FACTUS EST
H.
Dobal (1927 - 2008)
O que fez
o verão também fez
esta água
parada água de mal viver.
Fez o dia
de cacto e macambira, o dia de sono e sol
sobre a
sombra dos pequizeiros. Fez a luz nos olhos
das onças
pretas. Os bichos bravos
pisando
macio nas folhas secas. As passadas fundas
na areia
das trilhas
onde os
comboios de jumentos
levaram
suas cargas
de
carne-seca, farinha e rapadura.
O que fez
da vida a selva escondida nos troncos
sob o sol.
Fez os olhos da pedra
que vence
os verões. Fez as palhas da carnaúba
e as águas
cortadas
águas
mornas
água de
barro
água de
cacimba
que a sede
não refuga.
O que
parou as águas fez irreal este silêncio
dos
chapadões. Fez os bichos obstinados
de sol e
de poeira: as cabras as formigas
os cupins
o homem sóbrio
e os seus
dias de mal viver.
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