Perfil
de um piauiense construtivo
Des.
Valério Chaves (*)
O
cenário histórico e cultural do Piauí apresenta muitas
personalidades de fulgurante valor intelectual que, embora tenham
alcançado projeção além das fronteiras piauienses, jamais tiveram
oportunidade de serem cultivadas como referencial do saber nas áreas
da política, das letras jurídicas e outros ramos do conhecimento às
novas gerações.
Dentre muitos outros, vale destacar: Elias
de Oliveira e Silva, João Crisóstomo da Rocha Cabral, Joaquim de
Souza Neto, José Burlamaqui Auto de Abreu, Cristino Couto Castelo
Branco, Esmaragado de Freitas e Sousa, Higino Cicero da Cunha e Luísa
Amélia de Queiroz Brandão.
O primeiro, Elias de Oliveira e
Silva, foi lembrado em 2008 pelas faculdades Chrisfapi através de
justa homenagem, dando o seu nome ao Anexo do Juizado Especial Cível
e Criminal da cidade de Piripiri.
A vida dos homens, como
sabemos, constrói-se mostrando o tempo e a sua oferenda, numa imagem
de valores e de conquistas, tecendo o fio invisível de cada
instante, assentando-se na rotina do trabalho em torno do qual se
edifica e enaltece o cenário grandioso da vida e a humanidade
cresce.
E foi, sem dúvida, nesse cenário de vida
profissional que Elias de Oliveira e Silva deixou-se tentar por quase
todas as maneiras de expressão que a ciência e a arte colocam a
serviço das ideias. Brilhou e resplandeceu em todos os setores que
estiveram ao seu alcance, principalmente na magistratura piauiense,
na política, na advocacia, nas letras jurídicas e no
jornalismo.
Reportando-se sobre os homens que iluminam, o
Desembargador Cristino Castelo Branco, citado pelo jurista e escritor
Celso Barros Coelho, em seu livro “Homens de Ideias e de Ação”
- 1991, pág. 20), lembra que na história dos homens que iluminam há
um rastro de luz que lhes aclara os caminhos. Eles brilham por si
mesmos, como estrelas”.
Por sua vez, o professor e
pesquisador Arimathéa Tito Filho, escrevendo no Jornal do Piauí,
edição do dia 25.06.1972, ao ressaltar a atuação do advogado
Elias de Oliveira e Silva, deu o seguinte destaque: “Na tribuna do
júri, celebrado de aplausos, argumentador seguro, dominava a
plateia, os jurados, terror da acusação quando se encontrava na
defesa, terror da defesa quando auxiliava a acusação. Palavra
fácil, correta, por vezes, irônica, sustentava conceitos graves com
que se revelou grande estudioso da ciência penal”.
Elias de
Oliveira e Silva nasceu em Teresina em 15.02.1897, filho de José
Antônio da Silva e Luiza Amélia de Oliveira e Silva.
Bacharelou-se
em Letras em 1913 e em Direito (1919) em Fortaleza-CE. No mesmo ano
exerceu a Promotoria Pública em Teresina onde também lecionou
Psicologia, Lógica e História da Filosofia, no Liceu Piauiense, na
Escola Normal e na Faculdade de Direito.
Além do magistério,
foi Juiz Distrital em Batalha e de Direito em Piracuruca, exercendo
depois a advocacia e o jornalismo.
Pertenceu à Academia
Piauiense de Letras, da qual foi sócio fundador, em 1917, ocupando a
cadeira nº 28 que teve como patrona a poetisa piracuruquense Luiza
Amélia de Queiroz Brandão.
Ao submeter-se a concurso para a
cadeira de Direito Penal, elaborou a arrojada tese “Criminologia
das Multidões”, reeditada pela Editora Saraiva, com prefácio do
ministro Bento de Farias.
Regressando a Teresina tentou, sem
sucesso, uma cadeira de Deputado Federal. Desiludido com a política,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve destacada atuação nos
meios forenses. Depois, a convite do filho Eduardo Elias, passou a
residir em Brasília sendo advogado do governo do Distrito Federal,
atuando ainda nas lides forenses, mercê de sua sólida cultura
jurídica.
Com a redefinição constitucional do País,
retornou ao Piauí, estabelecendo-se em sua fazenda Aroeira, em
Piripiri, passando a fabricar cachaça e rapadura.
No campo
das letras publicou importantes obras, destacando-se dentre outras:
Ideias do Direito na Filosofia Helênica (1919);
Inconstitucionalidade dos Impostos (1920); Crime de Calúnia (1925);
Intervenção Federal nos Estados (1930); Homicídio Culposo (1932);
Crimes contra a Economia Popular (1932); Crime de Incêndio (1934); e
Criminologia das Multidões, estudo que mereceu justificados elogios
da crítica literária nacional e estrangeira.
Com toda essa
fulgurante trajetória jamais lhe faltaram a sabedoria dos homens
adultos, convivendo com a cultura abrangente de autêntico jurista,
sem nunca ter buscado a notoriedade fácil das manchetes.
Os
últimos anos de sua vida foram dedicados à pecuária numa
propriedade no Estado de Goiás, onde faleceu em 15.06.1972 aos
setenta e cinco anos de idade, deixando como legado de sua marcante
personalidade admiráveis exemplos de honradez e honestidade como
magistrado, como escritor e chefe de família.
Oito dias após
o seu falecimento (23.06.1972) o Senado Federal prestou-lhe
expressiva “Homenagem Póstuma”, através do então senador
piauiense e seu ex-aluno, Helvídio Nunes de Barros.
(*)
Valério Chaves Pinto – Desembargador Inativo do TJPI
Nenhum comentário:
Postar um comentário