VAIAS
À PRESIDENTE DILMA
Jacob
Fortes
Durante
o jogo de abertura da Copa do Mundo realizado no Itaquerão, SP, dia
12 de junho de 2014, viu-se a seleção brasileira ganhar da seleção
da Croácia pelo placar de 3 a 1, apesar do pênalti irreal que o
árbitro encontrou perdido dentro da sua imaginação. Tal
circunstância, porém, não tirou os méritos da seleção
canarinho. Viu-se, também, e ouviu-se entre o vozear da turba de
torcedores, a presidente Dilma ser fortemente apupada e,
principalmente, destratada desabridamente.
Assim
como se tornou banal a violência que grassa pelo país afora, mais
trivial ainda tornaram-se os xingamentos aos árbitros, aos
jogadores, (ainda mais se negros forem) e, agora, a presidente da
República.
Vaias,
tão somente, expressam dissensões compreensíveis nos regimes
democráticos, mas xingos sob a chancela da obscenidade é algo que
fere o pudor, é prática que conspira contra as regras mais
elementares do decoro. Essas cenas pesarosas fazem supor que os
valores e sentimentos humanos vêm se degradando e se diluindo dia a
dia. O episódio, aliás, conhecível da mandatária, enseja algumas
perquirições: por que as pessoas se detêm nessa linguagem de baixo
calão? Onde foram parar as famílias e as escolas que tinham o
condão de modelar o caráter e o decoro da juventude? Por que já
não existem nas escolas os decálogos cívicos? Por que foram
suprimidas do currículo escolar as disciplinas Educação Moral e
Cívica e Organização Social e Política Brasileira? Do que é
feito a escola que fazia a infância frequentar as lições
iniciáticas do catecismo e conhecer os postulados básicos da
religião. Do que é feito a escola que fazia a criança cantar o
Hino Nacional e reverenciar o hasteamento do Pavilhão antes do
início das aulas? Do que é feito a escola que assegurava autoridade
aos professores e conferia-lhes a toga com que podiam increpar os
alunos? Afinal, onde está a raiz desse problema; uma miséria moral,
que não para de crescer, responsável por um sem-fim de condutas
discrepantes (que já não impactam como antigamente) protagonizadas
por brasileiros, sobretudo os que habitam as metrópoles? Por que as
escolas se descuidaram da cidadania, do civismo, da ética e
priorizam devotamente a dimensão cognitiva, o conhecimento, a
qualificação profissional?
Apesar
de reprovável, o governo não pode fingir ignorar o significado do
acintoso gesto de incivilidade: descontentamento de um povo disposto
a externar o seu desgosto em qualquer fórum ou confessionário
inclusive nos estádios. Melhor seria que o povo não precisasse
vaiar, sequer xingar.
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