Fonseca
Neto
Os
franceses, e a Unesco, de modo ampliado, conceituam de “cidade de
arte” os antigos assentamentos que constituem acervos notáveis,
legados da experiência humana em aconchegar-se para inventar o viver
comunal.
“Cidade
de arte” porque seus vestígios exprimem um sentido maior da
engenharia historicamente marcada, culturas caldeadas entre a solidez
do material e as levezas do espiritual. Cidade, porque concreção,
tangibilidade. Arte, porque impulsão estética, leitura na fluidez
da subjetividade.
“Arte”?
É pensar com a sugestão do poeta Fernando, de que ela “existe
porque a vida não basta”. Oeiras é assim e é uma joia rara no
inventário do Patrimônio Histórico brasileiro. É exemplar da
cidadela erguida sobre e com os lajedos fraturados do chão local.
Fraturados em artísticas cantarias angulares para edificar arranjos
de morada, de governo e de produção material. E templos. De perto,
adentrando-na, contemplei o rubor de alegria no rosto de Ariano
Suassuna frente a majestade armorial-sertoa da catedral da Vitória,
erguida por mestres pedreiros, enquanto vaqueiros, antes das barrocas
capelas de Ouro Preto.
Esse
conjunto de elementos, no qual a um só tempo repontam o labor
cultural de gente de longe e os modos de viver da localidade, compõe
um lugar singular e foi há dois anos tombado pelo Iphan, como parte
relevante do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Trata-se
de medida com potencial de grande impacto positivo, parece que ainda
não completamente assimilada como tal, principalmente pela parcela
maior de seus moradores. Nada incomum, todavia, pois outras cidades
igual e anteriormente tombadas conheceram, no começo, idêntica
inassimilação. Depois, as percepções mudam, desde que tombar não
signifique a mortificação do bem objetado e também desde que junto
com a proteção haja medidas concernentes à educação
patrimonial.
Falando
em Educação... Nestes dias, Oeiras está no centro de um debate,
que precisa ser melhor qualificado, sobre a criação de um núcleo
local da Universidade Federal do Piauí. O episódio mais focado no
momento alude a um ofício tratando do assunto, emanado do ministro
da Educação e dirigido ao governador do Piauí. É que a
solicitação encorpa um esforço de vontades conjugadas para vê-la
de pé no menor espaço de tempo possível.
A
Ufpi, autora da proposta e a quem cabe a implementação, encaminha
em ritmo próprio as articulações cabíveis, e segundo o reitor, na
conformidade do tempo adequado à sua devida consecução. No âmbito
interno, sobretudo da colegialidade superior, articula projetos de
cursos; articula, em nível municipal e estadual, notadamente com
políticos mandatários, a aprovação em nível ministerial da
alocação dos recursos financeiros para prover as novas e expandidas
funções. Tem-se por favorável a atual conjuntura em que o governo
vem favorecendo a expansão do ensino público federal para todos os
horizontes e modalidades, tendente à interiorização. A própria
Oeiras é disso um exemplo com um novíssimo Ifpi – Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
Expressam
opinião minoritária, mas, conexas entre si, há duas perguntas:
deve a Ufpi se expandir? Expandir-se para Oeiras? Sim, duplo. A
expansão da Ufpi é uma contingência de sua legitimidade social,
assim como também o é a manutenção, em estado vigoroso, das
atividades que já agregou em sua experiência de mais de quatro
décadas; e Oeiras deve ter outro campus federal, porque é uma
urbs-arte centrípeta, referência de mais de uma dezena de
municipalidades historicamente conjugadas, com populações que
precisam engendrar a vida sem incorrer na perversão das diásporas
que atormentam sobretudo os jovens.
Não
se deve, porém, tomar nada disso como, a priori, inexorável.
Promova a Ufpi sua expansão, qualificando-a com bons estudos e
projetos, por exemplo, sobre que novos cursos essas microrregiões e
o próprio Piauí precisam para um futuro de grandeza. No caso de
Oeiras, que cursos universitários devem ser ali ofertados? Num mundo
tão antigo e numa cidade secular, é fundamental trazer para ela
significativas novidades em termos de formação superior. E qualquer
estudo sobre potenciais campos de trabalho logo mostrará que não se
deve, por exemplo, intentar cursos que a Uespi possidônia já
ofereça, ali, ou em Floriano, Picos e Valença.
Membro
dos conselhos universitários da Ufpi e da Uespi, assim vemos e assim
apoiamos a novidade.
Demais!
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