Fonseca
Neto
Diz
o “benjamim” da Academia Piauiense de Letras, Homero Ferreira
Castelo Branco Neto, apreciar, particularmente, as conversas que
rolam, no “cisco”, ao final das sessões plenárias desse
sodalício. E são mesmo das melhores –claro, as conversas rituais
são também muito prazerosas. Aqui uma delas que repasso com muita
satisfação.
No
“cisco” de sábado, 5, disse-me o professor e acadêmico Celso
Barros Coelho, com satisfação incontida, que começara a escrever
usando o computador – “e já estou começando a escrever as
memórias de minha vida política”. Chamei o companheiro acadêmico
Zózimo Tavares Mendes para saber da novidade e partilhar a conversa.
Muitas vezes instiguei mestre Celso a tentar a façanha, sabedor ser
ele um bom datilógrafo. E calhou a compreensivelmente discreta
sugestão das “memórias”.
Mas
o que teria de tão impactante nisso?
Muito.
Primeiro, relembro que ele é um notável advogado e professor de
Direito, titular da Ufpi, fonte viva de saber jurídico, com a
qualidade de jurista, pois intelectual firmemente lastreado nas
indispensáveis referências da História e da Filosofia, assim das
chamadas Humanidades ou Ciências Humanas e Sociais em sentido amplo.
Além de orador de largos recursos é escritor com várias obras
publicadas e sabe-se lá as milhares de folhas em matéria
jurídico-peticional e memorial que já manuscreveu ou datilografou
para o aconchego dos autos forenses; ultimamente, ditando para suas
atentíssimas secretárias-digitadoras no PC. Aí está: Celso não
havia “caído nas graças” dessa máquina colossal e de seu
editor de textos, que ajuda escrever aos que não sabem, imagine-se o
quanto potencializa o ato escritural de ases da palavra e da própria
escrita, tal ele é. Em segundo lugar, diante da pergunta – “por
que não o fizera, antes?” – vale assinalar que ele tem 91 anos
de idade e não é fácil um ser humano ultrapassar tantas barreiras
culturais/atitudinais diante de certas e radicais novidades, tal
essa, significada no computador e aparato tecnológico de seus
aplicativos. Superação formidável que motiva esta celebração,
dele, e dos que queremos continuar lendo o que ele tem a dizer pela
escrita.
Conhecendo-o
– pois fui seu aluno de Direito Civil há mais de três décadas no
curso de Direito da Ufpi, além do contato acadêmico –, acredito
que isso é mais um sinal de seu labor incansável em prol das
grandes causas que enredam o ser humano e, claro, grande amor à
vida, que para ele deve caminhar sob o imperativo da realização do
Justo. Prova de que, para ele, aos 91, “a vida começa amanhã”,
tal lembra um antigo pároco de sua Pastos Bons natal.
Como
disse, escrevendo na luz da telinha de cristal líquido, as
cintilações “tel/úricas” logo o convidaram a escrever suas
lembranças e começou pela vontade de praticar o registro de algo
que o apaixona, além do Direito –a militância política. Tem o
que contar, do que muito dará o que falar. Mas somado a ele na
condição de nossa sertanidade comum, e também com aquele pensar de
que “o tempo não para”, renovei-lhe o apelo para nos contar
também do seu nascimento e da aldeia que o assistiu: da infância
nos sertões onde há serras que pingam; de como a vida operou seus
rumos desde Pastos Bons; de Colinas, a antiga Picos, onde “inaugurou”
o colégio João Pessoa, o pai um vareiro municipal no Itapecuru, na
prefeitura de “Cravo” Reis, seu tio-afim. Quanto será instrutivo
contar de como seguiu para a jovem cidade de Benedito Leite e dela
passou a Uruçuí, no Piauí, de onde desceu para o Seminário
diocesano, em Teresina; o magistério...
Agora
que, qual um renascido no prazer essencial, mais uma vez descobre os
encantos delas e se entrega a essa diva iluminada de nossa era,
onírica, que conte também como, naquelas vizinhanças dos Fortes
pastobonenses, ainda nos cueiros, dado como “anjo”, envolvido nos
paninhos do enterro, “ressuscitou” para ser sujeito pleno de suas
nove décadas e quase dois anos de vida e exemplo.
Aguardamos,
doutor. Afinal, como disse o nosso padre Vicente Britto, ao dobrar a
esquina dos 80, “a vida começa amanhã”: Vicente, no Itacor, a
quem dedico estas lembranças.
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