Promessa
Vã
Martins
Vieira (1905 - 1984)
O Céu finge que ri; depois, fecha a
carranca:
irado, amarfanhando o punho — a renda
branca,
disfarça num muxoxo um fuzilar de raio.
O Sol se inclina mais, olhando de
soslaio,
e, ouvindo o rataplã dos bombos do
infinito,
oculta-se, a fugir, qual um Astro
proscrito.
Na cúpula central da Sé da Eternidade
bimbalham carrilhões. Desaba a
tempestade.
Mil raios a silvar, cor de aço,
coruscantes,
soprando um pleno espaço os cebês
trovejantes,
parecem pentear as crinas encrespadas
dos negros esquadrões das nuvens
rebeladas.
Vêm elas a rugir. Um furacão
sacode-as;
matracam mil trovões, fantásticas
rapsódias
por entre o fuzilar de estranhos
azorragues:
são raios cor de prata ardendo em
ziguezagues,
avisos de Tupã, mostrando Tudo ou Nada
a força sem matéria, à frente da
lufada! ...
Começa o crepitar de roucos alaridos,
metálicos, febris, soluços mal
sustidos
uivando em derredor. Um arrastar de
pesos
no sótão da amplidão vem sacudir
retesos
os nervos a fremir, que esperam pela
chuva.
Debalde! O Céu se opõe, arremessando
a luva...
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