terça-feira, 30 de setembro de 2014

BIBLIOTECA DE CAMPO MAIOR, PI


BIBLIOTECA DE CAMPO MAIOR, PI

 Jacob Fortes

A Biblioteca Municipal da cidade de Campo Maior encontra-se albergada num pardieiro localizado no cruzamento das ruas Capitão Manoel Oliveira e Santo Antonio, centro velho da cidade. O local, que nos tempos de antanho fora o tradicional palco de oferta e procura de sexo, ainda conserva visíveis traços dos cabarés e casas de tolerância que vigeram naquelas eras.  São os bares circunvizinhos demarcados não apenas pelo bulício de frequentadores que desandam sob os efeitos etílicos, mas também pelo barulho do som eletrônico, mais das vezes melodias de letras desditosas. Há, ainda, a presença de mulheres malfadadas que perambulam desventuradamente pelo local.   O cenário, nada confortante, de causar repugnância aos olhos e entristecer corações, acaba deslustrando o ânimo de quem tenciona recorrer ao acervo da biblioteca. Além de exprimir verdadeira heresia ao livro, o local não honra a comunidade: alunado, corpo docente, moçoilas, rapazolas, senhoras, anciãos, enfim, não confere honras à grandeza do município. Mas isso retrata bem o desprestígio que, progressivamente, encurrala o livro.  Durante as minhas eventuais viagens, de automóvel, sempre que possível faço uma rápida parada nas urbes de maior relevo para uma visitinha à respectiva biblioteca municipal. Via de regra, os acervos dessas bibliotecas tem a mesma marca: o descuido. Todo o acervo aquartelado e maquilado de pó denota que o povo não lê o quanto deveria; inexistem políticas (municipal, estadual e federal) para que os livros se tornem companheiros das pessoas. Quem já teve o condão de maravilhar e ofertar conhecimento apequenou-se ante o surgimento das tecnologias: sedutoras, palatáveis, que oferecem informações em tempo real, mas em linguagem minimalista e superficiais. É a tecnologia sentenciando o escambo: o conhecimento do livro vai, a informação da internet vem.

Ao consignar o fato, pesaroso, exsurge neste escriba a centelha de esperança de que aquele acervo possa ser transladado para local francamente favorável aos seus usuários. O próprio corpo docente municipal também assim há de pretender, mais que isso: exigir. Por mais que se queira relativizar a importância do livro, este será sempre reverenciado, admirado, respeitado e, portanto, digno dos melhores espaços culturais.        

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