A
MINHA CAMINHADA COM CRISTO
VIRGÍLIO
QUEIROZ
Cinco
horas, na João XXIII, sigo olhando para os automóveis que parecem
voar. Pessoas de diferentes idades passam sem dizer bom dia e seguem
um caminho que não vai dar em nada. O certo é que há vida indo e
vindo. Sigo cantarolando um tango que nunca aprendi e troco as
palavras. De repente, ao meu lado, surge um homem de cabelos
compridos, corpo atlético, vestido em uma camisa branca (quase
transparente). Ele usa uma barba não muito longa e de uma cor
aproximada dos seus cabelos.
“Bom
dia, Posso caminhar ao seu lado?”. Claro, respondi. Olhei e vi em
seus olhos azuis (ou verdes?) uma serenidade que jamais tinha notado
em um ser humano.
-
Virgílio, hoje o dia está bonito! Aliás, sempre ele é bonito.
-
É sempre quando estamos preparados para vê-lo assim.
-
É. A beleza está em nossos olhos.
-
Eu lhe conheço de algum lugar...
-
Deve conhecer. Eu sei que você me conhece...
-
Olhando bem... não é possível!
-
É possível sim, Virgílio, tudo é possível. Pode acreditar.
-
Cara, você é o Cristo!
-
Tem gente que me chama assim. Outros chamam Nazareno, Messias,
Salvador, Jesus, Elias... (com um leve sorriso no rosto)
-
Eu lhe chamo de Jesus. Acho esse nome lindo.
Ele
sorriu educadamente e continuamos a conversar. Passamos por taxistas,
pessoas velhas ofegantes em decorrência do esforço físico da
caminhada, outros que se abarrotavam em um ônibus em direção ao
emprego. Um amigo, ao qual dei um bom dia, cochichou com outro
colega: “que pena. Esse cara um dia desses era normal, lecionava...
e agora falando sozinho... meu Deus, para alguém ficar doido é
daqui prali”. Jesus sorriu e disse: “você se importa em ser
chamado de louco?”. Respondi-lhe: nem um pingo! Caminhamos não sei
quantos quilômetros e nada de cansaço. Em cada passagem sempre
tinha alguém que me olhava com pena e comentando que os meus
familiares eram irresponsáveis em deixar um homem doente andar
sozinho. Passamos em frente a uma igreja onde havia cartazes de curas
milagrosas, fortunas imediatas, harmonia no lar... Pela primeira vez
eu vi o meu amigo franzir a testa e balançar negativamente a cabeça.
-
Virgílio, você acredita nisso?
-
Não, não acredito.
-
Os vendilhões do templo estão em todas as épocas.
-
É verdade Jesus que você esteve na “cabana”?
-
Você acredita?
-
É possível você está aqui comigo?
-
Valeu, cara! Agora, muitos dizem que estão me vendo, que já me
viram e isso é conversa fiada. Eu apareço, assim, para conversar
com as pessoas, abraçar e dizer que tudo é possível quando se
acredita, quando se tem fé.
Continuamos
conversando e uma senhora idosa, atravessou com dificuldade e abraçou
Jesus, beijando-lhe na face. “Viu, Virgílio, nós não passamos
despercebidos (soltou um leve sorriso). “Mestre, não esqueça da
minha visita” (disse a velhinha). Jesus acenou.
- Jesus,
mostre-me um caminho... que religião devo seguir?
-
Virgílio, eu não tenho religião.
-
Não? Como assim?
-
O homem não precisa de religião para chegar ao Pai. Precisa
praticar bons atos, fazer caridade, amar o próximo...
-
Virgílio, já conversamos bem, tenho que ir.
-
Tão cedo! Temos tanto para conversar... é difícil se ter um amigo
tão inteligente, tão compreensivo... por que você não fica mais
um pouco...
-
Qualquer dia a gente conversa mais. Podemos até tomar um vinho.
Acredite, você é um dos meus.
Não
sei como ele foi embora, que rumo tomou, que estrada seguiu. Voltei
para casa e o sol começou a sair. Nunca tinha me sentido tão bem.
Liguei o som e ouvi o tango que eu nunca aprendi a letra.
adorei o post!
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