderExcluirFiquei sabendo do seu acidente na manhã seguinte do ocorrido, quando em um breve momento de folga consultei o meu msn. De início fiquei naturalmente chocado mas com o desenrolar de suas explicações pude perceber que nada de sério lhe acontecera naquele percalço. Sou testemunha e endosso todas as suas explicações quanto seu cuidado ao volante. Infelizmente no "frio" trânsito essa prática não nos impede de sermos vítimas pois do outro lado há os maus profissionais dessa área comentada. Pude notar que mesmo sendo vítima de um acentuado prejuízo financeiro mantem a sua serenidade e amor a causa. Ficamos assim na condição de amigos a dever mais essa ao Nosso Criador Maior, ao qual no momento reintero meus mais calorosos protestos de agradecimento. Fique em paz meu amigo e que Deus possa sempre protegê-lo.
Assistindo, ontem, ao programa Pergunte e Responderemos, da TV Canção Nova, pertencente à Igreja Católica, e cujo apresentador é um certo Prof. Aquino, docente de Física, mas também profundo conhecedor das Escrituras Sagradas, ouvi sua resposta à pergunta de um telespectador sobre horas certas para nascer e morrer. Explicou, então, que não é bem como muita gente supõe. Não há uma determinação divina de quando essas coisas devem acontecer. Mas dependem das próprias pessoas. Exemplificando, homem e mulher se conhecem por circunstâncias naturais, nada de sobrenaturais, são envolvidos pelo amor, gerando disso uma terceira pessoa. Por outro lado, alguém negligencia na sua maneira de conduzir a vida, do que decorrerá sua morte, digamos até antes do tempo em que ela deveria ocorrer. Tudo sem a dita predestinação, algo como já escrito nos altos céus. Em outras palavras, foi o que o Prof. Aquino quis expressar aos atendos telespectadores, como eu, e especialmente a quem lhe dirigiu essa pergunta. No seu caso, caro Zé Elmar, é como disse na bem elaborada crônica, isto é, prima por conduzir seu veículo na conformidade da regulamentação de trânsito, que se fundamenta no bom senso. E, apesar da imprudência ou da inaptidão do motorista do ônibus, você saiu ileso, ou quase isso, no acidente. Em face do impacto forte do ônibus na traseira da picape, mas como você não exagerava na velocidade, a colisão com o automóvel que seguia à sua frente foi crucial para que não sofresse maiores danos físicos, ou, quem sabe, Deus nos livre, a partida definitiva. Esta não estava predeterminada para aquele dia; seus cuidados é que o salvaram. Vida longa ao amigo!
ResponderExcluirCaros amigos Zé Francisco e Zé Miranda,
ResponderExcluirgraças a Deus saí ileso. Escrevi a crônica para socializar a minha experiência; para que ela possa servir de exemplo e advertência. Vivemos tempos difíceis. No trânsito, temos excesso de veículos e também motoristas cada vez mais apressados e refratários ao bom-senso e às leis de trânsito. Devemos sempre praticar a direção defensiva, mas mesmo isso não nos livra dos afoitos, dos imprudentes e dos imperitos.
Caro poeta. Li sua crônica. Sei que vc jamais tem pressa. Como um bom poeta observador, sorve a vida minuto a minuto dela tirando tudo que pode, inclusive os maus momentos como esse que passou, mas que foi minuciosamente descrito. Graças a Deus que vc nada sofreu.
ResponderExcluirMas aproveitei para me deliciar com a poesia "eterno retorno" que vinha transcrita logo abaixo da crônica. Apesar de ela ser de 1994, não me lembro de a ter lido em algum dos seus livros que li.
Maravilhosa.
Orgulho-me de ser seu amigo.
Grande abraço.
Edison Rogério
A notícia desse acidente deixou-me abalado, apenas reconfortando-me o atenuante da não gravidade que em seguida tive informações. Vida longa ao Poeta, é o que eu sinceramente desejo.
ResponderExcluirFelisardo.
Elmar, vc deve ter notado (penso) que andei meio afastado, mas isso aconteceu por conta do nosso trabalho, que as vezes nos sufoca. Vi aqui a noticia do acidente, e fico feliz que nada tenha lhe acontecido. Espero que vc veja esse comentário, pois estou indo amanhã pra minha querida Barra Grande, e logo dia 27 chegarão NECO, ZECA, LUIS, RAQUEL e VANDERLITA, todos meus irmãos, para dia 28 comermos um caranguejo e tomarmos aquela gelada. Isso aqui é um convite, caso V.Exa., esteja por aquelas bandas. Abs Jonas Fontenele
ResponderExcluirElmar, só pra lhe atualizar, o hotmail bloqueou meu antigo email, por achar que havia pessoas uitlizando-se dele de forma inadequada. Meu email agora é jonasadvfontenele@hotmail.com ou jonasfontenele@terra.com.br ou jonasfontenele@r7.com
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