BIBLIOTECA DE CAMPO MAIOR, PI
Jacob Fortes
A Biblioteca Municipal da cidade de Campo Maior encontra-se
albergada num pardieiro localizado no cruzamento das ruas Capitão Manoel
Oliveira e Santo Antonio, centro velho da cidade. O local, que nos tempos de
antanho fora o tradicional palco de oferta e procura de sexo, ainda conserva
visíveis traços dos cabarés e casas de tolerância que vigeram naquelas
eras. São os bares circunvizinhos
demarcados não apenas pelo bulício de frequentadores que desandam sob os efeitos
etílicos, mas também pelo barulho do som eletrônico, mais das vezes melodias de
letras desditosas. Há, ainda, a presença de mulheres malfadadas que perambulam
desventuradamente pelo local. O
cenário, nada confortante, de causar repugnância aos olhos e entristecer
corações, acaba deslustrando o ânimo de quem tenciona recorrer ao acervo da
biblioteca. Além de exprimir verdadeira heresia ao livro, o local não honra a
comunidade: alunado, corpo docente, moçoilas, rapazolas, senhoras, anciãos,
enfim, não confere honras à grandeza do município. Mas isso retrata bem o
desprestígio que, progressivamente, encurrala o livro. Durante as minhas eventuais viagens, de
automóvel, sempre que possível faço uma rápida parada nas urbes de maior relevo
para uma visitinha à respectiva biblioteca municipal. Via de regra, os acervos
dessas bibliotecas tem a mesma marca: o descuido. Todo o acervo aquartelado e
maquilado de pó denota que o povo não lê o quanto deveria; inexistem políticas
(municipal, estadual e federal) para que os livros se tornem companheiros das pessoas.
Quem já teve o condão de maravilhar e ofertar conhecimento apequenou-se ante o
surgimento das tecnologias: sedutoras, palatáveis, que oferecem informações em
tempo real, mas em linguagem minimalista e superficiais. É a tecnologia
sentenciando o escambo: o conhecimento do livro vai, a informação da internet
vem.
Ao consignar o fato, pesaroso, exsurge neste escriba a
centelha de esperança de que aquele acervo possa ser transladado para local
francamente favorável aos seus usuários. O próprio corpo docente municipal
também assim há de pretender, mais que isso: exigir. Por mais que se queira
relativizar a importância do livro, este será sempre reverenciado, admirado,
respeitado e, portanto, digno dos melhores espaços culturais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário